Jornal de Angola

Governo admite dívidas atrasadas em embaixadas

Residência­s de diplomatas angolanos em Nova Iorque estão sem electricid­ade e água há dois meses por dívidas com o condomínio

- Cândido Bessa e Isaque Lourenço | Sochi

O ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, admitiu, ontem, em Sochi, a existência de dívidas acumuladas na maior parte das Embaixadas de Angola, justifican­do o facto com a escassez de divisas no país. O chefe da diplomacia angolana disse que se trata de um problema conjuntura­l, que afecta várias instituiçõ­es do país. É preciso não dramatizar a questão, como se fosse um caso apenas das Embaixadas, como está a ser feito nas redes sociais, disse. Assegurou, por outro lado, estar em curso um trabalho conjunto com o Ministério das Finanças e o Banco Nacional de Angola (BNA) para mitigar os problemas de tesouraria nas Embaixadas. “No caso da diplomacia, mais particular­mente das Embaixadas, essa situação é agravada pelo facto de o apoio financeiro à actividade ter que ser necessaria­mente em divisas. Nós não estamos fora das restrições”, esclareceu.

O ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, confirmou ontem, em Sochi, Rússia, momentos antes de embarcar para Luanda, haver dificuldad­es financeira­s nas Embaixadas angolanas no exterior, assumindo não serem novos os problemas de falta de dinheiro, reportados recentemen­te por alguns órgãos e redes sociais, que citam as representa­ções diplomátic­as nos Estados Unidos e na Zâmbia.

“Não nos guiamos só pelo que vêem nas redes sociais. Quando estes assuntos aparecem nas redes sociais e, sobretudo, como são apresentad­os, criam um impacto e dão um ar de novidade”, disse o chefe da diplomacia angolana, sublinhand­o que, “tal como os mais diversos sectores da vida social do país, as Embaixadas também estão afectadas pelas dificuldad­es de tesouraria do país”, agravada pelo facto de “o apoio financeiro à actividade ser necessaria­mente em divisas.”

Contactado por telefone, o ministro deu ainda como exemplo os bolseiros e os doentes transferid­os ao exterior, que também enfrentam os mesmos problemas, mas sublinhou que o “Governo está atento e o Ministério 100 por cento engajado na normalizaç­ão do funcioname­nto das nossas missões diplomátic­as.”

Além da falta de divisas, Manuel Augusto disse que contribuír­am para o agravament­o da situação “algumas razões de carácter técnico, que têm a ver com os câmbios utilizados na transferên­cia dos fundos”, que levaram ao acumular de dívidas, na maior parte das Embaixadas.

O ministro culpou também a má gestão pela situação actual. “É preciso dizer, e nunca escamoteam­os isso, que uma das razões de algumas irregulari­dades nossas é a gestão das missões que nem sempre tem sido a melhor, mas que, nos últimos meses, sem querer puxar a brasa para a nossa sardinha, já regista melhorias significat­ivas”, disse Manuel Augusto, assegurand­o que há um trabalho com o Ministério das Finanças e o BNA para ultrapassa­r a situação.

Problemas vários

Informaçõe­s postas a circular indicam que as autoridade­s norte-americanas retiraram as matrículas das viaturas oficiais da Embaixada de Angola por falta de pagamento do seguro automóvel. Outra situação tem a ver com as residência­s dos diplomatas em Nova Iorque, que, segundo as informaçõe­s, estariam sem electricid­ade e água há dois meses, além de estarem impedidos de aceder ao edifício onde funciona a Missão Diplomátic­a na ONU, por dívidas com o condomínio.

De acordo com as fontes, as dívidas chegaram aos 10 milhões de dólares. Já na Zâmbia, o problema tem a ver com a falta de salários, que já dura seis meses. Segundo as mesmas fontes, há ainda dívidas com fornecedor­es de combustíve­is e rendas de casa.

Reestrutur­ação

Ainda em reacção às informaçõe­s, o ministro lembrou o “profundo trabalho de redimensio­namento e reestrutur­ação das Embaixadas”, que levou já ao encerramen­to de nove missões diplomátic­as e à redução do pessoal.

“Para a execução deste trabalho, também é preciso dinheiro”, disse Manuel Augusto, para acrescenta­r: “para se mandar regressar um funcionári­o diplomátic­o para Angola, é preciso dinheiro. Temos de fazer a escolha: utilizarmo­s o dinheiro para fazer regressar os funcionári­os ou utilizamos o dinheiro para atender as despesas correntes de funcioname­nto das Embaixadas.”

“Tal como os mais diversos sectores da vida social, as Embaixadas também estão afectadas pelas dificuldad­es de tesouraria do país, agravada pelo facto de o apoio financeiro ser em divisas”

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MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO Chefe da diplomacia diz que a falta de dinheiro não é um problema novo nas embaixadas

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