Sociedade civil defende um memorial às vítimas do 27 de Maio
Maria José António, membro da comissão pela FNLA, considerou “corajosa” a decisão do Presidente João Lourenço, por ter criado a comissão.
“É um gesto de coragem, nada fácil. Estamos a trabalhar para encontrar uma plataforma a ver se encontramos uma paz de espírito. Temos de reconciliar o povo angolano”, disse, lembrando que o número de vítimas é um problema nacional, pois “todos, directa ou indirectamente, somos vítimas.” A proposta da FNLA, quanto à instalação de um memorial, é de que seja construído com secções, uma forma de satisfazer os intentos das mais diversas sensibilidades.
José Fragoso, vice-presidente da Fundação 27 de Maio e da referida comissão, agradeceu o Presidente da República “por ter tanta coragem e aprovar o Decreto Presidencial para permitir o reencontro de angolanos desavindos há mais de 40 anos”.
“Vamos continuar a discutir, porque ainda há um problema que se prende com o 27 de Maio, que deve ser visto como um processo à parte, pois pereceram muitas pessoas, segundo dados das Nações Unidas”, disse José Fragoso, que diz não concordar que um processo destes esteja a ser “misturado” com outros.
Na sua opinião, “é falácia dizer-se que o 27 de Maio foi um golpe de Estado, porque, na verdade, foi um golpe contra a inteligência angolana, pois bastava ter o primeiro ciclo, hoje 6ª classe, era motivo bastante para ser morto.”
A Fundação 27 de Maio revê-se na construção de um memorial, mas defende a construção de um cemitério e monumento específico para as vítimas do 27 de Maio, simbolizando o desaparecimento físico dos outros. “Não pode haver komba nacional sem primeiro enterrarem as vítimas. Tem de haver um cemitério específico, à semelhança das vítimas do Cuito Cuanavale. Conhecemos várias valas comuns onde se encontram as ossadas dos nossos companheiros”, afirmou o seu representante.
Manuel António de Oliveira, presidente da União Nacional dos Artistas Plásticos, defendeu que a busca pela reconciliação dos espíritos e da reconciliação das vítimas dos conflitos em Angola não deve pressupor a paralisação do avanço da vida social e económica. “É preciso reconciliar, mas é também preciso melhorar a qualidade de vida das pessoas. Não devemos complicar ainda mais o que já está complicado. Reconciliamo-nos, mas a vida deve continuar”, realçou.