Classe artística no adeus a Chico Montenegro e Cajó
O cantor e instrumentista Chico Montenegro falecido sábado, foi ontem a enterrar ao som da célebre canção “Tete”, no cemitério de Sant’Ana, em Luanda. Embora o cenário fosse de tristeza, foi com aplausos que centenas de admiradores e familiares se despediram do “rei dos bongós”, num acto presenciado pela ministra da Cultura, Maria da Piedade de Jesus.
A classe artística chorou a morte de Chico Montenegro, durante o elogio fúnebre. Armando Rosa, em nome da União Nacional dos Artistas e Compositores (UNAC), enalteceu os feitos do malogrado, considerando que o bolero angolano perdeu a “principal estrela” e um dos melhores intérpretes no país. “O bolero perdeu aquele que melhor o criou, interpretou e se envolveu de corpo e alma, ao longo de décadas”, disse.
Como os demais angolanos daquela época, explicou, teve uma infância e adolescência difíceis, suportando a dureza dos tempos ásperos, mas sem nunca se ter afastado do caminho correcto. “Era sério, educado e sincero. Exerceu várias actividades para subsistir, inclusive foi ardina, mas foi como marceneiro que começou a construir o futuro, tendose iniciado nesta profissão com aqueles que um dia seriam os colegas de música, como Antoninho e Tony do Fumo”, disse.
Armando Rosa recordou, ainda, que foi na percussão que Chico Montenegro se destacou, tendo como “escola de base” o grupo carnavalesco Os Cazolas do Prenda, no qual começou a cantar e a tocar percussão.
Armando Rosa lembrou que foi nos Cazolas do Prenda, que Chico Montenegro e os amigos “forjaram” o talento e começaram a criar os “esboços”, com Inácio Verrinácio, para criar o grupo musical Os Jovens do Catambor, que depois inclui Zé Keno e Sansão, dando lugar aos Jovens do Prenda, em Outubro de 1968.
Em relação aos bongós, lembrou, houve uma elite que se destacou, da qual Chico Montenegro, por mérito e desempenho, fez parte. “Era um elenco composto pelo malogrado, pelos Jovens do Prenda, Juventino, dos Kiezos, Damião, dos Negoleiros do Ritmo, e Ventura, do Ndimba Ngola”, contou. Dom Caetano, companheiro de longa data, considerou, no elogio fúnebre, uma ironia do destino Chico Montenegro ter morrido na mesma data em que foi fundado o agrupamento Jovens do Prenda, 12 de Outubro.
Promessa
A ministra da Cultura, Maria da Piedade de Jesus, garantiu, no acto, continuar a dar apoio institucional à classe artística nacional, através das leis de protecção da propriedade individual, em especial a de origem artística, ligadas aos direitos de autor e conexos.
O país, disse, perdeu um dos melhores intérpretes da música nacional e Chico Montenegro deve servir de exemplo às novas gerações pelo legado que deixou.