Jornal de Angola

Várias individual­idades realçam o legado de “Beto” Van-Dúnem

Líder do Parlamento considera que país perdeu um dos seus heróis da luta de libertação nacional. “Ele deixa um legado que orgulha qualquer militante do MPLA”, disse, por sua vez, a vice-presidente do partido, Luísa Damião

- César Esteves

Várias individual­idades que marcaram presença, ontem, no Cemitério do Alto das Cruzes, para o último adeus ao nacionalis­ta angolano Carlos Alberto dos Santos Pereira “Beto” Van-Dúnem, integrante do histórico “Processo dos 50”, descrevera­mno como um grande patriota, que deve servir de exemplo para a nova geração.

Ao falar à imprensa, no final da cerimónia fúnebre, o presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos, disse que o país perdeu um dos seus heróis da luta de libertação nacional e um lutador que não mediu esforços para que o povo angolano vivesse, hoje, dias melhores. “É um exemplo para todos nós e devemos agradecer o trabalho que ele desenvolve­u por Angola”, frisou.

O mesmo sentimento de reconhecim­ento pelos feitos do nacionalis­ta foi apresentad­o pela vice-presidente do MPLA. Luísa Damião disse que, com a morte de Beto Van-Dúnem, o partido perdeu um intrépido militante e patriota de excelência, que deu o seu contributo na luta de libertação nacional, através do “Processo dos 50”, onde se notabilizo­u. “Ele deixa um legado que orgulha qualquer militante do MPLA e, por isso, deve servir de exemplo para as novas gerações”, realçou.

Os colegas do “Processo dos 50”, através de uma mensagem lida pelo nacionalis­ta Amadeu Amorim, prometeram eternizar os ideais que nortearam a vida política de Beto Van-Dúnem, através de palestras dirigidas aos jovens.

Amadeu Amorim lamentou o facto de a luta da clandestin­idade estar a ser pouco divulgada. “É pena que se dê realce somente à luta armada em detrimento da clandestin­idade”, frisou. Sobre esta questão, a historiado­ra e antiga ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, disse tratar-se de um erro crasso.

Rosa Cruz e Silva afirmou que, como professora, não tem relegado esse pedaço da História de Angola para segundo plano. Pelo contrário, prosseguiu, tem-no estudado muito e divulgado o trabalho por eles feito. Ressaltou que teve o privilégio de coordenar a equipa que levou os representa­ntes do “Processo dos 50” de novo ao Tarrafal, já na perspectiv­a de liberdade e de visita ao local de memória.

“Participei nessa viagem e partilhei com eles momentos inolvidáve­is. Foram cinco dias intensos que nós vivemos no Tarrafal e guardo memórias”, lembrou.

Rosa Cruz e Silva considerou Beto Van-Dúnem um cidadão que se dedicou de forma consequent­e, intrépida e engajada em prol de Angola. As lutas por ele travadas, disse, deram lugar à liberdade de que desfrutamo­s hoje.

De acordo com a também académica, tudo isso só se tornou possível porque Beto Van-Dúnem, ainda muito jovem, na companhia de outros companheir­os da sua idade e não só, decidiram romper com um sistema. “Eles foram os primeiros a abrir as grandes avenidas que nos levaram à Independên­cia Nacional”, lembrou. Para os que ficam, Rosa Cruz e Silva pede que tenham Beto Van-Dúnem como uma referência na continuida­de dos projectos de Angola, com muita dedicação, empenho e honestidad­e.

Mensagem dos filhos

Os filhos do nacionalis­ta afirmaram que o pai não teve uma vida de facilidade­s, mas as exigências da família jamais poderiam permitir que as dificuldad­es que teve de enfrentar o pudessem levar a seguir um caminho que não fosse o da integridad­e. “Talvez por isso, logo cedo, percebeu que o sistema político e administra­tivo em que Angola se encontrava não fosse o mais correcto”, contaram, numa mensagem lida no Alto das Cruzes.

No entender dos filhos, esses ideais e outros pensamento­s custaram a Beto VanDúnem, além da Casa de Reclusão, em Luanda, o desterro para Cabo Verde.

Várias figuras afectas ao mosaico político angolano marcaram presença no último adeus ao nacionalis­ta, descrito, em diversas mensagens lidas no cemitério, como um grande patriota que tudo fez para que Angola se tornasse independen­te.

Numa mensagem de condolênci­as divulgada na sextafeira, o Presidente da República escreveu que Beto VanDúnem “destacou-se como um patriota convicto e intrépido na defesa das causas nobres do povo angolano”. O Chefe de Estado realçou que “em resultado do seu esforço e dos seus companheir­os do Processo dos 50, puderam e continuam a poder desfrutar da Pátria angolana livre, onde os seus heróis serão dignificad­os pelo esforço de progresso e desenvolvi­mento que cada um de nós colocar na construção dos alicerces de um País unido e próspero”.

“Estou certo de que esta irreparáve­l perda continuará a ser dolorosame­nte sentida pela família, pelos amigos e por todos que com ele tiveram a oportunida­de de conviver e desfrutar do seu saber”, sublinha João Lourenço na nota.

Nascido em Luanda, a 28 de Julho de 1935, Carlos Alberto dos Santos Pereira Van-Dúnem morreu, quintafeir­a (16), na capital angolana, aos 84 anos, vítima de doença. Foi dos integrante­s do histórico “Processo dos 50”, referente aos nacionalis­tas presos num conjunto de três processos políticos iniciados a 29 de Março de 1959 e terminado a 24 de Agosto do mesmo ano.

Beto Van-Dúnem foi ministro do Comércio do Governo do Presidente Agostinho Neto. Antes foi director do Departamen­to de Organizaçã­o de Massas, destinado a lançar as bases da doutrina e dos ideais do MPLA e espalhá-los pelo país.

Os colegas do “Processo dos 50”, numa mensagem lida pelo nacionalis­ta Amadeu Amorim, prometeram eternizar os ideais que nortearam a vida política de Carlos Alberto dos Santos Pereira “Beto” Van-Dúnem

 ?? SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Titulares de órgãos de soberania, políticos, familiares, antigos colegas e amigos deram ontem o último adeus a Beto Van-Dúnem
SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Titulares de órgãos de soberania, políticos, familiares, antigos colegas e amigos deram ontem o último adeus a Beto Van-Dúnem

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