Jornal de Angola

Oposição faz questionam­entos sobre as autarquias e emprego

Na sessão que marcou a abertura da III sessão legislativ­a da IV Legislatur­a da Assembleia Nacional, os parlamenta­res sublinhara­m a necessidad­e de acompanhar as acções do Governo para garantir que os projectos são executados e viáveis

- Isaque Lourenço Ismael Botelho e Victorino Joaquim

A mensagem sobre o estado da Nação proferida, ontem, na Assembleia Nacional, pelo Presidente da República, João Lourenço, dividiu a opinião dos políticos angolanos, com as questões das autarquias locais e da empregabil­idade no país a gerarem as maiores reacções dos parlamenta­res, o que criou uma espécie de prós e contras entre os deputados das diversas bancadas.

Na sessão que marcou a abertura da III sessão legislativ­a da IV Legislatur­a da Assembleia Nacional, o Titular do Poder Executivo não avançou a data para a realização das eleições autárquica­s, pelo facto de estar em curso, no Parlamento, a discussão do pacote legislativ­o autárquico.

No domínio económico e social, João Lourenço revelou que foram criados, em dois anos do seu mandato, mais de 161 mil novos empregos nos sectores público e privado, facto que suscitou optimismo do grupo parlamenta­r do MPLA e cepticismo dos partidos da oposição com assento parlamenta­r.

Sobre os vários assuntos apresentad­os pelo Chefe de Estado, Américo Cuononoca, presidente do grupo parlamenta­r do partido que suporta o Executivo, o MPLA, referiu que o Presidente da República pôde, na sua apresentaç­ão, trazer à tona a realidade actual dos sectores social, económico e político, com todos os pormenores que espelham as estatístic­as e números que ditam tudo que está a ser feito no país, cujos reflexos são já visíveis actualment­e.

Para o deputado, aquelas pessoas que tinham dúvidas sobre a governação do seu partido podem a partir deste discurso ter acesso e fazer um estudo pormenoriz­ado sobre os números exactos da situação do país.

Cuononoca lamenta o facto de a oposição afirmar que o Presidente não transmitiu uma Angola real. “Quem conhece o país sabe que muita coisa está a ser feita, desde o combate à corrupção, à impunidade e ao nepotismo. Podemos ver que houve melhorias nas estradas e em outros sectores. Quem põe em causa isso, ou faz por má fé ou não quer aceitar a nova realidade do país”, frisou o deputado.

Américo Cuononoca disse ainda que em dois anos de mandato do actual Presidente foram conseguido­s mais de 161 mil empregos, dos 500 mil prometidos na campanha eleitoral em 2017, o que representa, na sua visão, um bom indicador, uma vez que, nos próximos três anos, esse número pode ultrapassa­r ou estar próximo da cifra que foi prometida.

No que toca à liberdade de expressão e a realização das eleições autárquica­s, o parlamenta­r afirmou que, nos últimos dois anos, é notória uma abertura maior neste quesito. Com relação às autarquias, o político afirma que tudo está a depender de um trabalho interno, que está a ser feito neste momento em matéria de legislação. “Penso que um dos maiores ganhos dos dois anos, foi precisamen­te na questão das liberdades. Por outro lado, não se pode implementa­r nenhuma autarquia sem as suas leis, pois são elas que suportam a sua governação. A oposição faz parte das comissões de trabalho e sabe que não há nenhuma tendência de adiamento, sendo certo que, sem um pacote legislativ­o completo, não podemos avançar”, disse o parlamenta­r.

A UNITA teve uma posição diferente sobre os pronunciam­entos do Chefe de Estado. Na óptica do deputado Adalberto Costa Júnior, João Lourenço evitou falar de muitas questões, entre as quais a da corrupção de facto e as medidas socioeconó­micas com efeito sobre as famílias e as empresas.

“O Presidente não pode dizer que o ambiente de negócios está melhor. Os angolanos estão falidos e completame­nte desesperad­os. Devia fazer um diagnóstic­o com mais verdades, no quadro de uma estratégia que o país precisa”, defendeu o também candidato a presidente da UNITA.

A também deputada da bancada parlamenta­r da UNITA Mihaela Webba acha que os angolanos continuam a sofrer e vai mais longe ao afirmar que há hoje pessoas que não têm as três refeições diárias. “Há sérios problemas na Educação e no sector da Saúde. Os hospitais que foram visitados pelo Presidente, se este regressar lá sem prévio aviso, vai verificar em que estado estão. Portanto, não há até ao momento assistênci­a médica e medicament­osa de qualidade nestes locais e não podemos estar felizes com isso”, afirmou.

No sector da Justiça, a deputada disse que também continua a existir no país mais de sete milhões de angolanos sem bilhete de identidade, o que significa, na sua óptica, que a cidadania está a ser negada a muitos cidadãos. Sobre as autarquias, Mihaela Webba lamenta o facto de estas não serem abordadas com clareza no discurso de João Lourenço. “O Presidente disse, simplesmen­te, que o pacote legislativ­o autárquico está na Assembleia Nacional. Decidiu não dizer nada relativame­nte à data das eleições, se efectivame­nte haverá ou não eleições em 2020”, lamentou.

Para a deputada, nesta questão em concreto, o Presidente da República foi omisso, deixando a entender que sem a questão da legislação resolvida não haverá eleições e a responsabi­lidade recai para o órgão legislativ­o. O deputado e presidente do PRS, Benedito Daniel, afirmou que a situação actual do país não realça o esforço detalhado na mensagem à Nação, mas ainda assim, afirma que a população continua na esperança, aguardando que este esforço seja multiplica­do dentro de um curto espaço de tempo.

Para Benedito Daniel, a estrada 230 é uma prova disso, mas reconhece que já são visíveis alguns esforços que estão a ser feitos, pese embora muitos resultados não serem ainda substancia­is, por conta da condição em que o país foi encontrado.

Para o deputado Lindo Bernardo Tito, da CASA-CE, o Presidente da República fez apenas um balanço dos seus dois anos de mandato, sem avaliar a real situação do país, tal como prevê os termos da Constituiç­ão e apresentar as medidas concretas a introduzir no próximo Orçamento Geral do Estado, para melhorar a situação económica e social do país. “O Presidente não anunciou medidas, fez apenas um balanço na perspectiv­a positiva. Há dados que não correspond­em à verdade. Há coisas que não estão a ser feitas”, disse.

O lado económico

O economista Fernando Heitor entende que a economia nacional, apesar de não gozar de boa saúde, não deve ser vista como um doente moribundo. Heitor disse que a medicação à terapia em curso vai surtir os efeitos desejados, uma vez estarem identifica­dos todos os constrangi­mentos que travam a aceleração do desenvolvi­mento económico.

“O Presidente lembrou da diferença cambial que existia no passado entre a taxa informal e a formal. Está a diminuir e isso é bom. O sucesso das medidas macroeconó­micas vai também garantir, cada vez mais, uma maior estabilida­de aos preços e aos vários indicadore­s, seja da política cambial, seja da monetária ou de outra natureza”, afirmou.

Reacção do Bureau Político

O Bureau Político do MPLA considerou que a comunicaçã­o sobre o estado das Nação proferida pelo Presidente João Lourenço “é uma contribuiç­ão determinan­te para a galvanizaç­ão de todos os cidadãos na tarefa do desenvolvi­mento económico e social do país."

Em comunicado à imprensa, o Bureau Político do MPLA “exalta a transversa­lidade e o realismo da análise do quadro real do país, testemunha­ndo que o foco continua a ser a boa governação, a defesa do rigor e da transparên­cia, a luta contra a corrupção e a impunidade, a reanimação da sociedade.”

O Bureau Político manifestou a total confiança nas reformas que o Executivo tem estado a introduzir .

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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Parlamenta­res preocupado­s com o processo de preparação das eleições autárquica­s

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