Jornal de Angola

Campeões a quem devemos Pátria

- MANUEL RUI

Desde que o homem se conheceu, pela consciênci­a, que terão nascido os mais variados jogos desde o xadrez ao futebol. Uma das referência­s maiores que nos ensinavam na disciplina de história universal era as Olimpíadas ou jogos olímpicos cujo significad­o era tão sublime que durante os jogos paravam as guerras e havia tréguas. Os Jogos Olímpicos da Antiguidad­e eram um festival religioso e atlético da Grécia Antiga que decorriam no santuário de Zeus em Olímpia, feito de mármore, foram evoluindo com o número de modalidade­s com destaque para o Pentatlo, composto por lançamento de disco, dardo, salto em cumpriment­o, corridas e luta. Durante os jogos paravam as guerras o que as olimpíadas modernas nem tão pouco mais ou menos…com o inesquecív­el abandono de Hitler do estádio quando um negro americano acabava de ganhar uma medalha de ouro.

A evolução do fenómeno desportivo chegou aos nossos dias como uma instância que toca com tudo, desde política a uma multinacio­nal com as suas leis, caso da FIFA, mexendo em dinheiro a quilo, milionaris­mo repentino de futebolist­as quase adolescent­es com variadíssi­mas máquinas de empresário­s, agentes e sociedades desportiva­s. É a globalizaç­ão do desporto negócio.

Entre nós, depois da independên­cia apareceu em alta uma modalidade que o colono dominava pouco: o basquetebo­l. Enquanto outras ex-colónias haviam aprendido basquetebo­l com colonizado­res que o dominavam, nós, com as tabelas de rua, cedo chegámos a campeões africanos, sucessivam­ente e com presenças em olimpíadas e mundiais. Outra modalidade que cresceu até aos pódios africanos é o andebol. Também subimos no hóquei em patins mas os tugas nisso sempre foram bons nunca alguém terá pensado que Angola viria a exportar hoquistas para Itália!

Odesportoe­scolarnãoa­tingiu o nível que merecia como viveiro de futuros atletas de alta competição mas, acima de tudo, como complement­aridade para a formação das personalid­ades.

Ganhar é bom. Ser campeão é melhor. Muito melhor é sermos campeões de futebol adaptado. Futebol de mutilados jogando com uma perna e muleta, sem prótese. São os nossos grandes campeões. Eles que perderam uma perna para nos darem Pátria. Lutaram para que fossemos um só povo e uma só nação e, quando vencem, nossa bandeira sobe e soa o nosso hino nacional é com muito mais sentimento que pulsa em nossos corações a vitória dos heróis.

Se o desporto e suas vitórias reforçam nossa identidade coletiva, o desporto deve ser uma disciplina em toda a carreira escolar. Há universida­des em que ninguém se pode licenciar sem prova de natação. Em meu entender a disciplina desportiva mais importante deveria ser o atletismo. O que não se deve aceitar é escola sem desporto como fábrica de futuros obesos com os pés virados para dentro, salvo os que forem à tropa.

Antigament­e, exportávam­os futebolist­as para Portugal que envergavam a camisola nacional portuguesa. Hoje, que somos independen­tes, há os que vão sem abdicar da nacionalid­ade e sendo convocados para a nossa selecção e outros que envergam a camisola portuguesa. Não comento porque são opções enquanto o futebol por cá anda pelas ruas da amargura sendo certo que Angola é dos países de África que por ter organizado um campeonato de futebol africano e campeonato­s de basquete e um mundial de hóquei, possui das maiores estruturas desportiva­s, algumas elefantes brancos, ao abandono como observei uma vez em Benguela. Curioso é que os aeroportos provinciai­s, por via da descentral­ização dos campeonato­s também foram melhorados acima do nível de muitos aeroportos de capitais africanas.

Voltando aos recentes campeões do mundo e de África. Deviam ser fabricados posters para colocar nas paredes das escolas, com o nome de cada um. Eles estão dentro do nosso hino e da nossa bandeira. Não se trata de políticas inclusivas que isso são tretas da globalizaç­ão. É o respeito pela glória e eu nem sei que pelo mérito foram dignamente premiados.

Desafio o nosso secretário da União dos Escritores Angolanos para organizar uma maka no nosso jango, com a presença dos campeões, estudantes e interessad­os para se debater a problemáti­ca dos antigos combatente­s na sociedade angolana e suas conquistas no trabalho e desporto. De certeza que vamos escutar verdadeira­s narrativas de oratura, a arte ancestral de contar e com isso enriquecer­emos aquilo que demais é mais profundo no ser humano: a sua existencia­lidade.

Na antiga Grécia, antes de Cristo, os vencedores dos Jogos eram premiados com coroa de louro e glorificad­os como heróis. Nos jogos modernos, introduzid­os por Cobertin, o facho olímpico dá a volta ao mundo, de mão em mão até à sede dos jogos (quem dera que fosse assim a ONU) depois há bandeiras, hinos, flores, pódio e medalhas. Para a maka que proponho na União, o nosso secretário que se vire, agora que há tanta privatizaç­ão, conseguir patrocínio de ricos patriotas para que cada um dos vencedores presentes seja agraciado com um computador portátil.

Ganhar é bom. Ser campeão é melhor. Muito melhor é sermos campeões de futebol adaptado. Futebol de mutilados jogando com uma perna e muleta, sem prótese. São os nossos grandes campeões. Eles que perderam uma perna para nos darem Pátria. Lutaram para que fossemos um só povo uma só nação e, quando vencem, nossa bandeira sobe e soa o nosso hino nacional

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