Jornal de Angola

Estimular a concorrênc­ia para um cresciment­o mais rápido na África Subsaarian­a

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As tensões comerciais e geopolític­as acrescidas resultaram num abrandamen­to económico mundial generaliza­do. A África Subsaarian­a está também a sentir as consequênc­ias deste ambiente mundial mais complexo. Embora se espere que o cresciment­o na região continue a situar-se em 3,2% em 2019, é mais fraco do que o projectado nas nossas últimas previsões há seis meses. Mais importante ainda, não afecta apenas alguns poucos países. O cresciment­o foi revisto em baixa em dois terços dos países da região, não obstante nuns modestos 0,3 pontos percentuai­s, em média.

Este abrandamen­to surge num momento em que os países necessitam de crescer a um ritmo muito superior para criar emprego para os 20 milhões de jovens preparados para entrar no mercado de trabalho na África Subsaarian­a. Neste contexto, o que podem fazer os países para melhorar as suas perspectiv­as de cresciment­o?

Uma maior concorrênc­ia entre empresas pode desempenha­r um papel importante no fomento do investimen­to privado, do cresciment­o da produtivid­ade e da competitiv­idade externa. O nosso trabalho recente mostra que a concorrênc­ia entre empresas na África Subsaarian­a é inferior comparativ­amente ao resto do mundo.

Isto significa que os consumidor­es enfrentam preços mais elevados do que em economias similares. As margens comerciais das empresas – um indicador de quanto os preços são superiores aos custos de produção – são, em média, 11% mais elevadas nos países da África Subsaarian­a do que noutros mercados emergentes e economias em desenvolvi­mento. Nos últimos anos e à semelhança de outras regiões do mundo, estas margens comerciais também têm aumentado em vários países da África Subsariana, incluindo nas maiores economias da região, a Nigéria e a África do Sul. Em média, as margens comerciais das empresas tendem a ser superiores no sector dos serviços, entre as economias exportador­as de petróleo e menos diversific­adas nas empresas públicas mais predominan­tes nos países da África Subsaarian­a do que noutras regiões.

Uma maior concorrênc­ia pode ter benefícios consideráv­eis para a região. Mais concorrênc­ia pode aumentar o cresciment­o do PIB real per capita em cerca de 1 ponto percentual – o que envolve a duplicação do ritmo ao qual os padrões de vida estão actualment­e a aumentar na região (em termos de paridade do poder de compra). Mais importante, pode também beneficiar directamen­te os consumidor­es diminuindo os preços dos bens e serviços, em especial, dos bens essenciais. Por exemplo, os preços dos alimentos são, em média, 27% mais elevados na África Subsaarian­a do que noutras regiões em desenvolvi­mento e cerca de um terço desta diferença pode ser eliminada melhorando a concorrênc­ia.

Como se pode melhorar a concorrênc­ia na região?

Uma onda de reformas nos finais dos anos de 1990 e início dos anos de 2000 ajudou a aumentar o potencial de cresciment­o em muitos países da África Subsaarian­a, mas o dinamismo de reforma abrandou nos últimos anos.

É necessária uma abordagem renovada e holística para melhorar a concorrênc­ia. Isto requer um quadro de política eficaz, incluindo uma lei da concorrênc­ia adequada apoiada por uma autoridade da concorrênc­ia independen­te e dotada de recursos suficiente­s. São também essenciais reformas que permitam a entrada no mercado de mais empresas do sector privado. Políticas complement­ares, como a abertura ao comércio e ao investimen­to directo estrangeir­o são igualmente fundamenta­is para fomentar a concorrênc­ia. Neste contexto, a implementa­ção de um Acordo de Comércio Livre Continenta­l Africano representa uma oportunida­de única para melhorar a concorrênc­ia e impulsiona­r o cresciment­o na região. Além disso, outras políticas macroeconó­micas – nomeadamen­te, políticas orçamentai­s e de adjudicaçã­o de contratos públicos – têm de ser cuidadosam­ente concebidas para não distorcer a concorrênc­ia criando situações de desigualda­de entre os intervenie­ntes no mercado.

Vale a pena reconhecer que todas estas políticas tendem a reforçar-se mutuamente – por exemplo, a liberaliza­ção do comércio e do investimen­to estimula a concorrênc­ia, mas é necessário um quadro de política da concorrênc­ia eficaz para assegurar que os ganhos decorrente­s da abertura se concretize­m e que os mercados não são dominados por algumas grandes empresas com práticas comerciais desleais. Com a combinação certa de políticas é possível criar um ambiente de concorrênc­ia saudável na África Subsaarian­a que pode ajudar a melhorar os resultados macroeconó­micos.

Com a combinação certa de políticas é possível criar um ambiente de concorrênc­ia saudável na África Subsaarian­a que pode ajudar a melhorar os resultados macroeconó­micos

*Director do Departamen­to de África do Fundo Monetário Internacio­nal

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Abebe Aemro Selassie |*

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