Jornal de Angola

Ivo apanha surra no Sambila

O problema que ele arranjou foi muito grande. Os ngavives todos levantaram. Ninguém entendeu onde é que saíram os paus e as catanas. Cercaram o Ivo e lhe perguntara­m. “Você IVA está a subir os preços porquê? Você é que manda no país?

- Pereira Dinis

Como sempre, todos os sábados os kotas (mais velhos) e alguns kandengues (jovens) pausam (sentam) na placa (local de referência) do Mamungua, onde conversam sobre quase tudo. Política, desporto, economia, eleições autarquias e mambos (cenas) que acontecem no bairro.

Ontem, os ngavives (mais velhos), isto por volta das nove da matina estavam a maboçar (conversar) sobre as medidas que o Presidente João Lourenço tem estado a tomar. Alguns diziam serem boas e outros afirmavam, sem medo de errar, que era penalti ou livre directo (falha).

Mamungua desde que viu o pão que o diabo amassou, quando lhe prenderam, por supostamen­te, estar envolvido na intentona do 27 de Maio não gosta muito de dar opinião sobre os mambos (conversas) políticos.

O Kinima, como sempre gosta de chatear o Mamungua, disse que no país ninguém deve ter medo de expressar os seus sentimento­s, porque está salvaguard­ado pelo direito de expressão, descrito na Constituiç­ão da República.

Mamungua advertiu o Kinama para não lhe pedir nenhuma opinião sobre a situação política do país, porque ele quer viver no sossego durante a velhice, porque já deu muito pelo país e o troco foi ser preso anos e anos, por ser acusado de fraccionis­ta, só por ser do mbila (Sambizanga) e pertencer a famosa Nona Brigada.

A conversa estava boa. Eram risos dali e daqui. Estava tudo bem. O kandengue (miúdo) Wanki Yu, que vinha do bairro Diangato, a escassos metros da balande (casa) do Mamungua viu o pidimo (primo) a vir do bairro Baião e, inocenteme­nte, emocionado, porque tinha a certeza que este poderia lhe deixar um merepe (dinheiro), gritou: “Pidimo Ivo estou aqui. Estou dianzala (com fome)”.

O problema que ele arranjou foi muito grande. Os ngavives todos levantaram. Ninguém entendeu onde é que saíram os paus e as catanas. Cercaram o Ivo e lhe perguntara­m. “Você IVA está a subir os preços porquê? Você é que manda no país? O cálice de kaporroto estava a 25 kwanzas, agora está a custar 40 kz. O quimbombo estava 10 kz, agora é 15 kz. Mais quem é você para fazer isto?”.

O Ivo não estava a entender nada. A sorte é que surgiu um patrulheir­o da Polícia Nacional, que pediu calma e ouviu os mais velhos. Eles pediam já para levar o Ivo na kuzueira porque está a fazer subir os preços, em vez de fazer subir os salários dos aposentado­s e dos que estão no activo.

Inteligent­emente o agente da polícia explicou que o cidadão em causa não tinha nada a ver com a situação. “Mais velhos com muito respeito que tenho por vocês, quero dizer que o nome dele é Ivo, que é diferente do IVA, que é o Imposto do Valor Acrescenta­do”.

“Assim você nos explicou bem, mas esse IVA podemos lhe encontrar aonde?” questionar­am. O agente da polícia disse que era assunto do Ministério das Finanças, ou da AGT. E eles mandaram um recado: - Vai lhes dizer que os sambilas, os cazengas e os rangeles quando vêem os seus direitos a serem gamados (roubados) são capazes de tudo. Enfrentamo­s os colonos com catanas e não é um simples Ministério das Finanças ou AGT que vai complicar a nossa vida. Podemos ir lá lhes tirar a paulada, caso seja preciso.

Só assim o Ivo se safou. E como uma desgraça nunca vem só, quando entrou num táxi para regressar à casa ouviu falar do IVA e decidiu sair. Estava transtorna­do. Subiu num outro. O cenário era o mesmo. A conversa só era o IVA. O homem, com o trauma, teve de ir abute (a pé) do Sambila até ao Zango-5, mas com muita raiva dos falecidos pais que lhe registaram com o nome de Ivo.

“Vai lhes dizer que os sambilas, os cazengas e os rangeles quando vêem os seus direitos a serem gamados (roubados) são capazes de tudo”

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MAVITIDE MULAZA | EDIÇÕES NOVEMBRO

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