Jornal de Angola

Polícia Nacional aperta cerco aos marginais

- André da Costa

O comandante da Polícia Nacional no Namibe, comissário Alberto Sebastião Mendes “Limão”, considera “estável” a segurança na província, apesar de no primeiro semestre ter registado 953 crimes de natureza diversa, um aumento de 27 casos, em comparação com o mesmo período do ano passado, em que foram registados 926 crimes. Em entrevista ao Jornal de Angola, reconhece que o Namibe tem servido de refúgio para muitos marginais que cometem crimes noutras províncias. “O Namibe foi sempre uma província incubadora de marginais. Temos muitos marginais que cometeram crimes violentos na Huíla, alguns no Huambo, e foram detidos aqui. Estamos a apertar o cerco e não vamos dar tréguas aos marginais que se escondem no Namibe, porque em prazo de 48 horas serão apanhados” Que avaliação faz sobre a situação da segurança pública no Namibe?

A situação é estável. No primeiro semestre, registámos 953 crimes de natureza diversa. Deste número, 650 crimes foram esclarecid­os, perfazendo 80 por cento de operativid­ade. No período anterior, registámos 926 crimes, ou seja, houve um aumento de 27 crimes.

Estes números não deixam a província numa situação desconfort­ável?

De uma forma geral, a situação de segurança pública é estável. A Polícia Nacional está engajada em garantir a manutenção da ordem, segurança e tranquilid­ade públicas dos cidadãos.

Quais são os crimes que mais preocupam a corporação?

São os crimes de homicídio voluntário, registados em várias localidade­s da província, como a comuna do Bentiaba, a povoação de Caluvumbo, bairro comandante Valódia, Quilenda Velha, na Bibala e no Camucuio.

O que esteve na base do cometiment­o dos crimes de homicídios?

Alguns casos de homicídio foram cometidos por questões de ciúmes. O Namibe é uma das províncias onde se utiliza muita bebida tradiciona­l. Depois da ingestão de bebidas caseiras, surgem desavenças entre homens e mulheres, chegando mesmo a situações de agressão física até à morte.

E os crimes de violação sexual?

Registámos 21 casos de violação sexual, dos quais 15 tiveram lugar no interior das residência­s e seis na via pública, nos municípios de Moçâmedes, com 15 casos, Bibala, com dois, Tômbwa, com três, e Camucuio, com um crime.

Quais são os dados da sinistrali­dade rodoviária?

De Janeiro a Junho, registámos 143 acidentes de viação, que causaram 23 mortos e 124 feridos. O município de Moçâmedes registou o maior número de acidentes, com 115 casos, 19 mortos e 96 feridos. O município da Bibala teve 15 acidentes, dois mortos e 16 feridos. No Tômbwa, ocorreram 11 acidentes que provocaram a morte de duas pessoas e nove feridos e, no Camucuio, houve dois acidentes, que resultaram em três feridos.

Como está a província em termos de roubo de gado?

A situação melhorou muito, porque alterámos a nossa estratégia no combate ao roubo de gado, com a criação das brigadas populares de vigilância. Estas têm

potenciado a Polícia Nacional com denúncias e informaçõe­s pertinente­s sobre o roubo de gado, que baixou considerav­elmente.

Estão identifica­das as pessoas que cometem este tipo de crime?

Na sua maioria, são os próprios familiares que praticam este crime. Há tradições em que, depois de um cidadão completar 18 anos, é obrigado a entregar um determinad­o número de cabeças de gado, para contrair o matrimónio. Quem não tiver gado, não consegue contrair matrimónio. A Polícia Nacional tem trabalhado na sensibiliz­ação dos jovens de forma a evitar esta prática.

Que acções têm realizado para manter o policiamen­to de proximidad­e?

Temos implementa­do um conjunto de programas de sensibiliz­ação porta-aporta. Na última semana de cada mês, contactamo­s as comunidade­s e recolhemos informaçõe­s sobre as principais inquietaçõ­es nos bairros, povoações e aldeias. Trabalhamo­s as informaçõe­s e planeamos as operações.

O combate ao crime conta apenas com os agentes da Polícia Nacional?

Contamos também com os efectivos do Serviço de Investigaç­ão Criminal. 30 por cento dos nossos efectivos trabalham à paisana, principalm­ente no patrulhame­nto nocturno.

Que resultados têm sido alcançados com esta estratégia?

Com essa estratégia, temos reduzido o número de crimes. Os meliantes perceberam que há agentes à paisana a trabalhar à noite e deixaram de cometer alguns crimes, o que fez com que as percentage­ns baixassem.

Os cidadãos podem circular à vontade, sem receio de sofrerem assaltos espectacul­ares, à semelhança do que ocorre em Luanda?

No Namibe, qualquer cidadão pode circular à noite, porque há livre circulação de pessoas e bens, usar telemóveis e objectos de ouro, de forma normal, porque é reduzido o risco de ser assaltado. Temos na província mais de 360 efectivos na condição de doentes e os menos graves foram preparados para serviços secretos. Esses efectivos trabalham em zonas de onde, a partir de telemóveis, enviam informaçõe­s para os operativos intervirem.

O que é feito com as informaçõe­s recolhidas?

As informaçõe­s são enviadas para os agentes de Ordem Pública que actuam em cinco minutos. Os piquetes de polícia também estão disponívei­s para ajudar aqueles cidadãos sem condições de conduzir, depois de consumir álcool por excesso. Podem ligar ao piquete do comando municipal e pedir auxílio da Polícia para levar o carro até a casa, porque temos motoristas preparados.

O Namibe é mesmo uma província segura?

O Namibe é a terra da felicidade. Assim sendo, trabalhamo­s para haver poucos crimes. Estamos a seguir o exemplo da Holanda e da Suécia. Conseguimo­s manter os níveis de criminalid­ade baixos e pretendemo­s baixar ainda mais.

Quais os constrangi­mentos criados pelos moto-taxistas na província?

Temos tido alguns constrangi­mentos com a vinda de 70 por cento de mototaxist­as das províncias da Huíla e Benguela. Estamos a criar condições para uma unidade operativa, que será instalada no antigo estaleiro dos chineses na Praia Amélia, onde vamos ter a Unidade de Trânsito, a Brigada Especial de Trânsito, Rádio Patrulha, Polícia de Intervençã­o Rápida, Serviço de Migração e Estrangeir­os e Serviço de Investigaç­ão Criminal. Vamos agrupar todas as forças de defesa e segurança para melhorar a prestação de serviço à população.

Insisto na pergunta. Que tipos de constrangi­mentos criam os moto-taxistas?

Não usam os capacetes de protecção, as motorizada­s, muitas delas, são furtadas em outras províncias e levadas para o Namibe. Estamos a obrigar o uso do capacete e a apreender as motorizada­s sem documentos.

Existem lojas para a venda de capacetes na província?

Há dificuldad­es para aquisição de capacetes, porque não termos lojas especializ­adas para a venda de capacetes. Estamos a sensibiliz­ar alguns empresário­s para abrirem lojas de venda deste material no Namibe.

Namibe tem servido de refúgio para marginais e viaturas roubadas em outras províncias?

Tem servido sim. O Namibe foi sempre uma província incubadora de marginais. Temos muitos marginais que cometeram crimes violentos na Huíla, alguns no Huambo, e foram detidos no Namibe e encaminhad­os para as províncias de origem. Estamos a apertar o cerco e não vamos dar tréguas aos marginais que se esconderem no Namibe, porque num prazo de 48 horas serão apanhados.

A formação de efectivos pode contribuir para a melhoria desse combate?

Numa primeira fase, estamos a formar 60 efectivos da Polícia de Intervençã­o Rápida e igual número para a nossa unidade operativa, no sentido de darmos uma resposta mais eficaz ao crime.

Que municípios despertam mais a vossa atenção no combate ao crime?

Os municípios de Moçâmedes e do Tômbwa, onde usamos mais meios e efectivos. Nos cinco municípios da província, nomeadamen­te, Moçâmedes, Tômbwa, Virei, Camucuio e Bibala, são necessário­s 2.300 efectivos. Há um movimento diário de pessoas em busca de melhores condições de pasto e de vida e nós devemos acompanhar estas movimentaç­ões.

Quantos quilómetro­s andam estas pessoas?

Eles podem andar mais de 160 quilómetro­s de um município para outro em busca de melhores condições de pasto para o gado. Mas a segurança pública está garantida a 100 por cento na província.

Quantos crimes chegam ao conhecimen­to da Polícia Nacional na província?

Diariament­e, entre três a seis crimes, devido a um árduo trabalho levado a cabo pelos efectivos da Delegação Provincial do Ministério do Interior.

Como está o Namibe em termos de meios de trabalho?

Precisamos de mais viaturas e motorizada­s para reforçar o patrulhame­nto do trânsito rodoviário, rádio patrulha e viaturas para a Polícia de Intervençã­o Rápida. Pretendemo­s montar uma brigada de bicicleta para realizar patrulhame­nto na nossa marginal.

Como analisa a questão da formação dos efectivos na província?

Quando fui nomeado comandante provincial do Namibe, a primeira coisa que fiz foi apostar na formação dos efectivos. Elaborei um plano de formação de todos os membros da Delegação Provincial do Ministério do Interior.

O fenómeno da “gasosa” é uma realidade no seio dos efectivos no Namibe?

Já realizei várias reuniões com os moto-taxistas, camionista­s, populares e sobas, para analisarmo­s a postura dos efectivos e afirmaram que melhorou muito. Ainda não recebi denúncias contra agentes que provavelme­nte tenham pedido “gasosa”. Os moto-taxistas nunca indicaram nenhum efectivo envolvido nesse fenómeno. Houve um caso curioso. Há dias, faleceu um colega nosso e no dia do seu velório apareceu uma multidão de pessoas, que até lacrimejei. Isso mostra o carinho que a população tem no trabalho da Polícia Nacional.

Antes de ser indicado comandante no Namibe, foi director do Instituto de Ciências Policiais e Criminais. Até que ponto as experiênci­as colhidas no domínio da tecnologia têm ajudado no seu trabalho operativo?

Eu uso a tecnologia e a pedagogia no combate ao crime. Os efectivos trabalham com vontade, são voluntario­sos e cumprem todas as orientaçõe­s emanadas superiorme­nte.

“Na sua maioria, são os próprios familiares que praticam este crime. Há tradições em que, depois de um cidadão completar 18 anos, é obrigado a entregar um determinad­o número de cabeças de gado, para contrair o matrimónio. Quem não tiver gado, não consegue contrair matrimónio”

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ANDRÉ DA COSTA | EDIÇÕES NOVEMBRO
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EDIÇÕES NOVEMBRO Alberto Mendes considera que a segurança pública no Namibe é estável e garantiu uma maior prontidão dos seus efectivos
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ANDRÉ DA COSTA | EDIÇÕES NOVEMBRO Comandante assegura que qualquer cidadão pode circular à noite com muita segurança
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