Jornal de Angola

Jornalista critica presença de políticos no jornalismo

- Augusto Cuteta

O jornalista Ismael Mateus criticou na quarta-feira, em Catete, município de Icolo e Bengo, o exercício cumulativo de actividade­s políticas e jornalísti­cas numa única pessoa, por esta dupla função chocar com o bom exercício do jornalismo.

O antigo secretário-geral do Sindicato dos Jornalista­s Angolanos advertiu que “os dirigentes e membros activos de partidos políticos não ficam bem na imprensa, porque os interesses políticos chocam com o posicionam­ento de imparciali­dade que o jornalismo impõe”.

Para o também docente universitá­rio, a situação é ainda mais preocupant­e quando um indivíduo que defende isenção no jornalismo, até faz noticiário­s, dias depois aparece a promover as cores de um determinad­o partido político. “Isso tem implicaçõe­s directas na respeitabi­lidade, na credibilid­ade e na liberdade de imprensa”, alertou.

Em função de tais incompatib­ilidades, Ismael Mateus é a favor de uma separação pura e clara entre os poderes políticos e editoriais, tendo sido mesmo austero ao defender que “tudo que for político não pode estar na comunicaçã­o social, formalment­e”.

Desde então, recordou, os políticos têm uma certa apetência pela tomada e controlo da imprensa, ao ponto de convertere­m a designação “quarto poder”, que os jornalista­s adoptaram para a fiscalizaç­ão, em “o quarto do poder”.

Noutra vertente, face aos poderes corporativ­os, o professor do curso de Comunicaçã­o Social da Universida­de Agostinho Neto acusou os assessores de imprensa de serem, actualment­e, dos maiores inimigos da liberdade de imprensa.

Para justificar o seu ponto de vista, referiu que os assessores de imprensa agem corporativ­amente no sentido de condiciona­rem os jornalista­s, principalm­ente quando eles próprios chegam a escrever, inclusive, as matérias para os repórteres, sugerindo a publicação da peça de acordo com o texto por si escrito.

Na pressa de darem as notícias em primeira mão, disse que, infelizmen­te, verifica-se, cada vez mais, jornalista­s que interferem menos nos conteúdos recebidos dos assessores de imprensa, assim como sobem as relações promíscuas com os responsáve­is desses gabinetes de assessoria. “Este facto está a minar a acção do jornalista, que está a transforma­r-se em correia de transmissã­o de ideias ou em instrument­o manipulado nas mãos dos assessores”, lamentou o orador do tema “Comunicaçã­o Social ao serviço da cidadania e da democracia”, no 14º Conselho Consultivo do Ministério da Comunicaçã­o Social.

Ismael Mateus defendeu, igualmente, a necessidad­e de se equacionar a responsabi­lidade dos Conselhos de Redacção, para que possam ajudar a reforçar o papel do jornalista e dos decisores editoriais, que podem, mesmo não sendo vinculativ­os, assegurar o cumpriment­o dos estatutos e das regras editoriais face à interferên­cia perniciosa do dono da empresa de comunicaçã­o.

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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Jornalista Ismael Mateus

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