A pressa do tempo
O tempo, cada vez mais apressado, corre que nem louco, sem parar, sequer para descansar, ávido e enfiada, mecanicamente, como cadeia de produção constituída por botões e teclas obedientes.
O tempo de hoje nada tem a ver com os que o antecederam, quando a vida era percorrida com devagarmente, malembe-malembe, para poder apreciar-se o que de bom ela oferecia e chorar, com dor verdadeira, na hora de nos pregar rasteiras, mas, também, como alerta a euforias, esbanjamentos, aparências falsas.
Os tempos antigos passavam por Luanda devagarmente, sem vontade de partir, talvez para lhe saborear os cheiros bons, ver as tantas cores de nossas flores bonitas, nos quintais, varandas e ruas, os hinos dos passarinhos e voltavam, sempre, em sua mangonha solidária, não como o de agora, parece estão a lhe pôr berrida nos ximbas de outras épocas, que nem queremos lembrar, que os mais novos desconhecem e alguns mais velhos sem desvergonha, falam “havia ordem”.
Nas minhas conversas puxadas no café da manhã, para acordar mesmo, não de estar só de olhos abertos, exigência do inaugural cigarro, primeiros actos de meu ser vivo, me pergunto porquê o tempo, anda a fugir de Luanda, mas as espirais do fumo que sopro desfazemse, sem me darem resposta. Até as “festas”, como o Natal, custavam a chegar, não é como agora.
O tempo destes tempos passa na zuna. Quem sabe, para evitar ver tanta opulência e pobreza, tanto esbanjamento e escassez. Talvez, um dia, ele me segrede suas, dele, razões e eu, dilectos leitores, vos diga quais são.