Boas práticas conhecem evolução
O presidente da companhia em Angola, José Barata, analisa o processo de adaptação das empresas angolanas à economia de mercado e considera o OGE 2019 como um estágio de preparação para a recuperação, em 2021, apontando ao sucesso da última emissão de Eurobonds sinais de credibilidade do Estado junto dos investidores
A Deloitte está implantada em Angola ao longo de todo o processo de reformas iniciado nos anos 90: que comparação é possível estabelecer, hoje, em relação ao comportamento do mercado nas questões da conformidade legal?
A Deloitte está presente em Angola há mais de 25 anos. A minha primeira viagem a Angola remonta a 1994. Ao longo destas duas décadas tivemos oportunidade de acompanhar vários ciclos, sejam económicos ou políticos, contribuindo com as nossas competências para o progresso e desenvolvimento do país. A Angola dos anos 90 não é a mesma em que vivemos agora. Assistimos a uma significativa evolução no ambiente de negócios e naturalmente na cultura dos empresários angolanos, com evidentes reflexos no desenvolvimento do sector empresarial e a uma melhor preparação no que diz respeito à captação de investimento externo.
Relativamente à regulação, foram tomadas decisões relevantes para a dinamização do mercado de capitais e a preparação da economia nacional para uma perspectiva de médio e longo prazo, por exemplo com a execução de um Programa de Privatizações (PROPRIV) de empresas nacionais de referência, mas também com a introdução do IVA no sistema tributário nacional. Estas mudanças exigentes têm de ser acompanhadas pelas empresas e devem servir para melhorar os seus processos de organização interna e os seus sistemas de informação. Estas medidas, e outras, alteram os pressupostos sobre a forma como as empresas operam nos seus mercados. Pudemos observar que, ao longo dos anos, o mercado tem vindo a ficar mais preparado para contribuir de forma activa e relevante para a melhoria da economia nacional.
Pode concluir-se que, num ambiente económico de regulação apenas recente, a companhia não abdicou das boas práticas?
A Deloitte está presente em mais de 150 países, com mais de 330 mil funcionários e somos líderes globais na prestação de serviços profissionais de auditoria e consultoria. Esta posição de liderança apenas é possível com princípios dos quais não abdicamos, independentemente do país em que exercemos a nossa actividade, tais como: servir os nossos clientes com distinção e integridade; contribuir para a sociedade como um exemplo a seguir e ser líder indiscutível da nossa profissão. Se hoje somos uma marca incontornável em Angola, com uma elevada notoriedade junto das empresas e da sociedade, é porque conseguimos criar um impacto relevante, isto é, dar um contributo relevante e transpor os nossos princípios globais para este mercado.
A Deloitte Angola é conhecida pelos seus programas de responsabilidade social: a companhia encara o Pact Fund como uma questão de filantropia ou numa perspectiva de desenvolvimento?
Considero o Pact Fund um programa de filantropia e responsabilidade social, o qual tem em vista apoiar iniciativas de desenvolvimento social, e digo isto porque, se por um lado, de facto ajudamos a concretizar projectos sociais, por outro, essa ajuda vai, em última instância, beneficiar a sociedade, seja porque o projecto promove a formação de jovens, como aconteceu na edição passada em que apoiámos a Orquestra Sinfónica Kapossoka, seja porque possibilita a criação de um negócio empreendedor, à semelhança do projecto Horizonte Azul apoiado na 3ª edição do Pact Fund. O Pact Fund está no centro da nossa estratégia de responsabilidade social, que muito valorizamos, e, apesar de ter como principal objectivo apoiar projectos sociais desenvolvidos por instituições sem fins lucrativos, não nos limitamos a apoiar financeiramente cada projecto e fazemos questão de acompanhar o projecto na fase de implementação e concretização das suas finalidades. As inscrições para a edição deste ano já encerraram, no entanto, e dado o “feedback” positivo que temos tido da sociedade, acreditamos que no próximo ano vamos contar com um número ainda maior de candidaturas.
O OGE 2020 volta a trazer um cenário de fraco crescimento económico (previsão de 1,8 por cento), alta inflação (o dobro da inflação oficial em 2019) e uma modesta produção petrolífera. Será mais um ano de dificuldades para a actividade económica?
O programa de ajustamento negociado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) visa melhorar o acesso a mercados internacionais e a um ganho de credibilidade internacional. Tal como observado noutras geografias e programas implementados com o apoio do FMI, tratase de um processo sempre lento. Os ajustamentos macroeconómicos são sem
“A Deloitte está presente em mais de 150 países, com mais de 330 mil funcionários e somos líderes globais na prestação de serviços profissionais de auditoria e consultoria. Esta posição de liderança apenas é possível com princípios dos quais não abdicamos, independentemente do país em que exercemos a nossa actividade, tais como: servir os nossos clientes com distinção e integridade; contribuir para a sociedade como um exemplo a seguir e ser líder indiscutível da nossa profissão”.
pre difíceis e complexos, mas entendemos que estão a ser dados os passos relevantes para uma alteração do padrão de crescimento sustentado da economia. Assim, é nossa expectativa que 2020 irá ser um ano no qual iremos sentir algumas dificuldades decorrentes dos programas de consolidação orçamental em curso, mas acreditamos que 2021 marcará o regresso de Angola ao crescimento económico mais fulgurante, em virtude da implementação efectiva das políticas que têm vindo a ser definidas pelo Executivo.
Qual deverá ser a aposta do Governo (em termos de programas específicos e processos de reforma) para retomar o crescimento económico?
Entendemos que Angola é um país com um potencial elevado para além do sector petrolífero. O Executivo tem vindo a apostar na diversificação da economia através de inúmeros programas como o Projecto de Apoio ao Crédito (PAC), inserido no Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição de Importações (PRODESI) e o Plano de Acção para a Promoção da Empregabilidade (PAPE). Estes programas estruturantes levam o seu tempo a ser implementados, em virtude de apresentarem várias precedências importantes como a construção de infra-estruturas de apoio, como vias de acesso e redes de água, saneamento e electricidade, bem como a construção de plataformas logísticas para acondicionamento e distribuição dos bens produzidos. Implicam investimentos avultados. Neste contexto, foi recentemente lançado um Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), que prevê a reconstrução e construção de várias infra-estruturas económicas e sociais nos 164 municípios do país.
O OGE 2020 prevê um preço médio do barril de petróleo em 55 dólares. É um valor adequado se olharmos para o contexto internacional? É nosso entendimento que o preço médio do barril de petróleo considerado pelo OGE 2020 se encontra alinhado com as perspectivas das principais agências internacionais de energia. A título de exemplo, a Administração de Informações sobre Energia (EIA) reviu recentemente em baixa o valor médio do petróleo para 57 dólares por barril para a primeira metade de 2020, ligeiramente acima do valor considerado no OGE 2020. Não obstante, do valor definido no OGE 2020, existe a necessidade de acompanhamento permanente da evolução do preço do barril de petróleo nos mercados internacionais e, caso aplicável, a incorporação durante o próximo ano de possíveis alterações dos pressupostos utilizados durante a fase de execução do Orçamento, decorrente da dinâmica dos mercados internacionais.
“É nossa expectativa que 2020 irá ser um ano no qual iremos sentir algumas dificuldades decorrentes dos programas de consolidação orçamental em curso, mas acreditamos que 2021 marcará o regresso de Angola ao crescimento económico mais fulgurante”
“O programa de ajustamento negociado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) visa melhorar o acesso a mercados internacionais e a um ganho de credibilidade internacional. Tal como observado noutras geografias e programas implementados com o apoio do FMI, trata-se de um processo sempre lento. Os ajustamentos macroeconómicos são sempre difíceis e complexos, mas entendemos que estão a ser dados os passos relevantes para uma alteração do padrão de crescimento sustentado da economia”