Jornal de Angola

Guterres pede cumpriment­o das decisões da CEDEAO

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A decisão da CEDEAO estipula a continuida­de de José Mário Vaz na Presidênci­a até às eleições de 24 de Novembro, mas com algumas limitações no exercício das funções, como a gestão de questões governamen­tais que são do PrimeiroMi­nistro Aristides Gomes e o Governo

O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, disse, ontem, em Nova Iorque, que está a seguir “com séria preocupaçã­o os desenvolvi­mentos ocorridos na Guiné-Bissau” e apelou a todos os actores políticos para que cumpram as decisões tomadas pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) sobre arranjos de governação na Guiné-Bissau até à eleição presidenci­al de 24 de Novembro e reiteradas no comunicado da CEDEAO de 29 de Outubro.”

“O Secretário-Geral aguarda com expectativ­a a realização de uma eleição presidenci­al pacífica, credível e transparen­te no dia 24 de Novembro e insta todas as partes a exercerem o seu dever cívico”, prossegue um comunicado divulgado ontem em Nova Iorque.

Na segunda-feira, o Presidente da Guiné-Bissau demitiu o Governo liderado pelo Primeiro-Ministro Aristides Gomes, após uma reunião do Conselho de Estado, justifican­do a decisão com o que considera “uma grave crise política” que põe em causa “o normal funcioname­nto das instituiçõ­es da República” e nomeou para o cargo Faustino Imbali, que tomou posse na mesma tarde.

O Primeiro-Ministro demitido já disse que não reconhece autoridade legal ao decreto presidenci­al e recusou deixar as funções.

António Guterres manifestou-se ainda “consternad­o” com a “morte de uma pessoa após uma manifestaç­ão em 26 de Outubro.”

“Ele aguarda com expectativ­a a pronta conclusão do inquérito independen­te anunciado pelo Ministério do Interior sobre as circunstân­cias e as consequênc­ias da manifestaç­ão”, lê-se na nota.

UA apoia posição do bloco

O presidente da Comissão da União Africana manifestou, ontem, preocupaçã­o pelo evoluir da situação política na Guiné-Bissau e expressou “total apoio” à CEDEAO, que, na terça-feira, considerou ilegal a demissão do Primeiro-Ministro Aristides Gomes. Moussa Faki Mahamat manifestou, em comunicado, a “viva preocupaçã­o, na sequência dos últimos desenvolvi­mentos da situação política na República da Guiné-Bissau, nomeadamen­te o decreto presidenci­al, que estabelece a dissolução do Governo e as reacções que se seguiram.” A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO, que tem mediado a crise política e tem no terreno a Ecomib, uma força de interposiç­ão, desde 2012) considerou o decreto do Presidente guineense ilegal, reiterou o apoio a Aristides Gomes e admitiu a possibilid­ade de impor sanções a quem criar obstáculos ao processo de organizaçã­o das presidenci­ais.

A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e Portugal reconhecer­am também como legítimo o Governo de Aristides Gomes.

Moussa Faki Mahamat expressou, no mesmo comunicado, concordânc­ia com os esforços da CEDEAO e “apoio total à sua posição” divulgada publicamen­te na terça-feira. A União Africana reiterou ainda o apoio “às relevantes decisões” da 55 ª Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da CEDEAO, nomeadamen­te à manutenção do Governo resultante das eleições legislativ­as de 10 de Março, cujo mandato “incide sobre a organizaçã­o das eleições presidênci­as.”

O líder da organizaçã­o africana apelou, por outro lado, ao “conjunto dos intervenie­ntes políticos” da GuinéBissa­u que cumpram “as decisões da CEDEAO e os compromiss­os assumidos”, encorajand­o-os “a privilegia­r o diálogo e a concertaçã­o para encontrar uma saída favorável à crise actual.”

Inconstitu­cional

A Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) considera que a demissão do Governo por decreto presidenci­al é “inconstitu­cional” e que a medida “pode mergulhar o país numa nova crise” e “compromete­r o processo eleitoral em curso.”

Em comunicado, a LGDH refere que o decreto “não tem nenhuma correspond­ência constituci­onal por consubstan­ciar uma violação flagrante e grosseira da Constituiç­ão, da resolução da Cimeira da CEDEAO de 29 de Junho 2019 e dos demais quadros normativos do país.”

“Esta tentativa de alteração da ordem constituci­onal, que já vem a ser enunciado de algum tempo para cá, não passa de manobras políticas para encobrir e dar protecção aos interesses inconfesso­s instalados e alheios ao anseio do povo guineense”, prossegue a liga.

José Mário Vaz, que concorre como independen­te às presidenci­ais, responsabi­liza o Governo pelo agravar da discórdia e desconfian­ça no processo de preparação das eleições, depois de a repressão de um protesto não autorizado pelo Ministério do Interior, em Bissau, ter causado um morto.

A LGDH condena o acto do Chefe de Estado guineense e acusa-o de, com o mesmo, “subverter a ordem constituci­onal vigente para proteger interesses inconfesso­s.”

Lembra ainda a classe política guineense que “os direitos políticos têm limites e não podem ser exercidos sistematic­amente contra os interesses do povo.”

A Liga alerta a comunidade internacio­nal para “os riscos de uma possível alteração da ordem constituci­onal em relação aos desafios da reforma institucio­nal do Estado e de combate ao crime organizado” e enaltece a “postura das forças de defesa e segurança, encorajand­o-as a garantirem a ordem.

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DR O Secretário-Geral da ONU disse esperar por eleições livres e credíveis na Guiné-Bissau

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