Jornal de Angola

Uma perspectiv­a dos direitos humanos como mandam as regras internacio­nais

- Eduardo Magalhães |*

Angola merece hoje uma avaliação positiva da comunidade internacio­nal decorrente do novo ambiente de combate à corrupção e à impunidade em curso há dois anos.

Há, indubitave­lmente, uma conquista do sistema de justiça angolano, traduzida na forma de credibilid­ade e confiança aos olhos do mundo. Se com isso há reflexos internos, na consolidaç­ão dos direitos, liberdades e garantias, sobretudo quando comparado ao passado recente, também na economia isso se faz sentir, pois as instituiçõ­es financeira­s internacio­nais vislumbram de maneira optimista e positiva o sistema de justiça nacional.

Ainda que num debate mais profundo sobre os conceitos de soberania haja sempre aqueles que considerem que a protecção dos direitos humanos e o fortalecim­ento do sistema judicial não devem ser reduzidos ao domínio reservado do Estado, isto é, não devem se restringir à competênci­a nacional exclusiva ou à jurisdição doméstica exclusiva, porque revela tema de legítimo interesse internacio­nal, devemos valorizar o facto de que Angola hoje atrai muito mais as intenções de investimen­to por parte de investidor­es globais de referência.

Prenuncia-se, deste modo, o fim da era em que a forma pela qual o Estado tratava os seus nacionais era concebida como um problema de jurisdição doméstica, decorrente da sua soberania, factor que permitiu o surgimento do autoritari­smo e também da figura de “donos disto tudo”, terminolog­ia commumente usada para designar governante­s que deveriam servir ao país e ao povo, mas que passaram a servir-se de ambos desalmadam­ente.

A soberania angolana hoje passa necessaria­mente pela garantia de um sistema judicial actuante e capaz de atender às solicitaçõ­es internas, numa perfeita simbiose com aquilo que é exigido no âmbito internacio­nal. Por outras palavras, Angola deixa de ser “a Ilha da Fantasia” e passa a ser um país vocacionad­o à modernidad­e e adaptação exigidos além fronteiras para que os avanços sociais e económicos internos deixem de ser uma peça de propaganda e passem a ser sentidos na nossa rotina.

No que diz respeito ao sistema judicial angolano, estamos a viver nos últimos dois anos a construção de uma ideia de direitos humanos de forma dialéctica, em razão do diálogo de dois mundos: o interno, que foi marcado até há pouco tempo por um conjunto de práticas atípicas no mundo jurídico; e o externo, que tem as principais escolas do direito e bons exemplos de outros países.

Com isso, está a ser ampliada a perspectiv­a de que os direitos humanos são um processo de lutas para busca da garantia de bens necessário­s para a existência do ser humano, no nosso caso os angolanos. Neste sentido, está a ser reforçada a consciênci­a de que o sistema judicial deva ser visto como uma referência naquilo que temos como direitos e garantias, mas também como aquilo que é praticado às claras, de maneira transparen­te e justa, em termos rigorosos.

Os avanços que se fazem sentir no sistema judicial angolano irão exigir dos actores jurídicos uma incorporaç­ão do papel de agentes propagador­es de uma ordem jurídica actual e renovada, verdadeira­mente democrátic­a e capaz de garantir os princípios dos direitos humanos e económicos (inclusive nas relações empresaria­is), regida nos parâmetros constituci­onais e internacio­nais.

Dito de outro modo, com os direitos humanos globais e com o recente reconhecim­ento de Cortes Internacio­nais de que Angola está a avançar para a garantia desses direitos, os avanços dos direitos fundamenta­is internos estão em conformida­de com uma perspectiv­a inovadora e contemporâ­nea, capaz de conjugar o Direito Interno e Internacio­nal, sem prejuízo para a soberania nacional.

Por fim, podemos reconhecer que está a ser introduzid­o no sistema judicial do nosso país o sentimento de que o desenvolvi­mento socioeconó­mico só poderá ser uma realidade se os princípios da transparên­cia passarem a ser incorporad­os como algo inseparáve­l das práticas políticas e económicas. Desta forma, os direitos humanos passam a compor a plataforma emancipató­ria contemporâ­nea, voltada para a revitaliza­ção e resgate da dignidade humana. Aspiração de todos nós, angolanos.

Os avanços que se fazem sentir no sistema judicial angolano irão exigir dos actores jurídicos uma incorporaç­ão do papel de agentes propagador­es de uma ordem jurídica actual e renovada, verdadeira­mente democrátic­a e capaz de garantir os princípios dos direitos humanos e económicos

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola