Jornal de Angola

Mãe de Abel Abraão solicita investigaç­ão à morte do filho

Família do repórter de guerra admite, num documento enviado à Ordem dos Advogados, que o seu desapareci­mento físico tenha sido resultante da “interferên­cia de terceiros”

- Nhuca Júnior

A família do repórter de guerra Abel Abraão, falecido em finais de Novembro, na cidade do Cuito, deu entrada de uma queixa-crime junto da representa­ção da Procurador­iaGeral da República na província do Bié, por suspeitar que o jornalista não tenha morrido de causas naturais.

O Jornal de Angola tomou conhecimen­to da decisão da família do falecido jornalista quando soube que a mãe de Abel Abraão escreveu para a Ordem dos Advogados de Angola (OAA) a pedir assistênci­a judiciária, por não ter condições financeira­s para constituir um advogado.

Na carta, endereçada à Ordem dos Advogados de Angola, Albina Caveli Salgado pede que lhe seja concedida assistênci­a judiciária, por ter dado entrada de uma queixa-crime, remetida ao subprocura­dor-geral da República titular da província do Bié, sobre “possíveis indícios que levaram à morte de Abel Abraão.”

A mãe de Abel Abraão, jornalista que antes de morrer ainda viu o seu nome a ser atribuído à Mediateca do Bié, pede à Ordem dos Advogados de Angola que indique um advogado sénior e com experiênci­a na área criminal para dar seguimento ao processo remetido à Procurador­iaGeral da República no segundo dia deste mês de Dezembro.

Albina Caveli Salgado pediu encarecida­mente à Ordem dos Advogados de Angola que respondess­e, com maior brevidade possível, ao seu pedido, porque os suspeitos podem ser notificado­s a qualquer momento para serem ouvidos pela Procurador­ia-Geral da República.

Enoque Chivango, o advogado indicado pela Ordem dos Advogados de Angola para defender os interesses da família de Abel Abraão no processo, confirmou, ontem, ao Jornal de Angola, a partir do Bié, a entrada de um pedido de assistênci­a judiciária feito por Albina Caveli Salgado, mãe do malogrado jornalista.

Numa conversa telefónica, o advogado Enoque Chivango foi parco em palavras, um cuidado que teve para, como alegou, não compromete­r a confiança que deve haver na relação advogado-constituin­te.

Abel Abraão ficou conhecido do público por ter feito, na condição de repórter de guerra, a cobertura da guerra do Cuito, uma cidade que esteve sitiada pelas forças militares da UNITA, na sequência do retorno à guerra civil

Após insistênci­a do repórter, o causídico, sempre cauteloso e lacónico, revelou que deu entrada, na terçafeira, na representa­ção da Procurador­ia-Geral da República na província do Bié, de um documento que lhe outorga poderes forenses para representa­r a mãe de Abel Abraão no processo resultante da queixa-crime.

A autópsia ao corpo de Abel Abraão revelou ter sido um AVC a causa da morte do repórter de guerra, mas a família do repórter de guerra admite que o seu desapareci­mento físico tenha sido resultante da “interferên­cia de terceiros.”

“Por enquanto, eu não consigo ir ao detalhe”, explicou o advogado Enoque Chivango, acentuando que, para melhor se pronunciar, precisa de fazer um acompanham­ento da investigaç­ão da PGR à morte do jornalista, para o apuramento dos “indícios de crime” que a família admite haver em torno da morte de Abel Abraão.

A uma pergunta sobre se já esteve com a mãe de Abel Abraão, o advogado disse ter estado, até ontem, apenas com um irmão do malogrado, que lhe disse estar a família revoltada com a morte do repórter de guerra.

Abel Abraão ficou conhecido do público por ter feito, na condição de repórter de guerra, a cobertura da guerra do Cuito, uma cidade que esteve sitiada pelas forças militares da UNITA, na sequência do retorno à guerra civil, depois de a UNITA ter rejeitado os resultados das primeiras eleições gerais da história de Angola, realizadas em 1992.

Correndo risco de vida debaixo de flagelamen­tos diários do exército da UNITA contra a cidade do Cuito, Abel Abraão narrava o desenvolvi­mento do teatro de guerra em horário nobre da Rádio Nacional de Angola (RNA), para cuja emissora estatal entrou, ainda jovem, em 1980.

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EDSON FABRÍZIO | EDIÇÕES NOVEMBRO Malogrado foi recentemen­te homenagead­o na cidade do Cuito pelos feitos jornalísti­cos

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