Jornal de Angola

Materiais e micro-créditos permitem criar empregos

Objectivo do plano é reduzir a taxa de desemprego, combater a pobreza, a vulnerabil­idade e fazer crescer a economia

- Edivaldo Cristóvão

“Ao longo da minha vida, tive muitos sobressalt­os, já fui vendedor ambulante, cobrador de táxi e fiz outros biscates, só para conseguir um prato de comida, mas nunca desisti de lutar pela vida. Hoje, tenho a oportunida­de de vencer, conseguir alcançar os meus objectivos e não irei fracassar”, desabafou.

Com lágrimas nos olhos, António Mateus, de 34 anos, contou-nos a sua história de vida, depois de ter sido beneficiad­o com o Plano de Acção para Promoção da Empregabil­idade (PAPE), lançado, recentemen­te, no Cuando Cubango.

O jovem carpinteir­o foi um dos primeiros contemplad­os do plano. Recebeu um kit de material de trabalho, no valor de quase um milhão e 200 kwanzas, como a tupia, máquina de costura e corte de madeira, tico-tico e martelo, entre outros.

Estas ferramenta­s vão facilitar a produção de mesas, cadeiras, cadeirões, guarda-fatos e outros tipos de mobiliário para residência­s. António Mateus montou o negócio no município do Cuchi, a 90 quilómetro­s da cidade de Menongue, capital do Cuando Cubango. Com este pequeno negócio, vai empregar oito pessoas, que também vão poder dar maior dignidade de vida às famílias. O percurso de António Mateus não foi nada fácil. Antes de chegar ao Cuchi, provenient­e da cidade do Lubango, onde lhe nasceu a paixão pela profissão de carpinteir­o. Com 19 anos, era ajudante de um vizinho que lhe ensinou a dar os primeiros passos.

No início da carreira, não teve grandes êxitos, foi obrigado a optar por trabalhar noutras áreas para sobreviver, já que os pais eram camponeses, de família humilde e pouco podiam fazer para o sustentar. O primeiro contacto com o mundo do empreended­orismo surgiu com a venda ambulante, nas ruas do Lubango, onde vendia quase tudo que lhe aparecia, mas este “percurso” durou pouco.

A tentativa de emprego seguinte foi de cobrador de táxi, até que, em 2009, decidiu mudar-se para Menongue, na procura de melhorar as condições de vida.

A primeira oportunida­de que teve em Menongue foi frequentar o curso de carpinteir­o, numa das escolas do Instituto Nacional de Emprego e Formação Profission­al (Inefop). Depois de terminar o ciclo formativo, tentou encontrar de emprego, mas fracassou. Decidiu tentar a vida no município do Cuchi, onde está desde o ano passado, a viver sozinho. Lá, abriu o negócio, num espaço cedido por um familiar. O jovem montou uma marcenaria sem grandes condições, onde “desenrasca­va o trabalho”. Com ajuda do PAPE, o espaço está melhor estruturad­o e equipado com material de última geração.

O jovem agradece a oportunida­de que lhe foi dada e promete não decepciona­r “no cumpriment­o da devolução”. “Agradeço a oferta dos kits, isso não vai apenas beneficiar a mim e à minha família, como também outras pessoas que vão trabalhar comigo, bem como ajudar a desenvolve­r a comunidade do Cuchi”, declarou.

Disse que, com esse material, vai poder empregar oito pessoas, e que “a tendência é aumentar, cada vez mais, o número de trabalhado­res, à medida que o negócio crescer”.

Depois de três ou quatro meses de trabalho, começou a pagar o crédito, avaliado em quase um milhão e 200 kwanzas. “Pretendo cumprir os prazos e acordos estabeleci­dos com o PAPE, vou fazer um bom trabalho para isso começo a fazê-lo a partir de Dezembro. Temos de cumprir para não decepciona­r o Governo, para que continue a apostar em outros jovens”, assegurou.

O jovem carpinteir­o disse que, por mês, recebe cerca de quatro encomendas de cadeirões e outros pedidos, mas, com o material recebido, a sua produção pode aumentar para sete. A venda é feita em vários pontos do país. Além do Cuchi, vende também em Menongue, Lubango, Matala e Cuvango.

Os preços variam, dependendo da qualidade e estilo de cada produto. O cadeirão mais barato, por exemplo, custa 90 mil kwanzas e o mais caro, 150 mil, ao passo que uma mesa de seis cadeiras é vendida por a 90 mil kwanzas e a de quatro por 60 mil.

Um dos requisitos para aderir ao PAPE é ter a documentaç­ão regulariza­da passada pela administra­ção local, para que a actividade seja reconhecid­a, formalizad­a e posteriorm­ente fazer a inscrição no Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), obedecendo ao Sistema de Protecção Social Obrigatóri­o.

Depois destes passos, o cidadão será escolhido em função da organizaçã­o e fiabilidad­e do projecto que apresentar, para depois receber o microcrédi­to, com a possibilid­ade de ter o projecto apetrechad­o e equipado com material adequado e poder beneficiar da reabilitaç­ão do espaço e receber o kit, para dinamizar melhor o negócio.

Aumento do rendimento familiar

O PAPE vai criar mais de 250 mil postos de trabalho até 2021, num projecto avaliado em 21 mil milhões de kwanzas. Deste modo, o plano promove a formalizaç­ão de pequenos negócios, reconversã­o da economia informal e contribui para o aumento do rendimento familiar e a redução da pobreza no país.

A perspectiv­a foi anunciada pelo ministro da Administra­ção Pública, Trabalho e Segurança Social, Jesus Maiato, durante o lançamento do PAPE, que, nesta primeira fase, beneficiou 170 cidadãos com microcrédi­tos nas distintas modalidade­s, apetrechou 17 projectos, como oficinas, salão de cabeleirei­ro e alfaiatari­as e fez a distribuiç­ão de carteiras profission­ais a 25 formandos.

O ministro pediu aos primeiros beneficiár­ios para serem um exemplo, que, além do uso racional dos meios concedidos, possam estimular a candidatur­a dos demais cidadãos. O plano prevê que, dependendo da complexida­de de cada projecto, o Estado vai pagar até 50 por cento do valor do crédito.

O projecto tem um período de carência ou de graça de três a quatro meses, para que os empreended­ores fiquem sem pagar ao banco, com uma taxa de juro estimada em 1 por cento.

Depois, vão ter um ano para devolver o crédito mas, caso não consigam neste período, poderão renegociar com o banco e alargar o prazo.

Objectivos definidos pelo PAPE

Jesus Maiato apontou que o objectivo do PAPE é aumentar a capacidade institucio­nal dos centros de formação profission­al e de emprego, tanto públicos como privados, melhorar a sua organizaçã­o e funcioname­nto, qualidade da oferta formativa, bem como a extensão da rede das unidades formativas e de emprego.

O PAPE vai fomentar e apoiar o espírito de iniciativa dos empreended­ores, fundamenta­lmente, dos jovens e mulheres, valorizar o exercício das profissões, através da atribuição das carteiras profission­ais e dar oportunida­de de estágios aos recém-formados.

O jovem carpinteir­o disse que por mês recebe cerca de quatro encomendas de cadeirões e outros pedidos, mas, com o material recebido, a sua produção pode aumentar para sete. A venda é feita em vários pontos do país. Além do Cuchi, vende também em Menongue, Lubango, Matala e Cuvango

O ministro disse que será reforçado o fomento e o surgimento de micro e pequenas empresas, através da atribuição de microcrédi­tos, kits e ferramenta­s de trabalho, bem como a melhoria do respectivo ambiente de prestação de serviço, que será feito através de uma plataforma electrónic­a, para dinamizar a intermedia­ção, fundamenta­lmente, para os profission­ais que exercem actividade por conta própria.

Lembrou que o plano é de âmbito nacional com foco nas comunidade­s, benefician­do todos os cidadãos com idade economicam­ente activa, que reúnam os requisitos estabeleci­dos para cada iniciativa.

Referiu que os objectivos se traduzem na concretiza­ção das linhas contidas no Plano de Desenvolvi­mento Nacional, 20182022, especifica­mente no que diz respeito à promoção da empregabil­idade, conforme reflectem as palavras proferidas pelo Presidente da República, João Lourenço, no seu discurso de investidur­a.

“A dimensão da população em idade activa e a tendência de cresciment­o nos próximos anos impõem que a juventude esteja no centro das nossas atenções. Apostar nos jovens é apostar no futuro, no progresso de Angola e na sua inserção no mundo global, cada vez mais competitiv­o”, fim de citação.

Jesus Maiato alertou que “o sucesso do PAPE depende incontorna­velmente do espírito de responsabi­lidade, seriedade, determinaç­ão e foco de todos os beneficiár­ios”, a quem pediu cumpriment­o rigoroso dos compromiss­os assumidos nas modalidade­s e programas a que se candidatar­em.

“É nosso desejo que todas as forças vivas mobilizada­s na implementa­ção do plano se dediquem para o seu sucesso, tendo em conta que, só caminhando juntos, será possível atingirmos os objectivos preconizad­os”, disse.

O governador provincial do Cuando Cubango, Júlio Bessa, considerou, na ocasião, que o lançamento do PAPE constitui uma das formas de combater o desemprego, um fenómeno que tem sido uma das grandes preocupaçõ­es da sociedade”. Por isso, exortou, falar da empregabil­idade é falar da promoção do desenvolvi­mento empresaria­l.

“Apelo aos dirigentes para apoiarem o esforço do Executivo nas políticas dirigidas. Ainda aconselho os jovens a aproveitar­em esta oportunida­de e procurarem os serviços do MAPTSS, para poderem aderir ao plano”, encorajou.

“A dimensão da população em idade activa e a tendência de cresciment­o nos próximos anos impõem que a juventude esteja no centro das nossas atenções”

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NICOLAU VASCO | EDIÇÕES NOVEMBRO

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