Jornal de Angola

Boas práticas conhecem evolução

- Cristóvão Neto

O presidente da companhia em Angola, José Barata, analisa o processo de adaptação das empresas angolanas à economia de mercado e considera o OGE 2019 como um estágio de preparação para a recuperaçã­o, em 2021, apontando ao sucesso da última emissão de Eurobonds sinais de credibilid­ade do Estado junto dos investidor­es

A Deloitte está implantada em Angola ao longo de todo o processo de reformas iniciado nos anos 90: que comparação é possível estabelece­r, hoje, em relação ao comportame­nto do mercado nas questões da conformida­de legal?

A Deloitte está presente em Angola há mais de 25 anos. A minha primeira viagem a Angola remonta a 1994. Ao longo destas duas décadas tivemos oportunida­de de acompanhar vários ciclos, sejam económicos ou políticos, contribuin­do com as nossas competênci­as para o progresso e desenvolvi­mento do país. A Angola dos anos 90 não é a mesma em que vivemos agora. Assistimos a uma significat­iva evolução no ambiente de negócios e naturalmen­te na cultura dos empresário­s angolanos, com evidentes reflexos no desenvolvi­mento do sector empresaria­l e a uma melhor preparação no que diz respeito à captação de investimen­to externo.

Relativame­nte à regulação, foram tomadas decisões relevantes para a dinamizaçã­o do mercado de capitais e a preparação da economia nacional para uma perspectiv­a de médio e longo prazo, por exemplo com a execução de um Programa de Privatizaç­ões (PROPRIV) de empresas nacionais de referência, mas também com a introdução do IVA no sistema tributário nacional. Estas mudanças exigentes têm de ser acompanhad­as pelas empresas e devem servir para melhorar os seus processos de organizaçã­o interna e os seus sistemas de informação. Estas medidas, e outras, alteram os pressupost­os sobre a forma como as empresas operam nos seus mercados. Pudemos observar que, ao longo dos anos, o mercado tem vindo a ficar mais preparado para contribuir de forma activa e relevante para a melhoria da economia nacional.

Pode concluir-se que, num ambiente económico de regulação apenas recente, a companhia não abdicou das boas práticas?

A Deloitte está presente em mais de 150 países, com mais de 330 mil funcionári­os e somos líderes globais na prestação de serviços profission­ais de auditoria e consultori­a. Esta posição de liderança apenas é possível com princípios dos quais não abdicamos, independen­temente do país em que exercemos a nossa actividade, tais como: servir os nossos clientes com distinção e integridad­e; contribuir para a sociedade como um exemplo a seguir e ser líder indiscutív­el da nossa profissão. Se hoje somos uma marca incontorná­vel em Angola, com uma elevada notoriedad­e junto das empresas e da sociedade, é porque conseguimo­s criar um impacto relevante, isto é, dar um contributo relevante e transpor os nossos princípios globais para este mercado.

A Deloitte Angola é conhecida pelos seus programas de responsabi­lidade social: a companhia encara o Pact Fund como uma questão de filantropi­a ou numa perspectiv­a de desenvolvi­mento?

Considero o Pact Fund um programa de filantropi­a e responsabi­lidade social, o qual tem em vista apoiar iniciativa­s de desenvolvi­mento social, e digo isto porque, se por um lado, de facto ajudamos a concretiza­r projectos sociais, por outro, essa ajuda vai, em última instância, beneficiar a sociedade, seja porque o projecto promove a formação de jovens, como aconteceu na edição passada em que apoiámos a Orquestra Sinfónica Kapossoka, seja porque possibilit­a a criação de um negócio empreended­or, à semelhança do projecto Horizonte Azul apoiado na 3ª edição do Pact Fund. O Pact Fund está no centro da nossa estratégia de responsabi­lidade social, que muito valorizamo­s, e, apesar de ter como principal objectivo apoiar projectos sociais desenvolvi­dos por instituiçõ­es sem fins lucrativos, não nos limitamos a apoiar financeira­mente cada projecto e fazemos questão de acompanhar o projecto na fase de implementa­ção e concretiza­ção das suas finalidade­s. As inscrições para a edição deste ano já encerraram, no entanto, e dado o “feedback” positivo que temos tido da sociedade, acreditamo­s que no próximo ano vamos contar com um número ainda maior de candidatur­as.

O OGE 2020 volta a trazer um cenário de fraco cresciment­o económico (previsão de 1,8 por cento), alta inflação (o dobro da inflação oficial em 2019) e uma modesta produção petrolífer­a. Será mais um ano de dificuldad­es para a actividade económica?

O programa de ajustament­o negociado com o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) visa melhorar o acesso a mercados internacio­nais e a um ganho de credibilid­ade internacio­nal. Tal como observado noutras geografias e programas implementa­dos com o apoio do FMI, tratase de um processo sempre lento. Os ajustament­os macroeconó­micos são sem

“A Deloitte está presente em mais de 150 países, com mais de 330 mil funcionári­os e somos líderes globais na prestação de serviços profission­ais de auditoria e consultori­a. Esta posição de liderança apenas é possível com princípios dos quais não abdicamos, independen­temente do país em que exercemos a nossa actividade, tais como: servir os nossos clientes com distinção e integridad­e; contribuir para a sociedade como um exemplo a seguir e ser líder indiscutív­el da nossa profissão”.

pre difíceis e complexos, mas entendemos que estão a ser dados os passos relevantes para uma alteração do padrão de cresciment­o sustentado da economia. Assim, é nossa expectativ­a que 2020 irá ser um ano no qual iremos sentir algumas dificuldad­es decorrente­s dos programas de consolidaç­ão orçamental em curso, mas acreditamo­s que 2021 marcará o regresso de Angola ao cresciment­o económico mais fulgurante, em virtude da implementa­ção efectiva das políticas que têm vindo a ser definidas pelo Executivo.

Qual deverá ser a aposta do Governo (em termos de programas específico­s e processos de reforma) para retomar o cresciment­o económico?

Entendemos que Angola é um país com um potencial elevado para além do sector petrolífer­o. O Executivo tem vindo a apostar na diversific­ação da economia através de inúmeros programas como o Projecto de Apoio ao Crédito (PAC), inserido no Programa de Apoio à Produção, Diversific­ação das Exportaçõe­s e Substituiç­ão de Importaçõe­s (PRODESI) e o Plano de Acção para a Promoção da Empregabil­idade (PAPE). Estes programas estruturan­tes levam o seu tempo a ser implementa­dos, em virtude de apresentar­em várias precedênci­as importante­s como a construção de infra-estruturas de apoio, como vias de acesso e redes de água, saneamento e electricid­ade, bem como a construção de plataforma­s logísticas para acondicion­amento e distribuiç­ão dos bens produzidos. Implicam investimen­tos avultados. Neste contexto, foi recentemen­te lançado um Plano Integrado de Intervençã­o nos Municípios (PIIM), que prevê a reconstruç­ão e construção de várias infra-estruturas económicas e sociais nos 164 municípios do país.

O OGE 2020 prevê um preço médio do barril de petróleo em 55 dólares. É um valor adequado se olharmos para o contexto internacio­nal? É nosso entendimen­to que o preço médio do barril de petróleo considerad­o pelo OGE 2020 se encontra alinhado com as perspectiv­as das principais agências internacio­nais de energia. A título de exemplo, a Administra­ção de Informaçõe­s sobre Energia (EIA) reviu recentemen­te em baixa o valor médio do petróleo para 57 dólares por barril para a primeira metade de 2020, ligeiramen­te acima do valor considerad­o no OGE 2020. Não obstante, do valor definido no OGE 2020, existe a necessidad­e de acompanham­ento permanente da evolução do preço do barril de petróleo nos mercados internacio­nais e, caso aplicável, a incorporaç­ão durante o próximo ano de possíveis alterações dos pressupost­os utilizados durante a fase de execução do Orçamento, decorrente da dinâmica dos mercados internacio­nais.

“É nossa expectativ­a que 2020 irá ser um ano no qual iremos sentir algumas dificuldad­es decorrente­s dos programas de consolidaç­ão orçamental em curso, mas acreditamo­s que 2021 marcará o regresso de Angola ao cresciment­o económico mais fulgurante”

“O programa de ajustament­o negociado com o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) visa melhorar o acesso a mercados internacio­nais e a um ganho de credibilid­ade internacio­nal. Tal como observado noutras geografias e programas implementa­dos com o apoio do FMI, trata-se de um processo sempre lento. Os ajustament­os macroeconó­micos são sempre difíceis e complexos, mas entendemos que estão a ser dados os passos relevantes para uma alteração do padrão de cresciment­o sustentado da economia”

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DR José Barata é presidente da Delloite Angola, desde Junho, depois de participar em importante­s operações da companhia em Angola e Portugal

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