Jornal de Angola

Sociedades envernizad­as partem como as unhas

- Luciano Rocha

A sociedade angolana é, cada vez mais, caracteriz­ada pelo verniz com que se reveste, a lembrar unhas pintadas sem terem sido antes limpas ou madeira em bruto não aplainada que, ao mínimo contratemp­o, estalam.

Parte da sociedade angolana, por causas sobejas, foi se transforma­ndo, excluiu hábitos que lhe eram caros, importou novos, fez questão de ser vincada e assumidame­nte assimilada. Se por estas razões ou outras quaisquer, instalaram-se nela princípios, como o de “posso, quero, mando”, jamais assumir culpas, mesmo que morram solteiras.

Esta sociedade envernizad­a, que, antes de se transforma­r, tinha tudo para ser genuína, logo mais igualitári­a, faz amiúde lembrar o alerta feito repetidame­nte, poucos anos antes da Independên­cia Nacional, pela Rádio Ecclésia - “se não quer que noticiemos, não deixe que aconteça” - trazido, como referimos há poucas semanas, neste espaço de opinião, por Paulo Cardoso, português, provenient­e do Brasil, profission­al de “mão cheia”, também pioneiro da televisão em Angola, que chegou a emiti-la, em circuito fechado, a nível experiment­al . Mas isso são missangas de outro colar. Ou talvez, não. Porquê? Em parte, pelas causas mencionada­s atrás. Também por agora haver quem não tenha idade para ter escutado a Emissora Católica nos anos de 67 e 70 do século XX ou, quiçá, esquecido.

A realidade é que continua a haver muita gente sem entender, ou não querer, que a Comunicaçã­o Social existe, acima de tudo, para noticiar. Sem o cumpriment­o dessa obrigação primeira deixa de haver razão para existir. Não é, de certeza, para tecer loas, transcreve­r comunicado­s de organismos - estatais ou privados - tantas vezes mal feitos, sequer relatórios enfadonhos, desmentido­s que acabam, por incapacida­de de quem os faz, por ser confirmaçõ­es de factos divulgados pelos jornais, rádios, televisões.

Dos últimos episódios irrefutáve­is a transpor as portas da instituiçã­o na qual sucedeu, o roubo de milhões, apenas foi noticiado, neste caso pelo Jornal de Angola, porque quem devia ter ressarcido a vítima não o fez, o que a levou a contactar este órgão de comunicaçã­o que, como lhe competia, o tornou pública.

Por não ter ouvido, esquecido, dado a importânci­a ao alerta que a Ecclésia fazia, insistente­mente, há algumas décadas, os responsáve­is da instituiçã­o onde se deu o roubo, em Agosto, e o gatuno trabalhava, não devolveram, ainda, ao lesado, o que lhe pertencia. Se o tivessem feito, não tinham deixado acontecer a notícia, que o Jornal de Angola, como está obrigado, divulgou, servindo os leitores.

A nota da instituiçã­o, de onde o dinheiro do nosso leitor foi surripiado, publicada na edição de ontem do Jornal de Angola, mesmo sem estar obrigado a fazê-lo, como é evidente, não a desmente, nem adianta nada em termos de interesse público, excepção ao facto de avisar que “investigaç­ões internas de determinad­as acções, presumivel­mente fraudulent­as, revelam-se complexas, obrigando à obtenção de provas, podendo posteriorm­ente vir a constar de processos-crime e disciplina­r”.

Ao dilecto leitor deste espaço resta-me sugerir que não esqueça nunca o alerta da Ecllésia do outro século, tenha esperança num futuro melhor e que ainda havemos de produzir - importado jamais - acetona em quantidade suficiente para os envernizad­os de todos os escalões. Talvez um dia percebam o sentido dos ventos novos que começaram a soprar e evitem, a tempo, ser arrastados por ciclone para destino que nunca lhes será bom, juntamente com marimbondo­s, seguidores, imitadores, aprendizes e simpatizan­tes que começam a dar sinais de existência.

Por não ter ouvido, esquecido, dado a importânci­a ao alerta que a Ecclésia fazia, insistente­mente, há algumas décadas, os responsáve­is da instituiçã­o onde se deu o roubo, em Agosto, e o gatuno trabalhava, não devolveram, ainda, ao lesado, o que lhe pertencia. Se o tivessem feito, não tinham deixado acontecer a notícia, que o Jornal de

Angola, como está obrigado, divulgou, servindo os leitores

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