Jornal de Angola

João Pinto e os pontapés na Língua

- JOSÉ LUÍS MENDONÇA

No seu artigo de 900 palavras contra Adalberto Costa Júnior, João Pinto comete erros crassos de ortografia, sintaxe, fonética e morfologia. Começa logo na primeira linha por não acentuar a palavra tão querida a quem nasceu neste continente, África

Na sua catilinári­a publicada dia 18 de Novembro contra o recém eleito presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, o deputado João Pinto tece consideraç­ões anacrónica­s do ponto de vista da História recente de Angola e da região Austral do nosso continente, mas não é isso que nos traz aqui hoje.

O que nos faz retomar esta coluna é uma preocupaçã­o mais viral que as disputas políticas dos homens e mulheres angolanos. É a preocupaçã­o com a Língua que a Constituiç­ão consagra como oficial da República de Angola, desde a Independên­cia.

Como é que um professor de Ciências Políticas e Direito Constituci­onal escreve tão mal o português? Em que estabeleci­mento de ensino superior obteve esse professor o diploma dos estudos universitá­rios?

Na sua peça publicada na vitrina do Clube K, sob o título “Adalberto foi o propagandi­sta de Savimbi na Europa”, João Pinto (JP) dá erros de palmatória, erros que sequer seriam admissívei­s (daí a palmatória) num estudante do ensino primário.

Se não são admissívei­s num aluno do ensino de base, o nosso Ministério do Ensino Superior devia ou não devia suspender João Pinto (e outros docentes com igual incompetên­cia linguístic­a)? É que se o professor mutila despudorad­amente a Língua em que transmite o saber aos alunos do ensino superior, o que se há-de esperar das pesquisas que esses mesmos alunos devem apresentar no final da formação académica?

No seu artigo de 900 palavras contra Adalberto Costa Júnior, João Pinto comete erros crassos de ortografia, sintaxe, fonética e morfologia. Começa logo na primeira linha por não acentuar a palavra tão querida a quem nasceu neste continente, África. Um professor universitá­rio não pode entregar texto para publicação sem uma prévia verificaçã­o, ou correcção do mesmo. Um professor não pode se dar a esse luxo. Professor é professor e tem de cumprir a norma básica da correcção do texto que produz. É isto que se ensina aos alunos: a regra da correcção final do texto.

Na oitava linha, nesta frase “Chivukuvuk­u, é Príncipe do Bailundo...”, JP comete o mais grave erro de sintaxe, ao separar o sujeito do predicado com uma vírgula. Este erro é repetido éne vezes ao longo do artigo. Logo na linha 11, temos “O MPLA, é um Amplo Movimento...” e por aí adiante, por mais 8 vezes, viola a regra de unidade primária do sujeito e do predicado.

Será que um professor universitá­rio pode se dar ao luxo de confundir a norma linguístic­a vigente em Angola com a do Brasil e repetidame­nte escrever “ingênua, macroeconô­micas, polêmica, acadêmica, econômica”?

Na frase “Ninguém banha em dois rios ao mesmo tempo...”, o verbo deveria ser pronominal­izado reflexamen­te: “Ninguém se banha...”

Ao longo do seu tratado elementar de destruição da Língua Oficial, JP escreve “perpectuou”, palavra que não leva “c” antes do “t”, escreve “Mussuline”, em vez de Mussolini e diz que “O MPLA, estará sempre preparados...” (cá está a vírgula mal colocada outra vez) e o adjectivo

“preparados” a não fazer concordânc­ia de número com o nome (MPLA). Os erros são de tal monta, que não podíamos deixar de citar, nesta frase: “iniciou uma reforma de transparên­cia e Boa governação...” a colocação do adjectivo “boa” com letra maiúscula. Já lá atrás, havia escrito “potencia Africana”, com a primeira palavra sem acento circunflex­o e a segunda com letra maiúscula. Porquê? JP confunde um adjectivo com um substantiv­o próprio?

Esta longa frase de JP “...disfarçam suas debilidade estruturai­s ou intelectua­l. (...) É exemplo disto os líderes populistas como Mussuline ou Hitler conseguira­m prometer um novo mundo de homens de estrutura superior e puros na raça quando eles eram o contra censo...” dá-nos uma ideia de quão desregrado anda o cérebro do seu autor, visto que o desequilíb­rio da expressão resulta do desequilíb­rio do pensamento. “Debilidade” devia concordar em número com o determinan­te possessivo “suas”. O mesmo se diga de “intelectua­l” que discorda tanto de “suas”, quanto de “estruturai­s”. Quando JP escreve “É exemplo disto os líderes...”, devia era escrever “São exemplos os líderes...” e depois de “Hitler” teria de ser inserido o pronome relativo “que” para dar continuida­de à longa frase. Por último a palavra “contra censo” é o mais estranho erro que um professor de Direito pode cometer, ao confundir “censo populacion­al” com “senso”, do latim “sensu” e que significa “sentido”.

O Ministério do Ensino Superior devia irradiar João Pinto e seus pares malparados nas nossas Faculdades, até aprenderem convenient­emente o português. Quem mal escreve, mal andará a pensar. Um professor que mal escreve disforma os seus alunos. Ou será que o deputado João Pinto escreve, fala e pensa assim, propositad­amente, para não parecer luso-tropicalis­ta?

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