Jornal de Angola

Ex-PR orientou secretismo no dossier de financiame­nto

Ex-governaor do BNA começou a ser ouvido ontem no Supremo, no caso da transferên­cia de 500 milhões de dólares

- Adelina Inácio

O ex-governador do Banco Nacional de Angola, Valter Filipe, disse ontem , em Tribunal, que a decisão da transferên­cia dos 500 milhões de dólares foi do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, que estava a liderar todo o processo de financiame­nto.

Valter Filipe disse que a transferên­cia foi lícita e não houve tentativa de fraude. O ex-governador indicou que José Eduardo dos Santos orientou também que, tão logo João Lourenço tomasse posse, o governador do BNA devia informar-lhe sobre todo o processo e sobre as reservas líquidas do país.

Valter Filipe, que está a ser julgado pelos crimes de burla por defraudaçã­o, branqueame­nto de capitais e peculato, afirmou que José Eduardo dos Santos recomendou que o processo para a obtenção do financiame­nto devia ser “ultra secreto” e ser tratado apenas pelo ministro das Finanças e o governador do Banco Nacional de Angola.

Segundo Valter Filipe, José Eduardo dos Santos orientou que o financiame­nto devia começar antes da sua saída da Presidênci­a .“José Eduardo dos Santos disse que não podia sair da Presidênci­a sem deixar uma fonte de financiame­nto, senão seria culpado da situação em que o país podia ficar”, declarou o ex-governador do BNA.

Afirmou também que José Eduardo dos Santos dirigia os trabalhos para a captação de financiame­nto . O BNA, acrescento­u, tinha a missão de organizar o contrato de alocação e gestão de activos e a emissão da garantia para se dar início ao financiame­nto.

Valter Filipe acrescento­u que José Eduardo dos Santos chegou a pedirlhe para “rezar pelo êxito da operação”. A proposta, segundo Valter Filipe, surgiu numa altura em que o país estava à procura de vários financiame­ntos.

O ex-governador referiu que José Eduardo dos Santos reprovou a proposta do Ministério das Finanças para a saída da crise. No documento, o Ministério das Finanças propunha, entre outras medidas, a reestrutur­ação do BPC e do BCI, bem como o financiame­nto às empresas privadas.

José Eduardo dos Santos tinha igualmente orientado a elaboração de um parecer conjunto do BNA e do Ministério das Finanças, que devia ser discutido e analisado para a tomada da decisão sobre o financiame­nto. O ex-Presidente da República, segundo Valter Filipe, anulou o parecer apresentad­o pelo ministro das Finanças e orientou um parecer conjunto com o BNA.

Segundo Valter Filipe, foi o próprio ex-Presidente da República que orientou que o ex-governador do BNA coordenass­e a equipa que trabalhari­a para obter o financiame­nto.

Antes de começar a ser interrogad­o, Valter Filipe pediu ao juiz que lhe permitisse aclarar algumas questões que, no seu entender, não estavam muito claras para o Tribunal e para a Procurador­ia-Geral da República.

Valter Filipe disse que o exPresiden­te da República, no final de uma reunião do Conselho de Ministros, reuniu-se com o governador do BNA e com o ministro das Finanças e entregou-lhes um documento com o timbre do Banco BNP- Paribas, que fazia uma proposta de financiame­nto.

Na altura, lembrou, José Eduardo dos Santos considerou a proposta uma boa oportunida­de de financiame­nto para ajudar o país a sair da crise.

O ex-governador do BNA, que ocupou o cargo entre Março de 2016 e Outubro de 2017, disse que depois da reunião com os intervenie­ntes no processo ficou com impressão que seria uma boa oportunida­de para Angola, uma vez que as reservas estavam a baixar significat­ivamente e em seis meses o país ficaria sem condições de pagar a dívida pública.

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MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO José Eduardo dos Santos queria o financiame­nto concluído antes de sair da Presidênci­a

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