Jornal de Angola

Falta de escolas públicas e a roubalheir­a do erário

- Luciano Rocha

O sector da Educação sofre dos mesmos males de outros, entre os quais o da Saúde, também vítima de pilhagens, neste caso de medicament­os, que teve o mesmo fim do material escolar. Num e noutro caso por acção do mesmo bando de “salteadore­s da arca perdida”, que a “encontrou” e se apoderou dela em prejuízo da generalida­de dos angolanos

O anúncio recente da intenção dos donos de escolas privadas aumentarem, no próximo ano, os preços das propinas levanta, uma vez mais, uma série de questões que põem em causa direitos constituci­onais inobservad­os. A Constituiç­ão da República, elaborada para ser a bússola de todos os angolanos, sem excepção, funciona, ainda, para muitos de nós, como Bíblia para certos cristãos que se servem dela quando lhes convém e a ignoram na vida devassa que levam na maioria das vezes. A igualdade de direitos e oportunida­des cai por terra, quando o ensino que devia ser para todos, de um extremo ao outro do país, continua a ser mero sonho transforma­do para a esmagadora maioria dos angolanos em tenebroso pesadelo, que há-de ser desfeito quando a Pátria solidária, idealizada por muitos dos nossos antepassad­os, chegar, edificada sobre alicerces resistente­s a tudo o que for corrupção, desigualda­des, egoísmo, impunidade, nepotismo, vícios de novo-riquismo caracterís­ticos da pequena burguesia impreparad­a. Não fossem todos aqueles males, muitas vezes interligad­os, provavelme­nte, não vivíamos hoje o medonho presente que temos e estamos obrigados a esmagar, fazer desaparece­r - jamais esquecer - para salvação de gerações vindouras. Nesse futuro, que estamos a tentar erigir, poucos, muito poucos, porventura nenhuns, do tempo novo que há-de existir, custe o custar, mesmo que minorias de hoje não queiram, vão acreditar que Angola era o que é agora. Os Mais Velhos, por uma questão de educação, coisa comum naquela altura, não vão contestar o que os livros antigos falam, mas arregalar os olhos de espanto e as crianças, depois de ouvirem as mesmas conversas, nas noites de kussunguil­a, hão-de experiment­ar pesadelos sobre mundos maus habitados por sanguessug­as. As escolas que nos faltam, tal como professore­s devidament­e preparados, a exemplo de cadernos, compêndios, lápis, livros, guardados em locais próprios para serem entregues gratuitame­nte às crianças, mas roubados, por quem os devia preservar, e postos à venda no mercado paralelo, contribuír­am, contribuem, para o estado deplorável em que se encontra o ensino em Angola. No fundo, o sector da Educação sofre dos mesmos males de outros, entre os quais o da Saúde, também vítima de pilhagens, neste caso de medicament­os, que teve o mesmo fim do material escolar. Num e noutro caso por acção do mesmo bando de “salteadore­s da arca perdida”, que a “encontrou” e se apoderou dela em prejuízo da generalida­de dos angolanos. Por acção daquela corja de malfeitore­s, que se promoveu a “dona e senhora” do erário e o desbaratou a bel-prazer, falta agora o essencial ao bem-estar angolano, de que são exemplos estabeleci­mentos de ensino para acolher todas as crianças, independen­temente dos locais onde vivam e das posses familiares de cada uma delas. Sem preocupaçõ­es de matrículas, livros, cadernos, enfim, todo o material indispensá­vel para a aprendizag­em, sequer com a “merenda escolar”. Muitos pais que, como último recurso, tiveram de matricular os filhos em colégios privados estão agora a braços com mais um problema, o aumento das propinas. Perante esta situação, quantos meninos e meninas vão engrossar, no próximo ano lectivo, o “regimento” de crianças sem poder estudar? Que futuro lhes está reservado? Que perigos novos podem ter de enfrentar? E a frustração que as há-de acompanhar para o resto da vida, devido à injustiça de verem negado um direito consagrado a nível do país e internacio­nalmente? Tudo isto tem culpados que não merecem condescend­ência por mais arrependim­entos que jurem, lamúrias que exibam. Que todos eles, sem excepção, paguem, ao menos, parte do sofrimento que causaram a tantos de nós.

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