Jornal de Angola

A trova angolana

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Escrevo pela primeira vez para o Jornal de Angola para abordar sobre a trova angolana, um segmento da música em que predomina a voz e a guitarra, que teve uma fase de ascensão na década de 80 do século passado. Há dias, esse segmento da música angolana, que viu emergir vozes como as de Moisés Kafala e o seu irmão mais novo, José Kafala, ambos já partidos para o além, sofreu um duro golpe com o desapareci­mento físico mais recentemen­te daquele último. Dizia que a trova conheceu uma fase de ascensão com nomes que se notabiliza­ram, tendo alguns conseguido, mesmo, alguma internacio­nalização, como foi o caso dos Irmãos Kafala.

Com a partida de Zé Kafala, a trova angolana, em particular, e a música, em geral, perdem uma das suas grandes vozes num momento em que o “music hall” angolano muito ainda precisava. Por outro lado, essa situação por que passaram os irmãos Kafala, de doença prolongada que os levou à morte, também acaba por revelar a frágil situação em que se encontram os músicos de uma maneira geral. Embora, como diz a Bíblia, o tempo e o imprevisto sobrevêm a todos, numa alusão de que ninguém está imune às situações menos boas pelas quais passamos ou teremos de passar, na verdade, é preciso que o Estado se empenhe para que os músicos deixem de mendigar.

É preciso que as instituiçõ­es do Estado, particular­mente aquelas que superinten­dem a Cultura, façam mais para a dignificaç­ão dos compositor­es e intérprete­s e para dignificar a carreira.

Tal como sucedeu com os Kafala que, na verdade, ocorreu com outros músicos que faleceram muito cedo e em condições superáveis, está na hora de as instituiçõ­es encararem com mais seriedade a situação dos cantores em geral. O processo que começou, creio que com o consulado do saudoso Teta Landu, na direcção da UNAC, com a entrega das carteiras e inserção no Instituto Nacional de Segurança

Social (INSS), deve prosseguir com outros gestos que ajudem os cantores a viverem com dignidade e livres do espectro da indigência. Com a partida de Zé Kafala, não é exagerado dizer que a trova angolana está de luto, a julgar pela exiguidade de executante­s deste importante estilo de música. ALFREDO MARCOS

Kinaxixi

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