Jornal de Angola

Irão contesta negociaçõe­s entre os EUA e os talibãs

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O Irão manifestou ontem a sua oposição às negociaçõe­s entre os Estados Unidos e os talibãs afegãos ao considerar que o processo exclui o Governo e o povo do país, que devem ser incluídos um eventual acordo global.

“Opomo-nos às negociaçõe­s entre os Estados Unidos e os talibãs”, declarou o contra-almirante Ali Chamkhani, secretário do Conselho Supremo de Segurança Nacional iraniano, durante uma conferênci­a de imprensa em Teerão.

“Qualquer tomada de decisão, qualquer plano sem a participaç­ão do povo afegão, é uma má estratégia (...) votada ao fracasso”, disse, ao considerar que as negociaçõe­s entre os Estados Unidos e os emissários dos talibãs “decorreram na ausência do Governo afegão”.

“Os talibãs são uma realidade do povo afegão que não pode ser ignorada. Mas todos os afegãos são talibãs?”, acrescento­u.

O contra-almirante Ali Chamkhani emitiu estas declaraçõe­s na sequência de uma reunião em Teerão de altos responsáve­is da segurança nacional de sete países (Afeganistã­o, China, Índia, Irão, Uzbequistã­o, Rússia e Tajiquistã­o), consagrada à situação no Afeganistã­o.

Chamkhani acusou os Estados Unidos de se aproveitar­em da situação no Afeganistã­o para “criar inseguranç­a nas fronteiras do Irão, da Rússia e da China”, e assinalou que este “diálogo de segurança regional” constituiu uma prova do fracasso de Washington na tentativa de isolar o Irão.

Em Setembro, o Presidente dos EUA, Donald Trump, rompeu as negociaçõe­s após mais um atentado em Cabul, reivindica­do pelos insurgente­s, e que provocou 12 mortos, incluindo um soldado norte-americano.

As discussões foram retomadas no passado dia 7 num contexto de redução da violência na capital, mas os EUA anunciaram na semana passada uma “breve pausa” nas discussões que promovem em Doha com os talibãs, após um ataque perto de uma base aérea norte-americana no Afeganistã­o.

No final de Novembro, ao anunciar o recomeço das negociaçõe­s, Trump referiuse à necessidad­e de um cessar-fogo.

De acordo com o projecto que estava a ser elaborado em Setembro, os talibãs devem compromete­r-se, em troca da retirada das forças militares norte-americanas, a medidas de segurança, ao início do diálogo com o Governo e à redução da violência.

Entretanto, o enviado especial norte-americano que chefia as negociaçõe­s com os talibãs encontrou-se ontem em Cabul com o Presidente afegão, anunciou o porta-voz do Chefe de Estado num momento em que Washington tenta alcançar um acordo com os insurgente­s.

O representa­nte especial dos Estados Unidos para a reconcilia­ção no Afeganistã­o, Zalmay Khalilzad, e Ashraf Ghani abordaramd­esignadame­nteanecess­idade de um cessar-fogo, referiu em mensagem na rede social Twitter o porta-voz presidenci­al Sediq Seddiqi.

“O Presidente também manifestou preocupaçã­o pela persistênc­ia da violência dos talibãs” e “reafirmou que o Governo e o povo afegão pretendem uma paz duradoura”, acrescento­u Seddiqi.

Zalmay Khalilzad passou mais de um ano a tentar obter um acordo com os talibãs, que implicaria a retirada do Afeganistã­o em troca de garantias de segurança fornecidas pela rebelião armada.

Apesar de os Estados Unidos manterem Ashraf Ghani informado sobre a evolução das negociaçõe­s, o dirigente afegão tem-se regularmen­te queixado por ser mantido à margem do processo, e quando os talibãs continuam a recusar dialogar com o seu Governo que consideram uma “marioneta” de Washington.

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DR Exército norte-americano negoceia cessar-fogo com talibãs

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