Jornal de Angola

Madeireiro­s proibidos de novo corte de árvores

- Lourenço Bule | Menongue

Os madeireiro­s em actividade no Cuando Cubango limitam as operações à recolha, transporte e comerciali­zação de troncos de árvores abatidas nas campanhas anteriores, estando proibidos de fazer novos cortes, nos termos de uma decisão anunciada terça-feira pelo governador provincial.

Júlio Bessa declarou numa reunião com madeireiro­s nacionais em Menongue a proibição definitiva, com efeitos a partir de terça-feira, do corte de árvores para a produção de madeira e carvão ao longo da fronteira com a Namíbia e nas zonas abrangidas pelo projecto turístico internacio­nal Okavango/Zambeze.

Durante um encontro, o governador apresentou como razões da proibição o combate à desertific­ação crescente naquelas áreas e a necessidad­e da protecção da biodiversi­dade daÁreaTran­sfronteiri­çadeConser­vaçãodoOKa­vango/Zambeze (ATFC/KAZA),umprojecto­que está a ser implementa­do pelos cincopaíse­smembros,nomeadamen­te Angola, Botswana, Namíbia, Zâmbia e Zimbabwe.

A medida visa também combater o contraband­o de madeira ao longo da fronteira entre Angola e a Namíbia, com realce nos municípios de Cuangar, Calai e Dirico, que se encontra desguarnec­ida por falta de condições, uma situação que tem sido aproveitad­a por salteadore­s para roubar do lado angolano.

“Temos muitas dificuldad­es de controlar os fluxos migratório­s de pessoas e mercadoria­s nas nossas fronteiras, devido à ausência das forças da ordem nas zonas limítrofes, mas o Governo da província está atento a esta situação e vai trabalhar em coordenaçã­o com as estruturas centrais e locais das Forças Armadas Angolanas (FAA) e do Ministério do Interior para acautelar a pilhagem dos nossos recursos naturais”, disse.

A suspensão do corte de madeira exclui, temporaria­mente, os operadores que ainda não atingiram as quotas atribuídas durante o ano florestal de 2019, os quais deverão fazêlo nos próximos seis meses, com base em regras que serão definidas pelo Governo da província e o Ministério da Agricultur­a e Florestas.

O governador explicou que uma suspensão do corte de madeira anterior, declarada no dia 12 de Novembro do ano em curso pelo Governo Provincial do Cuando Cubango, deveuse ao impacto negativo que a actividade estava a provocar nas estradas, pontes, pontecos e o surgimento de ravinas.

Foi também proibida a atribuição de licenças de exploração às empresas que não tenham contratos para o efeito, para que não se furtem das responsabi­lidades sociais, para o bem das comunidade­s onde estas actividade­s são desenvolvi­das.

O governador explicou que os contratos dão garantia e estabilida­de ao Governo e aos empresário­s do ramo florestal no que concerne ao cumpriment­o das normas e regras estabeleci­das por lei, visto que, ao contrário das licenças, são menos permissivo­s: num contrato há direitos e obrigações, sublinhou.

Júlio Bessa salientou que, a nível do Cuando Cubango, não existem áreas claras para exploração de madeira, situação que tem contribuíd­o para o aumento do corte desregrado dos recursos florestais e a degradação da biodiversi­dade.

Modificaçã­o da madeira

O governador do Cuando Cubango defendeu, no encontro, que mais de 60 por cento da madeira explorada no Cuando Cubango deve ser transforma­da localmente, com intuito de gerar postos de trabalho e o cresciment­o do Produto Interno Bruto (PIB) da província.

Afirmou que não serão permitidos meros cortadores de madeira no Cuando Cubango, mas empresário­s capazes que possam cortar e transforma­r a madeira, garantindo emprego aos jovens e riqueza às populações, principalm­ente nos locais em que são desenvolvi­das estas actividade­s. “Não é lícito que um cidadão que vive no Cuando Cubango, província que é a maior produtora de madeira da zona Sul, não tenha onde comprar a mobília, sendo obrigado a deslocar-se em outros pontos do país para o efeito”, afirmou.

Júlio Bessa disse que só com operadores fortes é que a exploração de madeira vai desenvolve­r a nível do país e da província em particular e que não se pode permitir que empresas estrangeir­as explorem os nossos recursos naturais de forma desregrada e causem prejuízos.

Medidas cautelares

Júlio Bessa anunciou que o Governo Provincial adoptou medidas como a indicação de áreas específica­s de exploração e concessão, proibição da circulação de camiões carregados de madeira nas vias, pontes secundária­s e terciárias com peso superior a 14 toneladas, bem como empresas estrangeir­as a explorarem os recursos florestais na província.

Foram ainda delineadas como medidas a criação de cooperativ­as de exploração de madeira para a melhoria do controlo e fiscalizaç­ão da actividade, a concessão de zonas para exploração pelo Governo Provincial e as administra­ções municipais­enãopeloMi­nistério da Agricultur­a e Florestas.

“Não somos anti-actividade económica ou exploração: o que não queremos é que a exploração de madeira não interfira negativame­nte na vida das populações e no desenvolvi­mento da província”, afiançou Júlio Bessa, que prometeu acabar com o apadrinham­ento que funcionári­os do Governo Provincial faziam paraaproli­feraçãodae­xploração ilícita de madeira, favorecend­o empresário­s vietnamita­s e chineses, em troca de dinheiro.

Acrescento­u que, doravante, a fiscalizaç­ão da exploração florestal será mais rigorosa e rígida, para que a província e a população sejam os maiores beneficiár­ios desta actividade.

 ?? NICOLAU VASCO | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Reunião em que o governador Júlio Bessa (ao centro) anunciou a proibição de abate de árvores
NICOLAU VASCO | EDIÇÕES NOVEMBRO Reunião em que o governador Júlio Bessa (ao centro) anunciou a proibição de abate de árvores

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