Jornal de Angola

Muros “ressurgira­m” e outros “apareceram”

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angolano José Eduardo Agualusa, um dos participan­tes do Festival Internacio­nal de Literatura de Berlim, em Setembro passado, lamenta que, 30 anos depois da queda do muro que dividiu a Alemanha, outros tenham ressurgido e novos estejam a aparecer.

José Eduardo Agualusa já revelou em vários momentos que um dos grandes objectivos da sua escrita é derrubar muros. Trinta anos depois da queda do Muro de Berlim, o escritor angolano tem pena de que as democracia­s continuem em causa em várias partes do mundo.

“Infelizmen­te, houve muros que ressurgira­m, pensávamos que não. Mesmo a questão da democracia, eu próprio partilhei essa ingenuidad­e de pensar que as democracia­s são para sempre, são estáveis. Depois, percebemos que não são. Hoje, há toda uma série de aspirantes a construtor­es de muros e há outros muros que estão a ser erguidos, por exemplo, nos Estados Unidos. Infelizmen­te, a queda do Muro de Berlim não foi o fim de todos os muros”, revelou o escritor, em entrevista à agência Lusa.

Na Alemanha, o partido de extrema-direita Alternativ­a para a Alemanha (AfD) tem ganhado força, conseguind­o, nas últimas eleições regionais, os melhores resultados de sempre.

“Acho que este ressurgir da extrema-direita tem muito a ver com o que aconteceu nos Estados Unidos, com a eleição de (Donald) Trump. Penso que sem o Trump não teria havido (Jair) Bolsonaro e se o Trump não for reeleito - espero que não seja - o Bolsonaro acaba nesse mesmo dia. Há aqui um lado que é conjuntura­l e depois há um lado mais profundo, que tem a ver com o facto de as sociedades não estarem a ser capazes de responder a desafios urgentes”, explicou.

Ainda assim, o escritor angolano acredita que “as coisas melhoraram muito a todos os níveis”.

“Sou optimista. Estamos muito melhor do que há 50 anos, do que há 100 anos, do que há mil anos. Mesmo no espaço de Língua Portuguesa, pela primeira vez, estamos em paz, nunca houve um lugar onde não houvesse um conflito no espaço da Língua Portuguesa. E hoje há paz em todos esses países. Embora, por vezes, a humanidade recue, globalment­e avança”, frisou.

José Eduardo Agualusa, que é um dos convidados do Festival Internacio­nal de Literatura de Berlim, juntamente com outros escritores, como a portuguesa Grada Kilomba, de origem são-tomense, ou o brasileiro Luiz Ruffato, congratula-se pela existência destes espaços dedicados aos livros.

“Eu acredito que a literatura nos melhora. Qualquer festival deste tipo cria leitores mais sofisticad­os e aproxima-nos uns dos outros. Infelizmen­te, quando vimos a estes festivais, não temos tempo para assistir a outras mesas, a outros eventos”, ressalvou José Eduardo Agualusa.

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DR José Eduardo Agualusa
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O escritor

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