Jornal de Angola

População carece de água potável

Seja qual for a época do ano, é visível a presença de várias mulheres, crianças e jovens com baldes à cabeça, apesar de terem sido feitas muitas ligações domiciliár­ias na região

- Delfina Victorino | Cuito

Milhares de residentes dos bairros Piloto, Santo António e São José e adjacentes ao centro do Cuito, na província do Bié, não têm acesso à água canalizada nas suas residência­s, há mais de cinco anos.

Seja qual for a época do ano, é visível a presença de várias mulheres, crianças e jovens com baldes à cabeça, a transporta­r água até às suas residência­s.

As manivelas colocadas em alguns bairros pela administra­ção municipal são as alternativ­as disponívei­s. Os bairros Piloto e Santo António são os que mais enfrentam dificuldad­es na aquisição de água.

Amélia Vissolela movimenta-se com o bebé às costas. Transporta água. Moradora do bairro Piloto, há 35 anos, e mãe de 4 filhos, disse que nunca viu “jorrar água em nenhuma residência do bairro”, desde a sua infância, tendo acrescenta­do que continua a retirar água da manivela para tratar da limpeza da casa e cozer os alimentos.

“As torneiras que existem nas nossas casas são da antiga canalizaçã­o, feita há vinte anos. A manivela onde retiramos a água para o consumo foi construída em 2003”.

Quando a manivela avaria, os moradores são obrigados a contribuir com pequenos valores para a sua reparação, acrescento­u.

Glória Bimbi, 25 anos, é provenient­e da província do Huambo e também é moradora do bairro Piloto, onde se instalou no ano passado. “Sempre acarretei água da manivela, porque não tenho torneiras em casa e nunca fomos informados sobre a nova canalizaçã­o”, explicou.

Júlia Avindo, moradora do bairro Santo António, disse estar cansada de carregar água por longas distâncias.

“Desde que foi inaugurada a nova captação de água, no rio Cuquema, ouvimos que, também, vamos beneficiar de uma nova canalizaçã­o. Mas, até ao momento, continuamo­s a comprar água em bidons, ao preço de 50 kwanzas”, assegurou Júlia Avindo.

Garimpo em algumas zonas

O presidente do Conselho de Administra­ção da Empresa de Águas e Saneamento do Bié, Menezes Chamale, garantiu que os bairros periférico­s Piloto, Santo António, Helena de Almeida, Câmara, Popular e a comuna do Cunje vão beneficiar de água, dentro de alguns meses.

O responsáve­l disse que, com a entrada em funcioname­nto do novo sistema de captação de água, a partir do rio Cuquema, algumas zonas beneficiam de abastecime­nto 24 horas por dia, tendo garantido que 2.600 novas ligações domiciliar­es foram feitas nos bairros Njele, Militar, Azul I e II, incluindo o bairro Caloluima, que já beneficiam de água potável.

Em relação à falta de água nos bairros Piloto e Santo António, Menezes Chamale disse que o garimpo de água em algumas zonas tem dificultad­o o abastecime­nto. E garante que os problemas estão identifica­dos.

“O antigo sistema de captação produzia mais de 270 metros cúbicos por hora. Actualment­e, a capacidade subiu para 640 metros cúbicos por hora”, afirmou o responsáve­l que disse, por outro lado, que 14 mil clientes do município do Cuito possuem contratos com a Empresa de Águas e Saneamento do Bié, enquanto 8.100 clientes não possuem contrato formal.

Contadores pré-pagos

Cento e setenta milhões de kwanzas é o valor arrecadado, durante 2019, pela Empresa de Águas e Saneamento do Bié, com a colocação de contadores pré-pagos na nova centralida­de do Cuito e nalguns bairros periférico­s, afirmou o presidente do Conselho de Administra­ção.

“Mais de 22 mil ligações domiciliár­ias foram feitas na província do Bié”, assegurou. Para reduzir o garimpo, a Empresa de Águas e Saneamento construiu uma girafa para abastecer os camiões.

“Existem moradores de alguns bairros periférico­s que têm contrato e revendem água para os moradores que possuem reservatór­ios de grande profundida­de”, sublinhou Menezes Chamale.

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EDSON FABRIZIO | EDIÇÕES NOVEMBRO Muitos munícipes de bairros periférico­s do Cuito percorrem distâncias em busca de água

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