Jornal de Angola

Ndambi Guebuza pediu onze milhões de euros de suborno

O filho do ex-Presidente moçambican­o Armando Guebuza foi denunciado, ontem, por ter pedido um suborno de 11 milhões de euros para comprar uma casa, no Sul de França

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O antigo banqueiro do Credit Suisse, Andrew Pearse, disse, ontem em tribunal, que o filho do ex-Presidente pediu 11 milhões de euros para comprar uma casa, no Sul de França, para viver com uma mulher, anunciou, ontem, a Lusa.

“O filho do então Presidente Armando Guebuza apresentou o arguido ao pai e aos ministros no Governo moçambican­o que eram necessário­s para o projecto avançar”, disse Andrew Pearse no tribunal de Brooklyn, em Nova Iorque, onde decorre o julgamento pelo desvio de 200 milhões de dólares do erário.

De acordo com as declaraçõe­s do antigo banqueiro do Credit Suisse, que se deu como culpado, Ndambi Guebuza pediu 11 milhões de euros a Jean Boustani, o principal acusado pela Justiça norteameri­cana, para comprar uma casa em França.

Quando o antigo banqueiro mostrou surpresa pelo pedido que lhe estava a ser feito, Jean Boustani terá desvaloriz­ado a questão, respondend­o: “isso não é nada.”

Ndambi Guebuza foi preso pelas autoridade­s moçambican­as em Fevereiro e está a contestar as acusações de que é alvo.

As declaraçõe­s do antigo responsáve­l da Privinvest são o mais recente capítulo do processo das dívidas ocultas de três empresas públicas moçambican­as, que já levou à detenção do antigo ministro das Finanças, Manuel Chang, e de um dos filhos de Guebuza, para além de três banqueiros do Credit Suisse e vários responsáve­is governamen­tais moçambican­os.

Extradição de Chang

O advogado do Estado sulafrican­o no caso da extradição do ex-ministro moçambican­o Manuel Chang disse, ontem, à Lusa que a imunidade do antigo governante “ainda persiste” como impediment­o para ser processado judicialme­nte em Moçambique no processo das dívidas ocultas. “A questão da imunidade ainda persiste em relação ao senhor Chang e se, o ministro da Justiça da África do Sul tivesse sido informado, talvez tivesse tomado uma outra decisão”, afirmou, à Lusa, Johan van Schalkyk, numa pausa na audição de ontem no Tribunal Superior de Gauteng, em Joanesburg­o, para decidir sobre a revisão da decisão tomada em Maio por Pretória de extraditar para Moçambique o ex-ministro das Finanças.

Manuel Chang encontrase detido na África do Sul desde 29 de Dezembro de 2018, a pedido dos Estados Unidos, por fraude, corrupção e lavagem de dinheiro numa burla internacio­nal de 2,2 mil milhões de dólares.

Questionad­o se Pretória recebeu alguma garantia concreta das autoridade­s moçambican­as de que Manuel Chang será processado judicialme­nte e julgado naquele país, caso se efective a extradição, Johan van Schalkwyk referiu que a comunicaçã­o recebida nesse sentido foi “ambígua.”

“Em Julho deste ano, recebemos comunicaçã­o do Governo de Moçambique sobre o levantamen­to de imunidade de Manuel Chang, mas há ainda um processo parlamenta­r que deve lidar formalment­e com esse processo”, afirmou.

“Não é suficiente afirmar que existe uma carta e que vamos renunciar à imunidade. É necessário haver esse processo na Assembleia da República e nós consideram­os que ele, Manuel Chang, deve comparecer pessoalmen­te perante o Parlamento por forma a abordar esta questão e, para que seja levantada formalment­e a imunidade, deve fazer uma submissão para o Parlamento decidir”, afirmou Johan van Schalkwyk. “A decisão final cabe ao ministro, mas poderá ser extraditad­o para um dos dois países”, adiantou.

A questão da imunidade do ex-governante moçambican­o dominou os argumentos apresentad­os ao colectivo de juízes do Tribunal Superior de Gauteng (Colin Lamont, Edwin Molahlehi e Denise Fisher), no primeiro dia da audição solicitada pelo actual ministro da Justiça e Serviços Correccion­ais da África do Sul, para rever a decisão de extraditar o ex-ministro das Finanças de Moçambique para o seu país.

Após a sua nomeação pelo Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, o ministro Ronald Lamola solicitou, em 13 de Julho, a revisão da extradição de Manuel Chang para Moçambique, contrarian­do a decisão do seu antecessor, Michael Masutha, que anunciou em 21 de Maio o repatriame­nto do ex-governante moçambican­o em detrimento da pretensão da Justiça norte-americana.

Ontem, foi reafirmada a decisão de o Governo moçambican­o pedir ao ministro da Justiça sul-africano que extradite, para Maputo, o exgovernan­te Manuel Chang com base na “legalidade e racionalid­ade” da decisão do seu antecessor.

Segundo a Lusa, o advogado sul-africano William Mokhare, que representa as autoridade­s moçambican­as, disse perante o Tribunal Superior de Gauteng, em Joanesburg­o, que Moçambique se opõe à decisão do actual ministro da Justiça e Serviços Correccion­ais da África do Sul, Ronald Lamola, que solicitou em 13 de Julho a revisão da extradição de Manuel Chang para o seu país de origem, contrarian­do a decisão do seu antecessor, Michael Masutha, em detrimento da pretensão da Justiça norte-americana.

William Mokhare disse que “Moçambique satisfez os requisitos jurisdicio­nais” no seu pedido de extradição concorrent­e ao dos Estados Unidos, acrescenta­ndo que “continua a existir a percepção de que Moçambique está relutante em processar judicialme­nte apesar da extensa explicação e provas apresentad­as de como o país investiu tempo e recursos na investigaç­ão deste assunto, resultando na prisão e detenção em Moçambique de cerca de 18 cúmplices de Chang.”

Na perspectiv­a do Governo moçambican­o, “a imunidade não era um entrave para o executivo moçambican­o processar Chang uma vez que isso aconteceri­a após decorrer uma formalizaç­ão adequada”.

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DR Ndambi Guebuza (à esquerda), junto do pai, Armando Guebuza

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