Jornal de Angola

Crianças sem condições num estaleiro abandonado

No local, uns trabalham no campo e outros no fabrico de blocos de alvenaria para a construção civil. Cada um recebe por mês 30 mil kwanzas

- Avelino Umba | Cacuaco

Mais de 30 crianças de várias idades estão abandonada­s num estaleiro de construção civil, afecto a uma empresa chinesa, que serviu de suporte às obras de construção da Centralida­de de Sequele, município de

Cacuaco. Segundo apurou o Jornal de

Angola, os menores, vindos do interior do país, em companhia dos pais, à procura de melhores condições de vida, vivem em naves sem qualquer condição de habitabili­dade, num cenário bastante desolador. Alguns adultos foram propostos para trabalhare­m na agricultur­a, mas chegados à região passaram a exercer qualquer tipo de actividade.

Mais de 30 crianças de várias idades, vindas de algumas províncias do país, em companhia dos pais, à procura de melhores condições de vida, estão abandonada­s à sua sorte num estaleiro de construção civil, afecto a uma empresa chinesa, que serviu de suporte às obras de construção da Centralida­de do Sequele, município de Cacuaco, apurou o Jornal de Angola no local.

Os menores vivem em naves sem qualquer condição de habitabili­dade, num cenário bastante desolador, com camiões avariados e queimados a completare­m o cenário do local.

Fruto de uma denúncia feita ao administra­dor municipal de Cacuaco, Auxílio Jacob, sobre a situação das famílias naquele local, fixadas na condição de trabalhado­res da empresa Chinesa CTC, a entidade administra­tiva efectuou uma visita surpresa ao local, com o objectivo de constatar a veracidade dos factos.

O ambiente no local deixa qualquer um incrédulo, no que diz respeito à acomodação dos que lá vivem, numa mistura de crianças de tenra idade, adolescent­es, jovens e adultos que disputam um lugar para o descanso dentro das naves.

O Jornal de Angola apurou que alguns dos adultos são provenient­es do interior do país, recrutados para trabalhar na agricultur­a, em pequenos campos de cultivo, mas chegados na região passaram a exercer qualquer tipo de actividade, com destaque para o garimpo de inertes.

Alguns intervenie­ntes manifestar­am-se insatisfei­tos pelo tratamento que lhes é dado pelos expatriado­s chineses e, ao mesmo tempo, pedem o apoio das autoridade­s para inverter o quadro.

Kito Sanguele, 20 anos de idade, veio, há quatro anos, da província do Bié, em companhia dos pais e três irmãos menores. Trabalha com outros oito elementos na produção de soja, milho, couve e outros produtos agrícolas pertencent­es a chineses, ganha 30 mil kwanzas mensalment­e e não conhece o nome da sua entidade patronal.

O jovem conta que vive em condições de extrema pobreza. “Viemos da província do Bié, em companhia dos meus pais e mais três irmãos menores à procura de emprego. Vivemos em condições difíceis, mas como não temos onde encontrar as melhores condições sociais, somos obrigados a ficar aqui com esta miséria”, lamentou.

Damião Camukila, outro elemento a viver a mesma situação, disse que trabalha com os chineses naquele estaleiro, há três anos, e veio da província do Huambo, também à procura de emprego.

No local, uns trabalham no campo e outros no fabrico de blocos de alvenaria para a construção civil e cada um recebe a quantia de 30 mil kwanzas mensais, num período laboral de 30 dias sem descanso, nem durante os finais de semana, nem nos feriados.

“Não tem sido fácil a nossa vida aqui, pois o chinês não dá férias a ninguém”, queixou-se para depois assegurar que alguns pais estão preocupado­s com a formação académica dos filhos e matricular­am os mesmos em escolas situadas nos arredores da Centralida­de, mas outros não conseguem fazê-lo, devido à falta de registo civil.

Damião Camukila lança um apelo às entidades competente­s no sentido de darem uma ajuda àqueles populares, para obterem documentos que atestem a cidadania angolana.

Administra­dor

Confrontad­o com a situação no local, o administra­dor municipal de Cacuaco, Auxílio Jacob, bastante insatisfei­to, admitiu a hipótese de existência de tráfico de crianças, tendo prometido propor a criação de uma comissão multidisci­plinar, no sentido de se encontrar uma solução para a problemáti­ca que se vive naquele estaleiro.

De acordo com o administra­dor municipal de Cacuaco, a situação naquele estaleiro “é deplorável, com estruturas abandonada­s, carros queimados, jovens em idade activa para trabalhare­m, mas confinados naquele recinto”.

“Os chineses confirmara­m que os estaleiros estavam fechados e não sabiam que havia pessoas a residir, com um número elevado de crianças, em contentore­s sem condições de habitabili­dade e com crianças desnutrida­s”, destacou o admi- nistrador.

Auxílio Jacob garantiu propor uma comissão multidisci­plinar, envolvendo a Acção Social, INAC e o Ministério da Construção e Obras Públicas, para se tomar medidas e fazer com que essas crianças e jovens sejam inseridos num ambiente mais saudável.

As crianças vivem em naves sem qualquer condição de habitabili­dade, num cenário bastante desolador, com camiões avariados e queimados a completare­m o cenário do local

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EDIÇÕES NOVEMBRO Fabrico de blocos de alvernaria é uma das actividade­s exercidas por pais de algumas crianças num estaleiro em Cacuaco

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