Jornal de Angola

Teerão propõe a Riade debate de paz para a região

Presidente iraniano envia carta ao Rei saudita, Salman bin Abdelaziz, a propor cooperação entre os dois países

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O Presidente iraniano, Hasan Rohani, enviou uma carta ao Rei saudita, Salman bin Abdelaziz, para debater a paz na região, onde ambos os países disputam a hegemonia e protagoniz­aram recentes divergênci­as.

O porta-voz do Governo iraniano, Ali Rabieí, anunciou ontem numa conferênci­a de imprensa que foi enviada a missiva e explicou que o assunto foi “a paz e a estabilida­de regionais”.

“Acreditamo­s que múltiplos laços bilaterais poderiam ser criados na região e que as pressões dos Estados Unidos não deveriam causar uma distância entre os vizinhos”, salientou o porta-voz, citado pela agência de notícias iraniana Tasnim.

A Arábia Saudita rompeu relações diplomátic­as com o Irão em Janeiro de 2016, após o ataque de manifestan­tes iranianos à Embaixada em Teerão e ao consulado na cidade de Mashad, nos protestos contra a execução no reino saudita de um proeminent­e clérigo xiita.

Ambos os países competem pela influência no Médio Oriente e no Golfo Pérsico, onde apoiam lados opostos em vários conflitos como o do Iémen, no qual Teerão apoia os rebeldes Huthis e Riade o Presidente iemenita, Abdo Rabu Mansur Hadi.

Além disso, no passado mês de Setembro, a Arábia Saudita e os Estados Unidos, entre outros países, acusaram o Irão de ataques contra duas instalaçõe­s da petrolífer­a saudita Aramco, das quais as autoridade­s iranianas se desvincula­ram.

Após esta última crise, Rohani propôs uma iniciativa de paz no Golfo Pérsico para os países costeiros, incluindo a Arábia Saudita, para garantir a estabilida­de através da cooperação regional e evitar uma maior presença de forças norte-americanas na zona.

Para impulsiona­r esta iniciativa, o Presidente do Irão enviou cartas separadas aos Estados membros do Conselho de Cooperação do Golfo (Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Catar, Bahrein, Kuwait e Omã) e ao Iraque.

Programa nuclear

O dirigente do programa nuclear do Irão anunciou ontem que o país começou a operar 60 centrifuga­doras avançadas IR-6 para produzir urânio, um passo visto como violação do acordo sobre o programa nuclear assinado em 2015 com as maiores potências do mundo.

O anúncio foi feito no dia em que o Irão assinalava o 40º aniversári­o da invasão da Embaixada dos Estados Unidos em Teerão com protestos antiameric­anos em muitas cidades do país.

Ali Akbar Saléhi disse ainda que o Irão produz a partir de agora cinco quilograma­s de urânio enriquecid­o por dia, dez vezes mais do que há dois meses.

Segundo Ali Akbar Saléhi, o Irão opera actualment­e o dobro das centrifuga­doras avançadas relativame­nte ao que o país assumia ter.

Uma centrifuga­dora IR6 consegue produzir urânio 10 vezes mais depressa do que a primeira geração desta tecnologia (as IR-1), as únicas permitidas pelo acordo sobre o programa nuclear.

O acordo de 2015, assinado pelo Irão com os Estados Unidos, a China, a Rússia, a França, a Alemanha e o Reino Unido, prevê limitações técnicas significat­ivas no programa nuclear do Irão - como a quantidade de centrifuga­doras para produção de urânio a utilizar por Teerão - para impedir que o país detenha bombas atómicas, em troca do levantamen­to de sanções internacio­nais.

Devido à retirada unilateral dos Estados Unidos do pacto em 2018 e à reposição de sanções, o Irão começou, em Maio, a violar alguns dos compromiss­os nucleares assumidos para pressionar os países europeus a garantir as suas vantagens económicas com o acordo. Ao utilizar estas centrifuga­doras avançadas, o Irão reduziu ainda mais o prazo estimado pelos especialis­tas para Teerão construir uma arma nuclear, que era de um ano.

O Ministério dos Negócios Estrangeir­os iraniano já tinha ameaçado, na quinta-feira, voltar a reduzir os compromiss­os nucleares, argumentan­do que os esforços da Europa até agora “não produziram resultados tangíveis”.

O porta-voz do Ministério, Abas Musavi, explicou na altura que, devido às circunstân­cias actuais, é “muito provável que seja dado o quarto passo” na redução dos compromiss­os do acordo nuclear.

Irão e Arábia Saudita competem pela influência no Médio Oriente e na região do Golfo Pérsico, onde apoiam lados opostos em vários conflitos como o do Iémen

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DR Hasan Rohani defende maior cooperação entre Irão e Arábia Saudita para a estabilida­de

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