CEDEAO faz advertência a Mário Vaz
A organização regional, que reuniu ontem, em Niamey, Níger, considera que qualquer recurso às Forças Armadas ou de segurança para impor pela força qualquer acto ilegal será tido como um golpe de Estado
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) decidiu, ontem,aumentaraforçamilitarnaGuiné-Bissaueadvertiu o Presidente José Mário Vaz de que qualquer tentativa de usar as Forças Armadas para impor um acto ilegal será “considerada um golpe de Estado”, que vai merecer a pronta intervenção dos países da região.
A CEDEAO decidiu, ontem, reforçar a força militar na Guiné-Bissau e advertiu o Presidente José Mário Vaz de que qualquer tentativa de usar as Forças Armadas para impor um acto ilegal será “considerada um golpe de Estado”. No comunicado final da cimeira extraordinária realizada, ontem, em Niamey, no Níger, os Chefes de Estado da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) decidiram “reforçar a Ecomib para permitir fazer face aos desafios que se colocam antes, durante e depois das eleições, nomeadamente com o reforço dos efectivos e do mandato” da missão. No documento, recordam que o Presidente guineense, José Mário Vaz, é “um Presidente interino” desde 23 de Junho, quando terminou o mandato, e que “todos os seus actos devem ser subscritos pelo Primeiro-Ministro, a fim de lhe conferirem legalidade”. A CEDEAO considera, por isso, “que qualquer recurso às Forças Armadas ou de segurança para impor pela força qualquer acto ilegal será tido como um golpe de Estado e levará à imposição de sanções a todos os responsáveis”. No comunicado, a organização regional reitera que reconhece Aristides Gomes como Primeiro-Ministro e voltou a exigir a demissão do Chefe do Governo nomeado pelo Presidente, Faustino Imbali, o que já aconteceu.
Primeiro-Ministro demite-se
O Primeiro-Ministro Faustino Imbali, nomeado pelo Presidente cessante da Guiné-Bissau, mas rejeitado pela maioria da comunidade internacional, demitiu-se ontem do cargo, noticiou a Lusa. Imbali disse, na carta dirigida a José Mário Vaz, ter tomado a decisão de se demitir para permitir ao Presidente guineense “ter chance de reformular a história política” da Guiné-Bissau e não permitir que forças estrangeiras “desestabilizem e zombem” da nação guineense. O agora ex-Primeiro-Ministro pediu a José Mário Vaz que lhe permita demitir-se do cargo “com efeito imediato”. José Mário Vaz disse, quinta-feira, que evitou uma guerra entre os guineenses ao não insistir no cumprimento da ordem para a entrada em funções do Governo de Faustino Imbali. Num comício popular em Nhacra, no âmbito da campanha eleitoral, em que busca a reeleição no cargo no dia 24, José Mário Vaz afirmou ter percebido que há uma divisão entre os militares, a Polícia e a Guarda Nacional, que poderia levar a um conflito armado no país. O também Chefe de Estado notou que se apercebeu desta divisão nas duas reuniões que realizou no âmbito do Conselho Superior de Defesa do país, em que instou as Forças Armadas a cumprirem a ordem de despejo dos membros do Governo do Primeiro-Ministro, Aristides Gomes, que demitiu por decreto presidencial. José Mário Vaz disse ter sentido que os militares estavam de um lado, e do outro estavam a Polícia e a Guarda Nacional, em relação à sua decisão, mas sem que se perceba qual a força que estava do seu lado. “Quando há esta divisão, o que é que as pessoas querem?”, perguntou o recandidato, recebendo como resposta da assistência: “guerra”. O político guineense afirmou que no primeiro dia da reunião do Conselho Superior de Defesa, na segunda-feira, "algumas pessoas disseram que não vão executar a ordem” de desalojar o Governo de Aristides Gomes, para permitir a instalação do Executivo de Faustino Imbali. Já no segundo dia da reunião, na terça-feira, ficou acordado que cada uma das forças “iria assumir com as suas responsabilidades”, indicou José Mário Vaz, para sublinhar que a sua ordem não foi cumprida. “Falámos até quase a 1h00, chegámos a um acordo em como todos iriam assumir as suas responsabilidades. Já ontem (quarta-feira), tudo o que conversámos já não valia nada”, declarou Mário Vaz. O dirigente guineense avisou os jovens que o país está ameaçado, mas que enquanto for Presidente não vai aceitar que haja derramamento de sangue na Guiné-Bissau, como “querem uma meia dúzia de pessoas, por causa do poder”. “Não vou permitir que haja um conflito armado entre os militares e os irmãos da Polícia”, defendeu José Mário Vaz, sublinhando que estar no poder não pode justificar uma guerra entre os guineenses. Sobre a cimeira extraordinária de líderes da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO), que decorreu ontem no Níger, justamente para abordar a crise política na Guiné-Bissau, José Mário Vaz disse que preferiu concentrar-se na campanha eleitoral. A União Africana, a União Europeia, a CEDEAO, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e as Nações Unidas condenaram a decisão do Presidente de demitir o Governo liderado por Aristides Gomes e disseram que apenas reconhecem o Executivo saído das eleições legislativas de 10 de Março, que continua em funções.