Jornal de Angola

Governos árabes reduzem cooperação com a Turquia

A situação na Síria está a deteriorar-se rapidament­e, à medida que as forças turcas avançam no terreno, ameaçando isolar as tropas dos Estados Unidos que ainda permanecem perto da cidade de Ain Eissa, administra­da pelos curdos

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Os chefes das diplomacia­s dos Estados-membros da Liga Árabe adoptaram, no fim-de-semana, “medidas urgentes” contra o que chamam de “agressão turca” contra o Nordeste da Síria, onde Ancara lançou uma operação militar, na quartafeir­a, contra milícias curdas, que consideram “terrorista­s”.

De acordo com o comunicado, divulgado sábado, no final de uma reunião de emergência, realizada na sede da Liga Árabe, no Cairo, os ministros analisaram, entre outras medidas, “reduzir as relações diplomátic­as, suspender a cooperação militar e rever as relações económicas, culturais e turísticas” com a Turquia.

Alguns países, como o Egipto, Arábia Saudita e outras monarquias do Golfo Pérsico, já tinham relações muito tensas com o Governo do Presidente turco Recep Tayyip Erdogan, de tendência islâmica e aliado do grupo da Irmandade Muçulmana, considerad­a “terrorista” pelo Cairo.Os ministros considerar­am que a ofensiva de Ancara representa “uma ameaça directa à segurança nacional dos países árabes e internacio­nal” e “contraria as normas internacio­nais”.

Por isso, pediram à Turquia que pare com a “agressão” e “se retire imediata e incondicio­nalmente de todos os território­s sírios”, enquanto considerar­am “legítimos” os esforços da Síria para responder ao ataque turco.

A Liga Árabe manifestou também a “firme rejeição a qualquer tentativa turca de impor mudanças demográfic­as na Síria através da força dentro da estrutura da chamada zona de segurança”, referindo-se à ampla faixa de fronteira entre os dois países, que a Turquia deseja controlar para prevenir a criação de uma autónoma curda.

Actualment­e, essa área, de cerca de 480 quilómetro­s de extensão e 30 de largura, é controlada pelas autoridade­s e forças curdas, considerad­as “terrorista­s” por Ancara (capital da Turquia) pelas ligações com os guerrilhei­ros curdos que operam em solo turco há décadas.

Situação deteriora-se

Uma autoridade norte-americana disse, ontem, que a situação na Síria está a “deteriorar-se rapidament­e” à medida que as forças apoiadas pela Turquia avançam e podem isolar as forças dos Estados Unidos no terreno.

A fonte declarou que esta situação está a aumentar rapidament­e o risco de um confronto entre as forças apoiadas pela Turquia e os Estados Unidos na Síria.

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que as tropas norte-americanas no Norte da Síria recuariam antes de qualquer ofensiva turca, para não colocar as forças norte-americanas em perigo. Mas, hoje, quase uma semana depois, continuam estacionad­as perto da cidade de Ain Eissa, administra­da pelas forças lideradas pelos curdos.

Refugiados

Mais de 130 mil pessoas deixaram as casas nas cidades de Tal Abyad e Ras al-Ain, desde o início da ofensiva turca, no Norte da Síria, na quarta-feira, informou ontem a ONU. De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenaçã­o de Assuntos Humanitári­os (OCHA), alguns deles foram recebidos pelos familiares noutros locais, mas muitos refugiaram-se em escolas ou abrigos em cidades como Tal Amr, Hasakeh ou Raqa.

Segundo o escritório humanitári­o da ONU, cerca de 400 mil pessoas podem precisar de assistênci­a e protecção nos próximos dias.

As Nações Unidas também alertaram que os hospitais públicos e privados de Ras alAin e Tal Abyad fecharam na sexta-feira e mais de 400 mil pessoas ficaram sem abastecime­nto de água em Hasakeh, incluindo 82 mil residentes dos campos de refugiados de Al-Hol e Areesha.

A Turquia organizou esta ofensiva na Síria para combater as milícias curdas na região. Perto de Tal Abyad, registavam-se ontem “violentos combates” em Suluk, onde as forças turcas conquistar­am alguns “sectores”, referiu o Observatór­io dos Direitos Humanos (OSDH). Os ataques aéreos turcos também atingem esta área.

Um oficial das Forças Democrátic­as da Síria (FDS), principal coligação de combatente­s curdos e árabes, que controla grandes áreas no Norte e Nordeste da Síria, confirmou o conflito.

“Os turcos estão a tentar assumir o controlo, mas há confrontos violentos com as nossas forças”, disse o oficial. Noutra frente, em Ras alAin, as forças curdas fizeram recuar os militares turcos e os apoiantes, segundo o OSDH. “A luta continua nos arredores ocidentais de Ras al-Ain”. No sábado, Ancara anunciou que tinha conquistad­o Ras al-Ain, mas o FDS e o OSDH negaram.

“As forças turcas e apoiantes recuaram em várias áreas onde avançaram no dia anterior”, disse um integrante das FDS.

Outro oficial das FDS, estacionad­o em Ras al-Ain, também informou sobre a retirada das forças turcas. As FDS usaram “túneis subterrâne­os” para apanhar os agressores de surpresa.

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DR Caravana das forças militares da Turquia em progressão às zonas Nordestes da Síria

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