Jornalista critica presença de políticos no jornalismo
O jornalista Ismael Mateus criticou na quarta-feira, em Catete, município de Icolo e Bengo, o exercício cumulativo de actividades políticas e jornalísticas numa única pessoa, por esta dupla função chocar com o bom exercício do jornalismo.
O antigo secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos advertiu que “os dirigentes e membros activos de partidos políticos não ficam bem na imprensa, porque os interesses políticos chocam com o posicionamento de imparcialidade que o jornalismo impõe”.
Para o também docente universitário, a situação é ainda mais preocupante quando um indivíduo que defende isenção no jornalismo, até faz noticiários, dias depois aparece a promover as cores de um determinado partido político. “Isso tem implicações directas na respeitabilidade, na credibilidade e na liberdade de imprensa”, alertou.
Em função de tais incompatibilidades, Ismael Mateus é a favor de uma separação pura e clara entre os poderes políticos e editoriais, tendo sido mesmo austero ao defender que “tudo que for político não pode estar na comunicação social, formalmente”.
Desde então, recordou, os políticos têm uma certa apetência pela tomada e controlo da imprensa, ao ponto de converterem a designação “quarto poder”, que os jornalistas adoptaram para a fiscalização, em “o quarto do poder”.
Noutra vertente, face aos poderes corporativos, o professor do curso de Comunicação Social da Universidade Agostinho Neto acusou os assessores de imprensa de serem, actualmente, dos maiores inimigos da liberdade de imprensa.
Para justificar o seu ponto de vista, referiu que os assessores de imprensa agem corporativamente no sentido de condicionarem os jornalistas, principalmente quando eles próprios chegam a escrever, inclusive, as matérias para os repórteres, sugerindo a publicação da peça de acordo com o texto por si escrito.
Na pressa de darem as notícias em primeira mão, disse que, infelizmente, verifica-se, cada vez mais, jornalistas que interferem menos nos conteúdos recebidos dos assessores de imprensa, assim como sobem as relações promíscuas com os responsáveis desses gabinetes de assessoria. “Este facto está a minar a acção do jornalista, que está a transformar-se em correia de transmissão de ideias ou em instrumento manipulado nas mãos dos assessores”, lamentou o orador do tema “Comunicação Social ao serviço da cidadania e da democracia”, no 14º Conselho Consultivo do Ministério da Comunicação Social.
Ismael Mateus defendeu, igualmente, a necessidade de se equacionar a responsabilidade dos Conselhos de Redacção, para que possam ajudar a reforçar o papel do jornalista e dos decisores editoriais, que podem, mesmo não sendo vinculativos, assegurar o cumprimento dos estatutos e das regras editoriais face à interferência perniciosa do dono da empresa de comunicação.