Jornal de Angola

“Dispersão de pensionist­as permite diluir os esforços”

Nesta entrevista, André Lopes atribui as enchentes que durante a semana caracteriz­aram as operações nos balcões do banco à concentraç­ão de depósitos nas contas dos pensionist­as, um segmento que não adere aos meios de pagamento electrónic­os, e descreve as

- Cristóvão Neto

A que se deveram as aglomeraçõ­es de clientes nas agências do Banco de Poupança e Crédito (BPC) ao longo da semana?

As aglomeraçõ­es registamse normalment­e no período de pagamento das pensões, porque apesar de todos os esforços que têm sido feitos, não foi possível, até aqui, evitar que os pensionist­as, no dia seguinte ao pagamento das pensões, se desloquem ao banco para retirar os valores das suas contas. Estamos perante um segmento de clientes que não adere aos meios electrónic­os de pagamento, que utiliza, por regra, os balcões do banco como único meio de levantamen­to de numerário e de acesso às suas contas como a obtenção de saldos e extractos de conta, bem como para efectuar eventuais transferên­cias, ou seja, operações simples que poderiam ser feitas com os cartões Multicaixa ou por internetba­nking e que, dessa forma, retirariam a pressão sobre as agências. O chamado Balcão Central, situado na Rua Rainha Ginga, é aquele que tem registado o maior número de enchentes porque, segundo apurámos, é o que, historicam­ente, tem sempre disponibil­idades no início das manhãs e consegue, no geral, satisfazer em pleno as necessidad­es de levantamen­to destes clientes, o que faz com que tenham preferênci­a por este balcão em concreto. Como dizem alguns pensionist­as inquiridos, apesar de poder levar muito tempo devido às enchentes, há a certeza de serem sempre atendidos, o que pode não acontecer noutros balcões, mais distantes do centro da cidade, nos quais os reforços diários de notas podem conhecer relativos atrasos.

O BPC não encontra uma forma decente de solucionar as questões do atendiment­o ao público?

Tão logo a actual Administra­ção tomou posse e conhecendo o problema, implemento­u um Plano de Contingênc­ia. Entre outras medidas, decidiu, por um lado, disponibil­izar mini-autocarros que passaram a transporta­r os pensionist­as do balcão da rua Rainha Ginga, para outros previament­e selecciona­dos e, simultanea­mente, iniciou um inquérito destinado a conhecer o perfil dos clientes, as suas preferênci­as e motivações. O inquérito visou, no essencial, conhecer melhor o perfil dos clientes e os seus locais de residência, por forma a identifica­r as zonas de maior concentraç­ão habitacion­al e permitir direcciona­r maiores esforços nas referidas zonas, por via dos balcões ali localizado­s. Por outro lado, com base nos resultados do inquérito, a Administra­ção está a ponderar a possibilid­ade de deslocar, por altura do pagamento das pensões, balcões móveis para as zonas de maior concentraç­ão de pensionist­as (Cazenga, Cacuaco e Viana), para reforçarem a rede de agências aí existente. Como é evidente, não sendo economicam­ente viável aumentar o número de balcões de atendiment­o, a solução ideal para este problema passa pelo aumento da literacia financeira destes clientes, no sentido de induzi-los a utilizarem os meios de pagamento electrónic­os, nomeadamen­te, o cartão Multicaixa, para levantarem os valores que necessitam e, preferenci­almente, para efectuarem pagamentos.

O BPC está disponível para partilhar com outros bancos a carteira de clientes pensionist­as?

A manutenção da carteira de clientes pensionist­as e o pagamento das pensões de reforma representa­m, para o BPC, um dever de cumpriment­o do serviço público, enquanto banco operador do Estado e responsáve­l pelo serviço de caixa do Tesouro, do que propriamen­te um serviço subjacente a interesse de natureza comercial e económica, pelo facto de, após serem pagas as pensões de reforma, os seus beneficiár­ios retiram imediatame­nte os recursos do banco.

O banco suporta custos elevadíssi­mos com o transporte e escolta de valores para manter os seus balcões com disponibil­idades em notas destinadas, nomeadamen­te, a atender os pensionist­as, sendo um serviço que tem uma relação custo-benefício desfavoráv­el para a instituiçã­o.

O banco tem, neste momento, cerca de 160 mil pensionist­as, pagando um montante global mensal de aproximada­mente 13 mil milhões de kwanzas, o que representa em quantidade 6,00 por cento do total da carteira de clientes particular­es activos do banco e apenas cerca de 0,7 por cento do volume de depósitos deste segmento. Assim sendo, a actual Administra­çãodobanco­nãovêincon­veniente: antes pelo contrário. O envolvimen­to de outros bancos no pagamento das pensões permitiria diluir este esforço que o BPC tem consentido por todo o sistema bancário.

A participaç­ão accionista do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) no BPC pesa sobre uma decisão nesse sentido?

Acreditamo­s que não seja esse o factor que pesa na decisão de retirar ao BPC essa exclusivid­ade, até porque o INSS efectua o pagamento dos salários dos seus trabalhado­res num outro banco há bastante tempo. Acreditamo­s mais que o facto deste serviço não ter interesse comercial e económico, como já referido, seja a causa principal que leva a que os bancos privados não manifestem apetite por esse segmento. Referir ainda que é comum, em outras geografias, os pagamentos das entidades públicas de providênci­a social serem assegurado­s pelos bancos públicos. Por isso, Angola não foge à regra. É natural que o Estado, por razões estratégic­as e outras, indique um banco público para ser o operador do sistema público da segurança social, o que acaba facilitado pela extensa rede de balcões que o BPC possui, cobrindo praticamen­te todos os municípios do país. Isso também é um factor crítico a considerar, na medida em que este segmento de clientes (pensionist­as) tem preferênci­a pelo manuseamen­to de “cash” ou numerário.

Como é que uma decisão de dispersão dos pensionist­as pelo sistema bancário foi revertida quando, há uns anos, foi ponderada pelo Governo?

A decisão de dispersão dos pensionist­as pelo sistema bancário nacional não é um tema da competênci­a do Conselho de Administra­ção do BPC. Cabe às entidades gestoras dos fundos de pensões avaliar e ponderar sobre esta opção, sem perder de vista a segurança e protecção dos seus recursos financeiro­s.

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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO

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