Materiais e micro-créditos permitem criar empregos
Objectivo do plano é reduzir a taxa de desemprego, combater a pobreza, a vulnerabilidade e fazer crescer a economia
“Ao longo da minha vida, tive muitos sobressaltos, já fui vendedor ambulante, cobrador de táxi e fiz outros biscates, só para conseguir um prato de comida, mas nunca desisti de lutar pela vida. Hoje, tenho a oportunidade de vencer, conseguir alcançar os meus objectivos e não irei fracassar”, desabafou.
Com lágrimas nos olhos, António Mateus, de 34 anos, contou-nos a sua história de vida, depois de ter sido beneficiado com o Plano de Acção para Promoção da Empregabilidade (PAPE), lançado, recentemente, no Cuando Cubango.
O jovem carpinteiro foi um dos primeiros contemplados do plano. Recebeu um kit de material de trabalho, no valor de quase um milhão e 200 kwanzas, como a tupia, máquina de costura e corte de madeira, tico-tico e martelo, entre outros.
Estas ferramentas vão facilitar a produção de mesas, cadeiras, cadeirões, guarda-fatos e outros tipos de mobiliário para residências. António Mateus montou o negócio no município do Cuchi, a 90 quilómetros da cidade de Menongue, capital do Cuando Cubango. Com este pequeno negócio, vai empregar oito pessoas, que também vão poder dar maior dignidade de vida às famílias. O percurso de António Mateus não foi nada fácil. Antes de chegar ao Cuchi, proveniente da cidade do Lubango, onde lhe nasceu a paixão pela profissão de carpinteiro. Com 19 anos, era ajudante de um vizinho que lhe ensinou a dar os primeiros passos.
No início da carreira, não teve grandes êxitos, foi obrigado a optar por trabalhar noutras áreas para sobreviver, já que os pais eram camponeses, de família humilde e pouco podiam fazer para o sustentar. O primeiro contacto com o mundo do empreendedorismo surgiu com a venda ambulante, nas ruas do Lubango, onde vendia quase tudo que lhe aparecia, mas este “percurso” durou pouco.
A tentativa de emprego seguinte foi de cobrador de táxi, até que, em 2009, decidiu mudar-se para Menongue, na procura de melhorar as condições de vida.
A primeira oportunidade que teve em Menongue foi frequentar o curso de carpinteiro, numa das escolas do Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional (Inefop). Depois de terminar o ciclo formativo, tentou encontrar de emprego, mas fracassou. Decidiu tentar a vida no município do Cuchi, onde está desde o ano passado, a viver sozinho. Lá, abriu o negócio, num espaço cedido por um familiar. O jovem montou uma marcenaria sem grandes condições, onde “desenrascava o trabalho”. Com ajuda do PAPE, o espaço está melhor estruturado e equipado com material de última geração.
O jovem agradece a oportunidade que lhe foi dada e promete não decepcionar “no cumprimento da devolução”. “Agradeço a oferta dos kits, isso não vai apenas beneficiar a mim e à minha família, como também outras pessoas que vão trabalhar comigo, bem como ajudar a desenvolver a comunidade do Cuchi”, declarou.
Disse que, com esse material, vai poder empregar oito pessoas, e que “a tendência é aumentar, cada vez mais, o número de trabalhadores, à medida que o negócio crescer”.
Depois de três ou quatro meses de trabalho, começou a pagar o crédito, avaliado em quase um milhão e 200 kwanzas. “Pretendo cumprir os prazos e acordos estabelecidos com o PAPE, vou fazer um bom trabalho para isso começo a fazê-lo a partir de Dezembro. Temos de cumprir para não decepcionar o Governo, para que continue a apostar em outros jovens”, assegurou.
O jovem carpinteiro disse que, por mês, recebe cerca de quatro encomendas de cadeirões e outros pedidos, mas, com o material recebido, a sua produção pode aumentar para sete. A venda é feita em vários pontos do país. Além do Cuchi, vende também em Menongue, Lubango, Matala e Cuvango.
Os preços variam, dependendo da qualidade e estilo de cada produto. O cadeirão mais barato, por exemplo, custa 90 mil kwanzas e o mais caro, 150 mil, ao passo que uma mesa de seis cadeiras é vendida por a 90 mil kwanzas e a de quatro por 60 mil.
Um dos requisitos para aderir ao PAPE é ter a documentação regularizada passada pela administração local, para que a actividade seja reconhecida, formalizada e posteriormente fazer a inscrição no Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), obedecendo ao Sistema de Protecção Social Obrigatório.
Depois destes passos, o cidadão será escolhido em função da organização e fiabilidade do projecto que apresentar, para depois receber o microcrédito, com a possibilidade de ter o projecto apetrechado e equipado com material adequado e poder beneficiar da reabilitação do espaço e receber o kit, para dinamizar melhor o negócio.
Aumento do rendimento familiar
O PAPE vai criar mais de 250 mil postos de trabalho até 2021, num projecto avaliado em 21 mil milhões de kwanzas. Deste modo, o plano promove a formalização de pequenos negócios, reconversão da economia informal e contribui para o aumento do rendimento familiar e a redução da pobreza no país.
A perspectiva foi anunciada pelo ministro da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social, Jesus Maiato, durante o lançamento do PAPE, que, nesta primeira fase, beneficiou 170 cidadãos com microcréditos nas distintas modalidades, apetrechou 17 projectos, como oficinas, salão de cabeleireiro e alfaiatarias e fez a distribuição de carteiras profissionais a 25 formandos.
O ministro pediu aos primeiros beneficiários para serem um exemplo, que, além do uso racional dos meios concedidos, possam estimular a candidatura dos demais cidadãos. O plano prevê que, dependendo da complexidade de cada projecto, o Estado vai pagar até 50 por cento do valor do crédito.
O projecto tem um período de carência ou de graça de três a quatro meses, para que os empreendedores fiquem sem pagar ao banco, com uma taxa de juro estimada em 1 por cento.
Depois, vão ter um ano para devolver o crédito mas, caso não consigam neste período, poderão renegociar com o banco e alargar o prazo.
Objectivos definidos pelo PAPE
Jesus Maiato apontou que o objectivo do PAPE é aumentar a capacidade institucional dos centros de formação profissional e de emprego, tanto públicos como privados, melhorar a sua organização e funcionamento, qualidade da oferta formativa, bem como a extensão da rede das unidades formativas e de emprego.
O PAPE vai fomentar e apoiar o espírito de iniciativa dos empreendedores, fundamentalmente, dos jovens e mulheres, valorizar o exercício das profissões, através da atribuição das carteiras profissionais e dar oportunidade de estágios aos recém-formados.
O jovem carpinteiro disse que por mês recebe cerca de quatro encomendas de cadeirões e outros pedidos, mas, com o material recebido, a sua produção pode aumentar para sete. A venda é feita em vários pontos do país. Além do Cuchi, vende também em Menongue, Lubango, Matala e Cuvango
O ministro disse que será reforçado o fomento e o surgimento de micro e pequenas empresas, através da atribuição de microcréditos, kits e ferramentas de trabalho, bem como a melhoria do respectivo ambiente de prestação de serviço, que será feito através de uma plataforma electrónica, para dinamizar a intermediação, fundamentalmente, para os profissionais que exercem actividade por conta própria.
Lembrou que o plano é de âmbito nacional com foco nas comunidades, beneficiando todos os cidadãos com idade economicamente activa, que reúnam os requisitos estabelecidos para cada iniciativa.
Referiu que os objectivos se traduzem na concretização das linhas contidas no Plano de Desenvolvimento Nacional, 20182022, especificamente no que diz respeito à promoção da empregabilidade, conforme reflectem as palavras proferidas pelo Presidente da República, João Lourenço, no seu discurso de investidura.
“A dimensão da população em idade activa e a tendência de crescimento nos próximos anos impõem que a juventude esteja no centro das nossas atenções. Apostar nos jovens é apostar no futuro, no progresso de Angola e na sua inserção no mundo global, cada vez mais competitivo”, fim de citação.
Jesus Maiato alertou que “o sucesso do PAPE depende incontornavelmente do espírito de responsabilidade, seriedade, determinação e foco de todos os beneficiários”, a quem pediu cumprimento rigoroso dos compromissos assumidos nas modalidades e programas a que se candidatarem.
“É nosso desejo que todas as forças vivas mobilizadas na implementação do plano se dediquem para o seu sucesso, tendo em conta que, só caminhando juntos, será possível atingirmos os objectivos preconizados”, disse.
O governador provincial do Cuando Cubango, Júlio Bessa, considerou, na ocasião, que o lançamento do PAPE constitui uma das formas de combater o desemprego, um fenómeno que tem sido uma das grandes preocupações da sociedade”. Por isso, exortou, falar da empregabilidade é falar da promoção do desenvolvimento empresarial.
“Apelo aos dirigentes para apoiarem o esforço do Executivo nas políticas dirigidas. Ainda aconselho os jovens a aproveitarem esta oportunidade e procurarem os serviços do MAPTSS, para poderem aderir ao plano”, encorajou.
“A dimensão da população em idade activa e a tendência de crescimento nos próximos anos impõem que a juventude esteja no centro das nossas atenções”