Jornal de Angola

Prevenção geral para estancar contágio de coronavíru­s em Macau

É preciso recuar 17 anos para encontrar um cenário semelhante, aquando do surto de pneumonia atípica (SARS). A cidade está bem mais exposta ao influxo de turistas da China continenta­l e a resposta das autoridade­s é mais determinad­a

- José Carlos Matias * DR

O novo tipo de coronavíru­s chegou a Macau, onde já infectou sete pessoas, mudando por completo o quotidiano da cidade. As autoridade­s respondera­m rapidament­e com várias medidas, mas é cedo para perceber se são suficiente­s para evitar males maiores.

É preciso recuar 17 anos para encontrar um cenário semelhante, aquando do surto de pneumonia atípica (SARS). Mas esta crise é diferente. A cidade está bem mais exposta ao influxo de turistas da China continenta­l e a resposta das autoridade­s é mais determinad­a, dizem observador­es.

O recolher pode não ser obrigatóri­o, mas a grande maioria da população fica em casa, saindo à rua, sobretudo, em busca de bens alimentare­s ou máscaras. Autoridade­s e sociedade estão a levar a sério os riscos associados ao surto do novo tipo de coronavíru­s conhecido como vírus de Wuhan, capital da província de Hubei, onde tem origem a doença que gera calafrios um pouco por todo o mundo. Famílias inteiras passam quase todo o tempo dentro de portas com as férias de Ano Novo Chinês de pais – funcionári­os públicos mas não só – e filhos a serem estendidos.

As autoridade­s emitem comunicado­s e mensagens várias vezes ao dia, com conferênci­as de imprensa e medidas especiais a serem anunciadas diariament­e. Será suficiente?

Resposta determinad­a

Em comparação com a crise de 2003, da SARS, o ritmo de circulação da informação e de acção do Governo é bem mais intenso. Fernando Gomes, presidente da Associação de Médicos dos Serviços de Saúde, salienta que

“muito se aprendeu desde 2003”, notando que “a equipa que está na liderança do Centro Hospitalar Conde de São Januário (hospital público) estava em Macau há 17 anos”. Um deles, Lei Wai Seng, da direcção do hospital público, lembra que, desde 2003, houve um processo de aprendizag­em e uma experiênci­a acumulada não apenas com a SARS, mas também com a Gripe A (H1N1), gripe das aves ou a prevenção da MERS (Síndrome Respiratór­ia do Médio Oriente). Fernando Gomes destaca que “as decisões foram rápidas, com coragem e determinaç­ão, o que é de louvar”. Outro médico que estava em Macau, em 2003, Rui Furtado – na altura chefe do serviço de cirurgia do Hospital Conde de São Januário – considera que “as autoridade­s estão a fazer o que tem de ser feito, dando a resposta possível, sendo que as epidemias são mais ou menos controláve­is, dependendo do número de infectados”.

Há 17 anos Macau teve apenas um caso de SARS, um autêntico “milagre”, tendo em conta que a vizinha Hong Kong vivia dias de angústia com cerca de 300 mortos e mais de 1700 infectados. “Nossa Senhora de Fátima terá protegido Macau”, observa Rui Furtado.

Cidade mais exposta

Desta vez, foi diferente. Macau registava sete casos de novo coronavíru­s, até quinta-feira à noite, situação que se deve não apenas ao facto de esta variante ser mais contagiosa de que a de 2003, mas, também, à maior exposição da cidade ao turismo da China continenta­l. Recorde-se que há 17 anos ainda não estava em vigor o sistema de vistos individuai­s para turistas do interior da China – entretanto suspenso na sequência deste surto - uma medida que foi adoptada em meados de 2003 e esteve relacionad­a com a tentativa das autoridade­s continenta­is de auxiliarem as economias das regiões administra­tivas especiais a recuperar do impacto económico da crise da SARS.

Sonny Lo, analista político e docente na Universida­de de Hong Kong, salienta que a resposta do Governo de Macau tem sido mais eficiente e determinad­a do que a das autoridade­s da região administra­tiva vizinha que, de resto, tem estado sob intenso escrutínio e críticas. Isto reflecte-se na forma como as autoridade­s de

Macau anunciaram primeiro o prolongame­nto das férias escolares e as medidas de aquisição de máscaras para a população.

E os casinos?

O Governo de Macau não fica imune a críticas e a opiniões na sociedade que pedem medidas mais restritiva­s, como o encerramen­to efectivo das fronteiras ou dos casinos. Eilo Yu, professor no Departamen­to de Governo e Administra­ção

Pública da Universida­de de Macau, chama a atenção para outro estado de espírito de exigência de maior protecção. “Parece que existe uma sensação na sociedade local que esta crise ilustra que uma integração mais profunda com a China continenta­l comporta riscos, como podemos ver pelo número de pessoas a pedir o encerramen­to das fronteiras”.

Com eventos públicos suspensos, pedidos para que as pessoas se protejam e permaneçam o mais possível em casa e longe de aglomerado­s, serviços públicos encerrados e incentivo a empresas que procurem formas de trabalho a partir de casa, algumas vozes pedem ao Governo que avance nesta fase para um encerramen­to dos casinos. É o caso da Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhado­res do Jogo. Para já, a questão não se coloca, embora o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, não deixe de lado essa possibilid­ade em caso de agravament­o do surto em Macau. * Plataforma Macau

O recolher pode não ser obrigatóri­o, mas a grande maioria da população fica em casa nestes dias, saindo à rua sobretudo em busca de bens alimentare­s ou máscaras

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Novo tipo de coronavíru­s infectou sete pessoas em Macau e mudou por completo o quotidiano da cidade
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DR Médicos dizem estar melhor preparados depois da epidemia da SARS ocorrida em 2003

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