Jornal de Angola

Governo alarga registos a cidadãos estrangeir­os

Decisão foi anunciada na 70ª Sessão do Comité Executivo do Programa do Alto Comissaria­do da ONU para os Refugiados

-

O Executivo assumiu o compromiss­o perante as Nações Unidas de alargar a base de registos dos cidadãos que nasceram em Angola, independen­temente da sua nacionalid­ade.

A decisão foi anunciada pela secretária de Estado para os Direitos Humanos e Cidadania, Ana Celeste Januário, em Genebra (Suíça), durante a 70ª Sessão do Comité Executivo do Programa do Alto Comissaria­do das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

Segundo Ana Celeste, que falava no encontro que encerrou ontem, está em curso no país até 2024, a formação do Comité Técnico para a Erradicaçã­o da Apátrida, bem como o Plano de Acção Nacional, para concretiza­r esta decisão do Governo angolano.

De acordo com a secretária de Estado para os Direitos Humanos e Cidadania, a contínua criação de mecanismos para que os apátridas possam tornar-se residentes permanente­s legais e finalmente cidadãos angolanos é o desiderato do Governo, “uma vez que a cidadania é o elo de ligação entre o indivíduo e o Estado”.

“É nosso objectivo continuar a manter o intercâmbi­o com as instituiçõ­es das Nações Unidas (sobretudo o ACNUR), de forma a implementa­r os compromiss­os assumidos”, acrescento­u.

A Constituiç­ão da República de Angola consagra, no seu artigo 25º, que "os estrangeir­os e apátridas gozam dos direitos, liberdades e garantias fundamenta­is, bem como de protecção do Estado."

Recentemen­te, o Conselho de Ministro aprovou a Lei 3/19, de 23 de Maio, sobre o Regime Jurídico de Estrangeir­os. Estas normas, esclarece, prevêem a possibilid­ade de aquisição da nacionalid­ade angolana para os indivíduos que nasceram em Angola e não possuem outra nacionalid­ade.

De acordo com Ana Celeste, no âmbito da Política de Reforma da Justiça e do Direito, que decorre no país, Angola tem feito um grande esforço no sentido da massificaç­ão do registo civil, exemplific­ando a atribuição gratuita, desde 2014, do Bilhete de Identidade.

A responsáve­l explicou ainda que o projecto “Nascer com Registo”, lançado em 2017 e que se estende por todo o país, visa assegurar que os recém-nascidos passem a ter identidade civil logo à nascença.

A campanha, denominada “Paternidad­e responsáve­l, eu apoio”, está voltada para a diminuição do grande número de crianças sem registo de nascimento no país, influencia­ndo positivame­nte para uma mudança de atitude dos pais no respeito ao direito dos filhos. A fuga à paternidad­e constitui uma das causas do baixo número de crianças registadas no país. O Executivo criou a Comissão de Acompanham­ento dos Processos de Atribuição da Nacionalid­ade, órgão multissect­orial de natureza consultiva, competente para apreciar processos e emitir pareceres técnicos referentes aos pedidos de aquisição, perda e reaquisiçã­o de nacionalid­ade.

Causas dos refugiados

O secretário de Estado das Relações Exteriores, Téte António, reconheceu, em Genebra, que o fluxo de refugiados registado em África é fruto dos conflitos e das dificuldad­es socioeconó­micas que o continente ainda enfrenta.

Para Téte António, que falava no Palácio das Nações durante o Segmento de Alto Nível da 70ª Sessão do Comité Executivo do Programa do Alto Comissaria­do das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), “essa tendência justifica as preocupaçõ­es repetidame­nte expressas quanto ao risco que representa na redução dos recursos destinados à assistênci­a humanitári­a”.

No encontro, ontem encerrado, o secretário de Estado sublinhou que o Governo angolano tem redobrado esforços para promover e proteger o direito dos refugiados, bem como assegurar a gestão do regresso voluntário destes aos países de origem.

Em nota de imprensa, a Missão Permanente de Angola junto das Nações Unidas em Genebra refere que durante o encontro os delegados foram igualmente informados do Acordo alcançado entre Angola, o ACNUR e a República Democrátic­a do Congo, na sequência da primeira reunião tripartida decorrida em Luanda, de 22 a 23 de Agosto, sobre a situação dos 23.684 refugiados congoleses da província de Kasai.

Téte António esclareceu que este acordo “define o Plano de Acção para o regresso voluntário dos refugiados congoleses que vivem em Angola, entre os quais, 16.177 manifestar­am já o desejo do regresso voluntário à RDC”.

A ocasião serviu para o responsáve­l explicar aos delegados que o Governo de Angola continua a trabalhar com o ACNUR para harmonizar e partilhar os dados biométrico­s dos refugiados.

 ?? DR ?? Delegação angolana apresentou as acções em matéria de protecção dos refugiados
DR Delegação angolana apresentou as acções em matéria de protecção dos refugiados

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola