Jornalistas revelam “engenharias” de Isabel dos Santos
Documentos a que um grupo de jornalistas teve acesso indicam que a empresária beneficiou de numerosas ilícitas oportunidades de investimentos dadas pelo pai, o ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos
Isabel dos Santos negou as acusações feitas pelo trabalho de investigação, referindo que “há um ataque orquestrado pelo actual Governo movido politicamente e completamente infundado”. A empresária disse, ainda, que as suas empresas foram alvo de um ataque informático
Uma investigação levada a cabo por um consórcio internacional de 120 jornalistas de investigação (ICIJ), de 20 países, sugere que Isabel dos Santos beneficiou de numerosas oportunidades ilícitas de investimento dadas pelo pai, José Eduardo dos Santos, ex-Presidente da República.
Os “Luanda Leaks”, assim se denomina a investigação conjunta desencadeada pelos 120 jornalistas de todo o mundo, tem 715 mil documentos, entre e-mails, contratos, auditorias e contas. Os documentos a que o consórcio teve acesso referem uma misteriosa rede com 400 companhias, muitas delas offshores, ligadas a Isabel dos Santos, ao marido, Sindika Dokolo, associados e, também, a assistência dada por parte de companhias europeias e americanas.
A documentação dá indícios de que a Sonangol vendeu a Sindika Dokolo uma participação na Galp, avaliada em 750 milhões de euros, depois de um empréstimo de 11 milhões de euros. Há, também, um total de 115 milhões de euros em pagamentos a firmas de consultorias, ordenadas por Isabel dos Santos, enquanto dirigente da Sonangol, que terá sido desviados para uma companhia do Dubai controlada pelos associados da empresária.
Uma ‘business venture’ com uma empresa estatal de diamantes que resultou, alegadamente, em 200 milhões de euros em dívida pública, sustentava uma marca de jóias suíças que eram parcialmente detidas por Sindika Dokolo, é também referida na citada investigação. Duas empresas de Isabel dos Santos e outras por si contratadas terão angariado 500 milhões de dólares de uma empresa do Dubai localizada em Luanda.
No fundamental, o consórcio de jornalistas refere que “a Sonangol vendeu a Sindika Dokolo, o marido de Isabel dos Santos, uma larga fatia da empresa mais importante do portfólio do casal: acções na Galp. O investimento de 11 milhões valorizaram de tal forma para que chegassem aos 750 milhões de euros; 115 milhões foram pagos a consultoras e enviados para contas no Dubai controladas por alguns dos associados mais próximos de Isabel dos Santos. A conta da Sonangol no Eurobic,
onde estavam 57,4 milhões de dólares, foi esvaziada um dia depois de Isabel dos Santos ser afastada da empresa estatal.
No jornal “Expresso”, que juntamente com a SIC são os órgãos portugueses que participaram nesta investigação, o jornalista Micael Pereira refere que “foi uma questão de apenas um dia, entre sair a notícia de que o conselho de administração da Sonangol tinha sido exonerado e a tomada de posse de outra.
Em Lisboa, na conta da Sonangol no Eurobic, banco de que Isabel dos Santos é a maior accionista, havia 57,4 milhões de dólares a 15 de Novembro, quando foi demitida, e no dia seguinte tinha um saldo negativo de 451 mil euros. O extracto bancário relativo ao mês de Novembro de 2017 é um dos documentos da Sonangol que foi adicionado à fuga de informação de 715 mil ficheiros que está na base do “Luanda Leaks”.
Os contornos sobre como uma transferência de última hora de 38 milhões de dólares foi feita dessa conta do Eurobic para uma no Dubai levou à abertura de um inquérito-crime pelo Ministério Público de Angola, por suspeitas de ter sido ordenada já depois de Isabel dos Santos e do seu administrador financeiro, Sarju Raikundalia, terem sido despedidos por um Decreto Presidencial de João Lourenço.
Mas essa não foi a única transferência a ser realizada no mesmo dia e com o mesmo destino. Outras duas saídas de dinheiro executadas na mesma data, 16 de Novembro de 2017, foram parar, também, à conta bancária no Emirates NBD, titulada pela Matter Business Consulting DMCC, uma companhia off-shore controlada por Jorge Brito Pereira, advogado de Isabel dos Santos, e gerida pelo seu braço direito, Mário Leite da Silva. Ao todo, foram 58 milhões de dólares. Três saídas consecutivas de dinheiro, na sequência de uma transferência anterior, de 11,9 milhões de euros.
Os resultados obtidos pelo “Luanda Leaks” continuarão a ser divulgados nos próximos dias em todo o mundo, sendo de prever que venham a ser desencadeados vários processos-crime contra Isabel dos Santos, consoante os negócios menos claros em que se tenha envolvido nos diferentes países.
Isabel dos Santos negou as acusações feitas pelo trabalho de investigação. “Há um ataque orquestrado pelo actual Governo movido politicamente e completamente infundado”, refere a empresária, num comunicado à BBC Africa. Isabel dos Santos diz ainda que as suas empresas foram alvo de um ataque informático.