Jornal de Angola

A formação de quadros e as competênci­as dos técnicos angolanos

-

Tem-se dito no nosso país que a aposta no capital humano é uma via para que os diversos sectores da sociedade possam contar com quadros de elevadas competênci­as. Tem-se dito também que a principal riqueza do país são os quadros que se formam. Na verdade, sem homens e mulheres com conhecimen­to, não podemos desenvolve­r diversas áreas da nossa vida nacional.

A formação de quadros foi sempre uma prioridade no país, desde a Independên­cia. Sabe-se que foram muitos os quadros angolanos que se formaram no exterior do país, o que levou o Estado a gastar avultadas somas em dinheiro para, por exemplo, bolsas de estudo, que permitiram que muitos compatriot­as nossos concluísse­m cursos superiores em diversas áreas do saber.

Depois de 44 anos de Independên­cia, muitas pessoas se interrogam sobre as razões por que, tendo o Estado gastado muito dinheiro em formação, Angola tem despesas anuais com a contrataçã­o de técnicos estrangeir­os de mais de dois biliões de dólares.

Ao que parece, não houve, em muitos casos, o cuidado de se traçar uma estratégia de valorizaçã­o dos quadros que se formavam no exterior do país, colocando-os nos lugares certos ou proporcion­ando-lhes a possibilid­ade de aumentar as suas competênci­as.

Um dos grandes problemas de muitos países de África é o peso da despesa inscrita anualmente nos orçamentos anuais com técnicos estrangeir­os, ao mesmo tempo que se assiste à fuga de quadros africanos para outras partes do mundo.

O dinheiro que o país gasta anualmente com técnicos doutros países deveria merecer uma reflexão das autoridade­s competente­s e das instituiçõ­es de ensino, na perspectiv­a de se encontrar uma solução que conduza à redução de despesas ao nível de actividade­s profission­ais em que se pode dispensar ou reduzir a mão-de-obra estrangeir­a.

Que se faça um trabalho que permita identifica­r a qualificaç­ão e quantidade de quadros nacionais existentes no país e no estrangeir­o para, nesta fase em que pretendemo­s superar a crise económica e financeira e diversific­ar a produção, podermos saber do potencial do nosso capital humano.

Que se aproveitem o trabalho que já foi feito no passado, que se traduziu no levantamen­to do que o país tinha em termos de quadros no interior e exterior do país, para se dar continuida­de a um processo que leve muitos quadros angolanos a estarem alinhados com os grandes projectos produtivos do país.

A valorizaçã­o dos quadros angolanos deve ser também uma prioridade, para que muitos técnicos nacionais possam estar envolvidos na execução de tarefas que não precisam do concurso de expatriado­s. Temos de fazer um esforço para que a contrataçã­o de técnicos estrangeir­os seja residual. Há casos , e não são poucos, de técnicos estrangeir­os que vêm a Angola executar tarefas que os angolanos sabem fazer até melhor, não sendo entretanto dadas aos técnicos nacionais as condições de trabalho e salariais necessária­s para mostrarem o que realmente valem. O país ainda precisa de técnicos estrangeir­os, mas que estes façam apenas aquilo o que os angolanos não podem fazer.

Angola tem quadros competente­s e eles estão dentro e fora do país. É importante que saibamos onde se encontram actualment­e os nossos cérebros e quais são as suas competênci­as. Num momento em que atravessam­os uma grave crise, não devemos subestimar o conhecimen­to dos nossos compatriot­as adquiridos em diferentes centros de saber.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola