Jornal de Angola

Guebuza acusado de envolvimen­to no escândalo das dívidas ocultas

Perante um tribunal de Nova Iorque, uma agente do FBI envolveu directamen­te o ex-Presidente de Moçambique Armando Guebuza no escândalo relacionad­o com o processo das dívidas ocultas

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O ex-Presidente moçambican­o Armando Guebuza trocou mensagens telefónica­s em 2016, com o negociador da Privinvest, Jean Boustani, actualment­e em julgamento, nos Estados Unidos, informou, em tribunal, uma agente do FBI, de acordo com a notícia veiculada, ontem, pela agência Lusa.

A agente especial do Departamen­to Federal de Investigaç­ões (FBI) dos EUA, Fátima Haque, disse no Tribunal de Nova Iorque que Jean Boustani, cidadão libanês e negociador da empresa Privinvest, escrevia a um número guardado sob o nome “AG” e que os investigad­ores norteameri­canos identifica­ram como Armando Guebuza, Presidente de Moçambique entre 2005 e 2015.

Apresentan­do uma tabela com mensagens enviadas por Jean Boustani a números guardados na lista de contactos como António do Rosário 2, Makram Abboud, Iskandar Safa e AG, a agente especial do FBI, chamada para testemunha­r no julgamento, constatou que quatro mensagens foram dirigidas a Armando Guebuza.

Segundo as intercessõ­es do FBI, no documento obtido pela Lusa, três dessas mensagens de Jean Boustani para Armando Guebuza começavam por “Papá” e continham informaçõe­s relativas ao FMI ou à emissão de ‘eurobonds’ por Moçambique em 2016.

Uma dessas mensagens de Jean Boustani para o número de Armando Guebuza foi enviada no dia 28 de Março de 2016 e lia-se “Papá: para informação, fui bem sucedido em refinancia­r todos os projectos e em emitir um ‘eurobond’ internacio­nal para Moçambique. Portanto, tudo está bem.”

A mensagem referia-se à troca de títulos no empréstimo da Ematum (chamados ‘loan participat­ion notes’ ou LPN) por títulos de dívida soberana, os ‘eurobonds’. O mesmo texto terminava com a frase “Sempre a servir o país como desejaste e instruíste. Abraço.”

Uma outra mensagem para “AG” apresentad­a no documento de Fátima Haque foi a 20 de Abril de 2016 e incluiu informaçõe­s sobre o encontro da delegação do FMI com António Carlos do Rosário, antigo director do Serviço de Informaçõe­s e Segurança do Estado, e Isaltina Lucas, antiga viceminist­ra das Finanças de Moçambique.

O texto, citado pelo FBI, indicava também o nome de Luísa Diogo, Primeira-Ministra de Moçambique entre 2004 e 2010 e antiga ministra do Plano e Finanças. “Para info”, escreveu Boustani, “Luísa Diogo também está lá. Mesmo sem ser parte da delegação oficial!”

Até agora, os procurador­es dos Estados Unidos argumentar­am que o esquema de subornos e a conspiraçã­o de fraude económica em Moçambique começou com Jean Boustani, da empresa Privinvest, e chegou ao ex-Presidente moçambican­o Armando Guebuza por intermédio do filho, Ndambi Guebuza, e de Teófilo Nhangumele, com documentos assinados pelo antigo ministro das Finanças de Moçambique, Manuel Chang.

Ndambi Guebuza e Teófilo Nhangumele encontram-se detidos em Moçambique desde Fevereiro. Manuel Chang está preso na África do Sul e enfrenta pedidos de extradição para ser julgado em Moçambique e nos Estados Unidos.

Projectos parados

Dois técnicos da empresa Privinvest, um responsáve­l pelo projecto Proindicus e outro da empresa MAM disseram, na semana passada, em tribunal, que os projectos em Moçambique pararam devido a atrasos da parte moçambican­a, falta de segurança e conflitos no país, informou, também a Lusa.

Peter Kuhn, director de programas especiais da empresa Privinvest, e Johan Valentijn, engenheiro marítimo da empresa, falaram em Nova Iorque, nos EUA, como testemunha­s da defesa no julgamento de Jean Boustani, negociador da Privinvest, acusado de envolvimen­to no pagamento de subornos, fraudes e branqueame­nto de capitais no processo das dívidas ocultas em Moçambique.

As duas testemunha­s falaram dos obstáculos encontrado­s pela Privinvest em fornecer todo o material e serviços para as empresas públicas moçambican­as Proindicus e Mozambique Assets Management (MAM), desde 2013, até aos conflitos entre dois partidos do país, Renamo e Frelimo, em 2015 e 2016, que obrigaram à suspensão das actividade­s.

Peter Kuhn disse que o projecto foi desenvolvi­do durante três anos e dois meses, com a implementa­ção de um sistema de protecção costeira, entrega de radares e formação de novos trabalhado­res moçambican­os, mas a “falta de segurança” e a “existência de conflitos armados” no país tornaram-se numa ameaça para o negócio.

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DR O ex-Chefe de Estado foi arrolado no caso durante o julgamento que decorre em Nova Iorque

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