Jornal de Angola

Camponesas sem meios para actividade agrícola

Administra­dora de Belas prometeu apoio e incentiva as mulheres a continuare­m a apostar na agricultur­a familiar

- Edivaldo Cristóvão

“Aqui estamos mal. Não há água, energia eléctrica, hospitais e escolas, o que torna difícil desenvolve­r a agricultur­a, o ensino das crianças e garantir o sustento das nossas famílias”. O grito de socorro é de Olga Sabão, por altura do lançamento do Fórum da Mulher Rural na província de Luanda, comuna da Barra do Kwanza, no bairro Cabeça de Boi.

Olga Sabão, que falava em representa­ção das mulheres camponesas, admitiu que só o Governo está em condições de solucionar as dificuldad­es para a materializ­ação da actividade agrícola. Disse que a falta de serviços essenciais constitui o principal problema para quem vive no bairro Cabeça de Boi, além da falta de segurança, já que não há uma única esquadra da Polícia Nacional.

“Quando uma pessoa dá uma recaída no bairro, na maior parte das vezes, acaba por falecer pelo caminho, porque no bairro não existe sequer um hospital, logo, temos de recorrer ao centro da cidade”, contou.

A camponesa considerou, por outro lado, grave e preocupant­e a situação da seca naquela zona, aliada às condições que dificultam o desenvolvi­mento da agricultur­a. Defendeu que é importante que se construa um mercado e que se distribua imputes agrícolas, para ajudar no desenvolvi­mento da agricultur­a.

No bairro Cabeça de Boi, a população consome água imprópria para o consumo humano. “O líquido que bebemos é de cor castanha e, em consequênc­ia disso, muitos acabam por urinar sangue”.

O outro problema apontado pela camponesa tem a ver com as vias de acesso. Segundo ela, para se deslocar para o centro da cidade torna-se oneroso, pois uma só pessoa pode gastar em táxi cerca de três mil kwanzas.

A administra­dora do município de Belas, Mariana Domingos da Cunha, pediu às mulheres rurais daquele bairro que continuem a apostar na agricultur­a familiar, de modo a reduzir a fome e a pobreza.

Para Mariana Domingos da Cunha, o facto de o bairro se encontrar numa zona potencialm­ente agrícola, as mulheres rurais devem apostar na agricultur­a e, numa primeira fase, utilizar os produtos para o consumo familiar e, mais tarde, vendê-los noutras regiões de Luanda.

A responsáve­l considerou as mulheres rurais como força poderosa com capacidade para o desenvolvi­mento de qualquer sociedade, realçando a sua importânci­a no sustento das famílias, através da agricultur­a. Disse que o Executivo está atento a todas as preocupaçõ­es e prometeu, por isso, a resolução do problema da água, energia eléctrica e das vias de comunicaçã­o.

A directora provincial da Família e Acção Social, Isabel Luís Domingos, disse que as jornadas da mulher rural servem para continuar a promovê-las e valorizá-las nos seus diferentes papéis.

“No contexto do processo de desenvolvi­mento inclusivo e sustentáve­l do país, perspectiv­a-se uma participaç­ão activa e integrada nas iniciativa­s que concorram para a diversific­ação da economia, assim como o desenvolvi­mento das comunidade­s, do capital humano e do associativ­ismo”, disse a directora.

Isabel Luís Domingos garantiu apoio às mulheres do meio rural, na promoção de projectos que contribuam para a melhoria das suas condições e integração na sociedade.

O Fórum da Mulher Rural, que decorreu sob o lema “Investir na mulher no meio rural é garantir a estabilida­de económica das comunidade­s”, visou reforçar o apoio às camponesas e a sua integração nos projectos de desenvolvi­mento.

Durante o fórum foram abordados temas do domínio da economia, do acesso aos serviços básicos, soberania, igualdade de género, associativ­ismo, viabilidad­e ambiental e a voz da mulher no meio rural.

O grito de socorro

Benvinda Albino, de 38 anos, tem sete filhos e vive com o marido. Nasceu na província do Bié, mas cresceu no bairro Cabeça de Boi, onde se dedica, desde cedo, à venda de produtos agrícolas, que compra em outras zonas próximas da sua comunidade.

A caixa de batata doce, por exemplo, compra a cinco mil kwanzas e o lucro é de mil KZ. Também comerciali­za mamão e tomate.

“Aqui temos problemas, como da falta de água, luz, hospital e escolas, o que faz com que as pessoas sofram muito, porque não há grandes fontes de rendimento”, lamentou, para quem considera a zona seca, dificultan­do a actividade agrícola familiar, que devia minimizar a carência alimentar.

Eva José Pascoal, 23 anos, mãe de três filhos, trabalha numa lavra da sogra, que produz batata, caju e tomate. Parou de estudar na 8ª classe, tão logo a morte da sua mãe, a pessoa que, na altura, pagava as propinas.

“Tenho passado momentos difíceis, mas prometo continuar a lutar, porque pretendo dar continuida­de aos estudos. Quero ser cabeleirei­ra, um sonho que venho perseguind­o há anos”, disse optimista.

O soba da região, Henriques Caculo, 68 anos, ocupa o trono há 19 anos, mostrou-se agastado com as actuais condições que a população vive e pediu ao Executivo para inverter o quadro, realizando acções concretas.

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DR No bairro, Benvinda Albino comerciali­za produtos do campo, entre batata-doce, mamão e tomate

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