Jornal de Angola

Três ravinas ameaçam isolar localidade do Nóqui

Autoridade­s da província dizem que as obras para a contenção das ravinas estão a cargo da empreiteir­a Mota & Engil, mas esta ainda não arrancou com os trabalhos por falta de pagamento

- Fernando Neto | Nóqui

A vila fronteiriç­a do Nóqui, situada a 165 quilómetro­s da cidade de Mbanza Kongo, capital da província do Zaire, está na iminência de ficar isolada do resto do território, devido a três ravinas de grande dimensão que estão a progredir em direcção às vias que ligam a localidade aos outros municípios.

A estrada que liga Mbanza Kongo ao Nóqui é um importante troço para a movimentaç­ão de bens entre as províncias de Luanda, Zaire e Cabinda.

Os trabalhos para travar a progressão das três ravinas estão dependente­s da recepção de maquinaria. As autoridade­s da província do Zaire dizem que já receberam seis das 41 máquinas que serão disponibil­izadas pelo Governo Central. “Estamos preocupado­s porque a empreitada já foi adjudicada à empresa de construção civil Mota &Engil, mas por razões financeira­s as obras ainda não tiveram início”, lamentou a vice-governador­a para os Serviços Técnicos e Infra-Estruturas, Ângela Diogo.

As obras de asfaltagem do troço Nóqui/Mbanza Kongo, numa extensão de 135 quilómetro­s, tiveram início em 2011 e paralisara­m em 2016. Segundo a vicegovern­adora Ângela Diogo, a empreitada deveria reiniciar no princípio deste ano.

“Havia a esperança de a obra constar nas novas linhas de financiame­nto do Ministério da Construção e Obras Públicas, mas assim não aconteceu. Continuamo­s a envidar esforços para a resolução deste problema”, frisou.

Ponte sobre o rio Mposo na iminência de desabar

A par deste constrangi­mento, a ponte sobre o rio Mposo, construída no período colonial, apresenta um acentuado nível de degradação e está a deixar em perigo os camiões que passam pelo local com elevadas toneladas. Esta ponte, uma estrutura de 57 metros de compriment­o e três de largura, foi inspeccion­ada recentemen­te por uma equipa de técnicos do Instituto de Estradas de Angola (INEA), que defendeu a substituiç­ão da infra-estrutura com urgência, tendo em conta o perigo iminente que apresenta.

O Jornal de Angola apurou junto das autoridade­s locais que a empreitada da construção de uma nova ponte sobre o rio Mposo já foi adjudicada a uma empresa nacional sob os auspícios do Ministério da Construção e Obras Públicas, cujo início das obras está condiciona­do a dificuldad­es financeira­s.

Habitantes isolados

A comuna do Lúfico, no município do Nóqui, é das regiões locais mais afectadas pela falta de requalific­ação das estradas. O administra­dor, António Oliveira, disse que os habitantes da comunidade vivem em situação de isolamento devido às péssimas condições das estradas, tanto no percurso até à vizinha comuna do Mpala, quanto no caminho que liga ao município do Tomboco.

Com oito mil habitantes que se dedicam, maioritari­amente, à agricultur­a de subsistênc­ia, a população do Lúfico debate-se com a falta de energia eléctrica, água potável e de recursos para o escoamento dos produtos do campo para os principais mercados do Tomboco, Nzeto e da capital do país, Luanda.

Trocas comerciais

A aquisição de roupa no Lúfico é feita através de permutas com baldes de jinguba. “A camisa do meu filho que está aqui ao meu lado troquei com um balde e meio de jinguba, e a calça por cinco baldes de jinguba”, disse à nossa reportagem a vendedora Laurinda Carlos, com quem conversamo­s num dos mercados locais. “É por estas iniciativa­s que os nossos filhos não passam fome, não andam descalços nem vestem roupas rasgadas”, acrescento­u.

Inauguraçã­o de escola

A aldeia de Lukala, situada a 10 quilómetro­s da sede municipal do Nóqui, conta com uma escola primária de seis salas de aula, com capacidade para acolher 348 alunos em dois turnos. A instituiçã­o, orçada em 30 milhões e 500 kwanzas, foi inaugurada pelo governador provincial, Pedro Júlia.

O governante inaugurou também, na sede do Nóqui, novas instalaçõe­s dos Serviços de Registo Civil e Notariado, onde são atendidos diariament­e mais de 200 solicitaçõ­es para o registo de crianças e adultos, reconhecim­ento e autenticaç­ão de documentos, além de assentos de casamento e certidões de óbito.

Nóqui conta desde 2014 com novas instalaçõe­s para os Serviços de Identifica­ção Civil, mas não funcionam por falta de técnicos.

“O edifício está apetrechad­o com equipament­os e mobiliário, e corre o risco de se degradar devido ao longo tempo que está fechado. Por conta disso, a população tem de percorrer longas distâncias, até Mbanza Kongo ou Cuimba, para tratar do Bilhete de Identidade”, lamentou Maria Kuango, funcionári­a dos Serviços Notariais do Nóqui.

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GARCIA MAYATOKO | EDIÇÕES NOVEMBRO | NÓQUI Estradas de acesso à zona fronteiriç­a do Nóqui estão a ser engolidas por ravinas

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