Assassinos de Khashoggi condenados à morte
Uma especialista da ONU disse que a morte de Khashoggi foi uma “execução extrajudicial”. Organização Repórteres Sem Fronteiras diz que a “justiça foi desrespeitada” e considerou que a sentença pode ser uma forma de calar testemunhas
Um tribunal da Arábia Saudita condenou cinco pessoas à morte pelo homicídio de Jamal Khashoggi, no ano passado. O jornalista era um conhecido crítico do Governo saudita e foi assassinado no interior do consulado saudita em Istambul por uma equipa de agentes do reino.
Segundo a BBC, o Ministério Público do país descreveu a morte do jornalista como uma “operação desonesta” e acusou 11 pessoas - não identificadas - do crime. Uma especialista da ONU disse que a morte de Khashoggi foi uma “execução extrajudicial”.
Agnes Callamard, investigadora especial para as execuções extrajudiciais, pediu que o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman fosse investigado sobre a sua ligação com o crime, mas este negou qualquer envolvimento, embora, como líder saudita, assumisse toda a responsabilidade.
Khashoggi, crítico do príncipe herdeiro e colunista do The Washington Post, foi visto pela última vez a entrar no consulado a 2 de Outubro, onde tinha ido levantar uma declaração que lhe permitiria voltar a casar. O seu corpo foi desmembrado e retirado do edifício, nunca tendo sido encontrado. “A conclusão da investigadora especial é que Khashoggi foi vítima de uma execução deliberada, premeditada, de uma morte extrajudicial pela qual o Estado da Arábia Saudita é responsável, sob as leis dos direitos humanos internacionais”, disse Callamard, no relatório de mais de cem páginas, publicado após seis meses de investigação.
O relatório vem das gravações das conversas no interior do consulado de Istambul, na altura da morte do jornalista, que foi confrontado por oficiais sauditas. Segundo o documento, Khashoggi “pode ter sido injectado com um sedativo e depois sufocado com um saco de plástico”.
“Justiça foi desrespeitada”
A Organização Repórteres Sem Fronteiras disse ontem que a “justiça foi desrespeitada” com a condenação à morte dos cinco sauditas e considerou que a sentença pode ser uma forma de calar testemunhas.
“A justiça foi desrespeitada com a condenação à morte (em julgamento) à porta fechada de cinco sauditas” pela morte do jornalista, afirmou o secretário-geral de Repórteres Sem Fronteiras, Christophe Deloire.
O julgamento não respeitou “princípios de justiça internacionalmente reconhecidos” e a condenação pode ser apenas “uma maneira de silenciar para sempre as testemunhas do assassínio”, disse Christophe Deloire.
“Temos de questionar a natureza discricionária destas decisões”, referiu o responsável da organização, acrescentando esperar que “a Arábia Saudita aprove a apresentação de recurso e faça um julgamento público e apresente provas”. De acordo com um comunicado do Procurador-Geral
saudita, o tribunal de Riade realizou nove audiências na presença de representantes da comunidade internacional e de pessoas próximas de Jamal Khashoggi.
Nenhuma acusação foi feita ao suspeito Saoud alQahtani, um conselheiro próximo do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, referido pela CIA e pela ONU, assim como pela comunicação social norte-americana e turca, como coordenador da operação patrocinada pelo príncipe herdeiro.
Após ter inicialmente negado a morte do jornalista, a Arábia Saudita acabou por admitir o assassínio e anunciou a prisão de 18 pessoas, mas as declarações pareciam planeadas para proteger o príncipe herdeiro saudita de um maior escrutínio sobre o crime, como considerou a Amnistia Internacional.
Riade indicou que o homicídio tinha sido uma “operação fora de controlo” do Estado, supervisionada por dois altos responsáveis que foram destituídos depois. Ancara, no entanto, acusou os “mais altos níveis” do Estado saudita.
A Turquia pediu a extradição de 18 sauditas detidos por suspeita de envolvimento no assassínio, tendo Riade recusado e afirmado que seriam julgados na Arábia Saudita. Em Janeiro, a Arábia Saudita começou a julgar 11 suspeitos e o ProcuradorGeral solicitou a pena de morte para cinco deles.
Os advogados dos suspeitos pediram para conhecer as acusações exactas contra os seus clientes e um período para as analisar, mas, apesar de o tribunal ter aceitado os pedidos, não marcou qualquer data para uma nova audiência.
Khashoggi foi vítima de uma execução deliberada, premeditada, de uma morte extrajudicial pela qual o Estado da Arábia Saudita é responsável, afirma especialista da ONU