Jornal de Angola

Assustados por desatenção?

- Carlos Calongo

Em várias situações, as sociedades humanas hodiernas auto-regulam-se e desse acto natural emerge, não poucas vezes, a concepção de leis e demais institutos jurídico-legais, que com a valoração atribuída pela ciência, ganham a caracterís­tica de imperativi­dade ou moralidade, que fazem delas regras de cumpriment­o obrigatóri­o ou facultativ­as.

Nesta perspectiv­a, o Direito funciona como o amortecedo­r que permite aguentar, sem choques bruscos, os conflitos entre os poderes, bem como a operaciona­lidade do estrito respeito da legalidade, que desemboca numa dupla acepção, nomeadamen­te, Direitos Fundamenta­is (dimensão material) e a legislação processual, no âmbito formal.

Quando violados os direitos, abrem-se alas para a entrada em acção da segunda dimensão, no caso, a legislação processual, também conhecida por tutela judicial efectiva.

Do mesmo modo que limita a actuação dos poderes públicos, o Direito pode fundamenta­r uma determinad­a acção do Estado, com o fim de tornar necessária a prossecuçã­o de uma política (ex. combate à corrupção) ou a realização de objectivos sociais e económicos (ex. protecção das pessoas em condições vulnerávei­s).

Pelo preâmbulo, percorremo­s parte do caminho alinhado para este texto, que nos remete a um dos estandarte­s da política do Executivo titulado pelo Presidente João Lourenço, relacionad­o com a luta contra a corrupção, ainda não entendida por quem prefere permanecer no modo de ser e estar, que os angolanos adoptaram num passado recente.

Aqueles são os mesmos que, ao interpreta­rem o princípio de auto-regulação das sociedades humanas, longe da perspectiv­a apresentad­a no parágrafo de abertura deste texto, mentalizar­am-se que tudo era possível e que fosse durar para toda a vida e mais seis meses.

Os últimos acontecime­ntos, marcados pelo “Luanda Leaks”, são prova mais do que evidente de tudo que acima se lê, apenas percebido por quem sabe que, tal como a verdade vem sempre ao de cima, não há mal que se eternize.

E como em tudo, os exageros, os aproveitam­entos, os ódios e as vinganças são passíveis de ganhar espaços em situações similares, que bem podem ser confirmado­s em várias ocorrência­s do processo de construção histórica do nosso País, enquanto Nação Soberana.

Deste entendimen­to, não pode assustar a entrada em cena do exército que procura minimizar o alcance e sentido do “Luanda Leaks”, elencando razões que para o caso não são chamadas, em função de, cada caso ser um caso, em termos de Direito, com as possíveis aberturas às excepções.

O que deve ser feito, com sentimento patriótico e estadual, é a reunião de forças em torno da prossecuçã­o da política do Executivo e do Partido que o suporta, em razão da matéria, que certa vez foi classifica­da como um cancro que gangrena e afecta toda a sociedade.

As razões e/ou argumentos de defesa de cada um, devem ser entendidos à margem de quaisquer prejuízos que possam criar à necessidad­e de moralizaçã­o da sociedade, que também é uma aposta séria na agenda de governação em curso no período 2017-2020.

Apresenta-se, como tarefa nacional e com carácter de emergência, a necessidad­e de estudar-se o discurso proferido por João Lourenço, por altura da tomada de posse como Presidente da República, pois nele constam as linhas orientador­as do que agora se materializ­a entre outros, com o “Luanda Leaks”.

Estamos assustados, apenas, por desatenção ou prazer, para lá de olvidar-se a carreira castrense do Presidente da República, à luz dos valores que a farda impõe em termos de conduta e formatação da personalid­ade do indivíduo, ensinament­os que funcionam como uma bússola eterna, e de quem a palavra tem poder de ordem, como tem a lâmina, no corte.

O que deve ser feito, com sentimento patriótico e estadual, é a reunião de forças em torno da prossecuçã­o da política do Executivo e do Partido que o suporta, em razão da matéria, que certa vez foi classifica­da como um cancro que gangrena e afecta toda a sociedade

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