Mais dúvidas que certezas sobre o coronavírus
A investigação à origem da nova pneumonia que surgiu na China continua, mas até ao momento persistem mais dúvidas do que certezas sobre o vírus. O número de mortos pela epidemia subiu para 427 e o de infectados chega a 20.600
Foi detectado na cidade chinesa de Wuhan, há um mês, mas depressa se alastrou. Chegou a Macau, Hong Kong, Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Itália, Reino Unido, Austrália, Finlândia, Emirados Árabes Unidos, Camboja, Filipinas e Índia. O número de mortos provocados pelo novo coronavírus subiu ontem para 427, segundo as autoridades de Pequim, com Hong Kong a registar a primeira vítima mortal. O total de pessoas infectadas com o novo coronavírus detectado em Dezembro passado, em Wuhan, capital da província de Hubei (centro), colocada sob quarentena, ultrapassa os 20600. A doença já se espalhou por mais de 20 países.
É menos mortal do que outros vírus identificados como pertencendo à mesma família, mas, pelo contrário, o processo de contágio é mais rápido, dizem os especialistas envolvidos na investigação da pneumonia. Ainda não conseguem responder com clareza às perguntas sobre a origem do novo coronavírus, nem à forma como é transmitido, mas a vacina de combate ao mesmo entrará em breve em fase de testes.
Sintomas?
Febre, dor, mal-estar e dificuldades respiratórias. Os sintomas são semelhantes aos de gripe, mas mais intensos. Entre os primeiros casos confirmados, 90% apresentaram febre, 80% tosse seca, 20% falta de ar e cerca de 15% dificuldade em respirar. Crê-se que o período de incubação (quando o vírus ainda não é detectado) demore entre um dia e duas semanas.
Como se transmite?
O vírus transmite-se pela via respiratória e há evidências de contaminação de pessoa para pessoa, mas ainda não se sabe se é apenas propagado pelo ar ou também através do contacto. Como "não sabemos exactamente de onde vem, não entendemos como é transmitido e como se expressa", admitiu Daniel A. Kertesz, representante da Organização Mundial da Saúde, na Tailândia.
Desconhece-se ainda se o coronavírus afecta igualmente todo o tipo de pessoas, desde adultos a crianças, doentes ou pessoas saudáveis, e quais as características exactas que levam à morte por este tipo de pneumonia.
O tratamento
Não existe um medicamento específico para o novo vírus. Os doentes estão a ser tratados com os mesmos métodos usados para combater habitualmente a febre ou a dificuldade respiratória.
Está a ser desenvolvida uma vacina por uma equipa de investigadores chineses do Hospital Oriental de Xangai. De acordo com a agência estatal Xinhua, os testes deverão começar num prazo máximo de 40 dias, no entanto ainda não há data prevista para a chegada ao mercado.
Máscaras não são 100% eficazes
Não há nenhum método infalível na prevenção da pneumonia. Apesar disto, a OMS tem aconselhado uma lavagem cuidada das mãos, a utilização de desinfectante e o uso de máscaras de protecção de vias respiratórias, para evitar o contágio através de um espirro. O que não "dá 100% de garantia. A sua eficácia não está comprovada", afirmou Satoshi Hiroi, do Instituto de Saúde Pública de Osaka, citada pela AFP, depois de o Ministério da Saúde francês ter dito o mesmo. Estas máscaras não estão completamente presas ao rosto e, por isso, é possível que o vírus consiga passar a barreira e ser inalado.
A principal tentativa para travar o vírus é feita na cidade de Wuhan, que está isolada. Foram canceladas todas as rotas dos transportes públicos, os voos e foi pedido aos cidadãos que permanecessem em casa. Nos últimos dias, disparou o consumo de máscaras descartáveis nos países onde o vírus se manifestou e não só.
A Mongólia e Hong Kong encerraram as fronteiras com a China. Há países a proibirem voos da companhia aérea chinesa de aterrar e outros a repatriar os seus cidadãos (Estados Unidos, Japão, Sri Lanka, Austrália e França.
A origem da doença
A pneumonia que emergiu na cidade chinesa de Wuhan há cerca de um mês é provocada por um novo coronavírus, anteriormente desconhecido da ciência. Foi baptizado como 2019-nCoV e tem sido comparado à epidemia global da síndrome respiratória aguda (SARS, na sigla em inglês), que aconteceu em 2002 e 2003. Fez 774 vítimas mortais, em mais de oito mil casos.
A origem do coronavírus, assim chamado devido à sua forma, que faz lembrar uma coroa, ainda é desconhecida. Sabe-se que o surto emergiu a partir de um mercado de venda de peixe fresco e marisco e outros animais vivos, incluindo espécies selvagens, como morcegos e cobras.
O mais provável é que a fonte original do agente patogénico seja uma das espécies selvagens, à semelhança do que aconteceu na epidemia de SARS, em que o reservatório do respectivo coronavírus, como depois se verificou, eram as civetas, um gato selvagem. Neste momento, porém, os investigadores não conseguiram ainda determinar de que animal provém o novo coronavírus, que passou a barreira de espécies e começou a infectar os humanos.