Jornal de Angola

Economista­s destacam medida do BNA e apontam rumo a seguir

José Gonçalves defende rigor na gestão das divisas para as obrigações externas, bem como uma intervençã­o regular do banco central no mercado cambial

- Leonel Kassana

Alguns economista­s reagiram, sábado,durante um debate promovido pela Rádio Nacional de Angola, ao mais recente anúncio do Comité de Política Monetária do Banco Nacional de Angola, feito no final de uma reunião extraordin­ária e que liberaliza o mercado cambial, com base no equilíbrio entre a procura e a oferta.

Nessa reunião foi decidida a remoção da margem de 2, 00 por cento sobre a taxa de câmbio de referência praticada pelos bancos comerciais nas transacçõe­s de moeda estrangeir­a com o mercado interbancá­rio e com os clientes.

O economista José Gonçalves referiu que países como Angola, que importa quase tudo o que consome, a taxa de cambio é fundamenta­l, pois mexe com todos.

“Temos uma série de desafios pela frente, estamos numa situação em que há o risco mesmo de grande escassez de divisas, ou seja, que há uma diminuição do fundo de reservas, por um lado, mas, por outro, também não se vêem perspectiv­as de grande investimen­to internacio­nal, porque neste momento ele não está praticamen­te a ser feito em países africanos”, disse. “Há crise internacio­nal nesta matéria, que ameaça mesmo aprofundar-se um pouco”, ressaltou José Gonçalves.

Reconheceu, por outro lado, não haver capitaliza­ção interna, que permita, no imediato, substituir as importaçõe­s e que a solução é o recurso ao mercado, “para ver se aí se estabelece­m, primeiro, taxas que sejam reais, o que é uma subvenção na taxa de câmbio”.

Ora, disse José Gonçalves, “isso dura um certo tempo, depois disso entrase em crise”, alertou, notando que para responder à crise, a liberaliza­ção cambial é um recurso que pode não funcionar, “se for o único meio para resolver o problema”.

Adiantou, por isso, que nada pode substituir o aumento da oferta interna para garantir, neste caso, a “força” da moeda e impedir o seu deslizamen­to contínuo.

Sublinhou que o que se assiste em Angola é uma liberaliza­ção cambial, que é um recurso último, para fazer face a escassez de uma mercadoria, que é fundamenta­l para nós (ressalva que a moeda é considerad­a uma instituiçã­o numas escolas e mercadoria, noutras) e acrescenta que está-se perante um desafio “muito forte”, que é dar força à liberaliza­ção cambial com produção diversific­ada.

Alerta, entretanto, que os centros de decisão se não encontram executante­s privados, vão ter que tomar iniciativa­s que possam associar mais adiante àqueles. “Há muita desconfian­ça e desmotivaç­ão para o investimen­to, para a tomada de iniciativa­s, para investir na economia, de uma força geral e para aquele tipo de economia que seria a resposta às exigências imediatas”, referiu.

Para travar essa desmotivaç­ão, são precisas iniciativa­s claras, com exemplos, que sejam motivadore­s para o conjunto daqueles que pensam em acções que correspond­em à resultados concretos, advoga o economista.

“Só decretar que o câmbio é livre não é suficiente, temos aqui uma situação de livre liberaliza­ção voltada, sobretudo, para o mercado interno, com vários agentes que podem cambiar livremente a moeda, ao contrário de países, como a África do Sul em que esse processo tem a ver com movimentos para o exterior”, adianta.

Sublinha que na África do Sul só há restrições quanto à compra de divisas com a moeda local (Rand), pois internamen­te essa questão não se coloca porque a moeda tem força suficiente para se defender.

Gestão rigorosa

José Gonçalves avança duas soluções para as divisas: Uma gestão muito criteriosa dos recursos, que vão ser utilizadas nas obrigações com o exterior (pagamento de dívidas, serviços e mesmo produtos, como consumo e de capital)e alerta que a liberaliza­ção não exclui intervençõ­es do banco central, algo que acontece, com muita frequência, em países muito desenvolvi­dos, como os EUA.

“Os bancos centrais actuam dentro do mercado de câmbio, para correcções e esse factor tem que se manter bem presente em relação ao BNA”, refere.

O economista Rui Malaquias, também presente no debate da RNA, disse que a liberaliza­ção do mercado de divisas, feita pelo Banco Central, é uma indicação de que já se superou o clima de incertezas que os bancos comerciais tinham sobre o destino da moeda estrangeir­a.

“Já se superou o clima de incerteza que os bancos tinham criado quanto ao destino das divisas, porque nós tínhamos cenários em que os nossos bancos, por ordem dos importador­es adquiriam bens e serviços a um preço acima do que era praticado e, portanto, os bens chegavam a Angola com um preço muito elevado”, sublinhou.

O governador do Banco Central , José de Lima Massano, disse que a medida está em linha com a normalizaç­ão da economia e é necessária para alcançar um mercado cambial mais estável.

“Decretar que o câmbio é livre não é suficiente, temos aqui uma situação de livre liberaliza­ção voltada, sobretudo, para o mercado interno, com vários agentes que podem cambiar livremente a moeda, ao contrário de países, como a África do Sul em esse processo tem a ver com movimentos para o exterior”

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EDIÇÕES NOVEMBRO Flexibiliz­ação do mercado cambial foi decidida durante uma reunião extraordin­ária do Comité de Política Monetária do BNA

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