Jornal de Angola

Grandes centros comerciais registam procura moderada

Gestores dos estabeleci­mentos reconhecem haver uma certa retracção das vendas em comparação com as épocas natalícias dos anos anteriores, em resultado dos conceitos de disciplina adoptados pelo mercado consumidor e fraco poder aquisitivo

- Manuel Barros | Cacuaco

A racionaliz­ação dos gastos e a perda do poder de compra dos clientes estão na base da moderada procura de produtos da época natalícia que se verifica nos grandes centros comerciais situados nos diversos distritos urbanos do município de Cacuaco, Luanda, apurou o Jornal de Angola numa ronda efectuada ontem.

O director do supermerca­do Africana, Carlos Martins, disse que havia um maior fluxo de clientes nesta mesma época do ano passado, contrariam­ente ao que se verifica este ano, em que é mais reduzido. Apesar disso, aquele responsáve­l afirma estar satisfeito com o volume de clientes.

Carlos Martins notou que, nos dias de hoje, as pessoas não compram tudo que aparece à sua frente, como no passado. “Estão mais disciplina­das e só compram o essencial, o que faz com que não tenhamos o fluxo dos anos anteriores e, por isso, estamos a crescer mais devagar”, afirmou.

Referiu ainda que a forma de actuar no mercado nacional hoje é diferente. O estabeleci­mento comercial que dirige oferece preços bastante competitiv­os, com foco no seu maior público-alvo, os munícipes de Cacuaco.

“Devemos entender que a situação económica em que muitas famílias se encontram não é boa e a forma de continuar a manter o fluxo de clientes depende muito do preço praticado. A nossa empresa adaptou-se às necessidad­es dos clientes e aos produtos de maior necessidad­e, conciliand­o com preços. Fruto desta abordagem, as margens de facturação têm sido aceitáveis”, salientou.

O supermerca­do Africana emprega mais de 200 funcionári­os, comerciali­za uma diversidad­e de produtos hortícolas, maioritari­amente fornecida por produtores nacionais, e os preços da oferta de cabazes ascendem de 12 mil aos 49 mil kwanzas.

Hermenegil­do dos Santos, gerente do supermerca­do Shoprite, da Vídrul, declarou que, desde o passado dia 16 do corrente mês, o seu estabeleci­mento promove produtos da cesta básica, mas o fluxo de clientes está aquém do esperado, o que demonstra a fraca adesão do mercado.

“Nos outros anos, tínhamos o estabeleci­mento cheio de clientes a efectuar compras, mas hoje nem parece que estamos na época de Natal, porque os caixas estão vazios.

Esperamos que melhore nos próximos dias”, disse.

A Shoprite da Vidrul está a vender um cabaz “Standard” no valor de 35 mil kwanzas, que infelizmen­te não tem tido a saída desejada. “Nós tínhamos outros cabazes mais caros como o Vip´’ e o normal, mas decidimos retirá-los e deixar apenas o ‘Standard’, que é o mais barato, mas, ainda assim, não temos adesão”, informou.

Hermenegil­do dos Santos considerou que “as pessoas estão mais prudentes quanto aos gastos nesta época, porque o poder de compra diminuiu drasticame­nte. Logo, as compras são feitas ao detalhe, o que não deixa margem para compras frenéticas”.

Para António Ndombele, gerente de um armazém de venda de produtos alimentare­s, as transacçõe­s nesta época de Natal estão baixas. São poucas as pessoas que estão a comprar os produtos desta época, muito por falta de capacidade financeira, agravada ao factor alta de preços, em alguns produtos.

A fonte avançou mesmo que há dias que pelo armazém passam unicamente cinco clientes, na maior parte das vezes para comprar grades de bebida, sacos de arroz e farinha de trigo.

Celestino Lunguça, gerente do armazém Leogue, reconheceu que, apesar de ser caracterís­tico nesta época haver mais saída de arroz, bebidas, açúcar, farinha de trigo e óleo, os preços altos estão a influencia­r na fraca procura da parte dos clientes.

“Devemos entender que a situação económica em que muitas famílias se encontram não é boa e a forma de continuar a manter o fluxo de clientes depende muito do preço praticado”

“No passado um saco de fuba de milho de 25 quilos custava cinco mil kwanzas, mas hoje passou para sete mil kwanzas, o de farinha de trigo que era oito mil, hoje está a 15 mil kwanzas e o de açúcar de 25 quilos está avaliado em 8.500kwanzas. Muitas das nossas mamãs não conseguem comprar estes produtos sem recorrer à famosa ‘sócia’ de três pessoas. Em função disso, a nossa facturação diária não passa dos 70 mil, contrariam­ente aos 300 mil kwanzas nas épocas passadas”, disse Celestino Lunguça.

 ?? EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Supermerca­dos adoptam estratégia­s às quais os clientes não aderem por critérios mais selectivos de consumo
EDIÇÕES NOVEMBRO Supermerca­dos adoptam estratégia­s às quais os clientes não aderem por critérios mais selectivos de consumo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola