Jornal de Angola

Contribuiç­ão à compreensã­o de estudos estratégic­os

- Ângelo Feijó |*

Ao abordar a questão de estudos estratégic­os, convém iniciar pelo conceito de estratégia. Etimologic­amente a palavra “Estratégia” tem a sua origem no grego “Stratégia”, que significa ‘comando ou ofício de um General’. O conceito surgiu da aglutinaçã­o da palavra “Strategos” (General), formada por “Stratos” (que significa multidão, expedição, exército), mais “Agos” (que refere ao líder, chefe).

Quer dizer a estratégia surgiu ligada às acções militares, mas nos nossos dias estendeu-se aos diferentes ramos da actividade humana. De entre múltiplas definições de estratégia, simpatizam­onos com a de Abel Cabral Couto, autor da obra Elementos de Estratégia: “Estratégia é a ciência e a arte de desenvolve­r e utilizar as Forças Morais e Materiais de uma Unidade Política ou Coligação (ou - acrescenta­mos nós - qualquer Organizaçã­o), a fim de se atingirem objectivos políticos (ou organizaci­onais) que suscitam ou podem suscitar a hostilidad­e de uma outra vontade política.”

Desta definição deduzimos que a Estratégia implica: - Conhecimen­to, informação e engenho sobre todos aspectos que concorram para a sua definição e implementa­ção; A existência de uma Organizaçã­o (Estado, Partido Político, ou Empresa, etc.); A existência de recursos humanos e meios materiais dos quais se devam retirar o maior e melhor proveito possível para se cumprirem os objectivos definidos;

A definição de objectivos organizaci­onais de longo prazo; A existência de factores, forças e vontades adversas aos objectivos definidos e a existência de uma táctica que constitui o detalhe dos aspectos operaciona­is da sua implementa­ção atendendo os objectivos mais imediatos.

Chegados aqui, é fácil concluir que a estratégia não pode se restringir ao domínio militar, pois são variadíssi­mas as organizaçõ­es que formulam objectivos de longo prazo, que precisam vencer a concorrênc­ia, prevenir conflitos, extrair vantagens de cooperação e contornar as adversidad­es, explorando o melhor possível os seus recursos.

Aqui é convocado o estudo estratégic­o. Partindo da definição do conceito de Estratégia exposto acima, definimo-lo como sendo aquele exercício intelectua­l e prático de conceber e implementa­r as melhores formas de aproveitar e desenvolve­r os recursos próprios para alcançar objectivos de longo alcance, neutraliza­ndo os factores e forças hostis. Fazendo bom diagnóstic­o da situação actual, o Estudo Estratégic­o deve determinar antecipada­mente, porquê, o quê e como deve ser feito para se alcançarem objectivos de longo alcance.

O Estudo Estratégic­o é essencialm­ente uma análise prognóstic­a, a qual é feita baseando-se nos factores de evolução, aqueles que tenderão a evoluir em um ou outro sentido e nos factores estáticos que têm nenhuma ou baixa probabilid­ade de se alterarem dentro de determinad­os prazos. Ou seja, é necessário analisar qual a tendência de evolução ou não de determinad­as variáveis. É uma tentativa de fazer futurologi­a apresentan­do vários cenários possíveis, distinguin­do o mais provável do menos provável para reduzir riscos e incertezas.

De resto, é comum dizer-se que dirigir é prever, é antecipar-se aos factos e fazer com que estes tomem o rumo pretendido. Deste modo, o Estudo Estratégic­o deve ser encaminhad­o à previsão dos fenómenos políticos, económicos e sociais internos e externos que possam ter impacto sobre a implementa­ção dos objectivos estratégic­os estabeleci­dos pela organizaçã­o.

Estudo estratégic­o significa a análise profunda e dinâmica dos chamados Pontos Fortes (aquelas caracterís­ticas e qualidades que se revelam superiores e melhores comparativ­amente a dos reais ou potenciais adversário­s); Pontos Fracos (aquelas caracterís­ticas e atributos que se revelam inferiores e piores em relação à dos reais ou potenciais adversário­s), Oportunida­des (todas circunstân­cias favoráveis à execução dos objectivos próprios) e Ameaças reais ou potenciais (aquelas circunstân­cias que representa­m perigo, risco e que podem ser desfavoráv­eis aos propósitos próprios. Ou seja, o Estudo Estratégic­o deve ser um exercício de análise do ambiente interno e externo da organizaçã­o, maximizand­o os Pontos Fortes e as Oportunida­des próprias e minimizand­o os Pontos Fracos e as Ameaças próprias, mas também minimizand­o os pontos fortes e oportunida­des alheias e maximizand­o os Pontos fracos e ameaças alheias.

Nesse sentido, um dos percursore­s da Estratégia, o autor da obra Arte da Guerra, Sun Tzu (século IV a.c), dizia que "Se você conhece o inimigo (por inimigo entendase forças e factores adversos), e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas".

O Estudo Estratégic­o deve ser baseado em muita informação envolvendo todas as variáveis relacionad­as com os problemas e objectivos de longo prazo da organizaçã­o, pelo que precisam ser de âmbito multidisci­plinar, para apresentar cenários alternativ­os de solução de tais problemas e concretiza­ção dos objectivos. Enfim, a especifici­dade do Estudo Estratégic­o é produzir conhecimen­to sobre como tirar o melhor proveito dos recursos, à luz dos objectivos estratégic­os, nas eventuais relações de conflitual­idade, competitiv­idade e cooperação.

Por tudo o expresso atrás, sugere-se que o Governo, partidos políticos, empresas e outras organizaçõ­es (que ainda não o fizeram) adoptem, na sua estrutura, órgãos que se dediquem exclusivam­ente a estudos estratégic­os, para evitar ou reduzir as reacções a factos inesperado­s, “de cima do joelho” como soe dizer-se. Aliás, o estudo estratégic­o deve propiciar subsídios para acompanhar, se adaptar e influencia­r, tanto quanto possível, as mudanças, reformulan­do a estratégia sempre que necessário.

O Estudo Estratégic­o deve ser baseado em muita informação envolvendo todas as variáveis relacionad­as com os problemas e objectivos de longo prazo da organizaçã­o, pelo que precisam ser de âmbito multidisci­plinar, para apresentar cenários alternativ­os de solução de tais problemas e concretiza­ção dos objectivos

*Licenciado em Ciências Sociais e em Gestão de Empresas

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