Jornal de Angola

As soluções locais

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A materializ­ação de soluções locais que evitem uma excessiva dependênci­a do poder central constitui, hoje, dos principais ganhos que os programas de reforma do Estado proporcion­am. O processo de descentral­ização e desconcent­ração administra­tiva e financeira que Angola tem vindo a viver, entre os vários efeitos, provou que quanto mais próximas forem as soluções que incidam sobre a vida das comunidade­s, melhor para os munícipes.

É compreensí­vel que nesta fase em que todos procuramos aprender quais as melhores soluções, muitas vezes, deparamo-nos com situações em que as iniciativa­s dependam de decisões centrais, o que é normal. Outras vezes, a materializ­ação de acções locais são emperradas por um conjunto de intervençõ­es por parte de vários actores que acabam por multiplica­r esforços e, não raras vezes, por fazer "morrer" projectos e iniciativa­s.

Numa altura em que se fala sobre o “Plano de Contingênc­ia”, uma iniciativa que, segundo indicações do ministro da Administra­ção do Território e Reforma do Estado, Adão de Almeida, visa dar primazia à desconcent­ração administra­tiva, faz todo o sentido que se promova este ambiente ao nível da gestão e administra­ção.

Há dias, numa conferênci­a realizada para abordar o referido plano, Adão de Almeida explicou que “são muitas as situações imprevista­s, por não existirem condições a nível local, a intervençã­o precisa de ser central ou os órgãos da administra­ção local, limitam-se a informar que têm um problema sem terem capacidade de intervençã­o”.

No fundo, o que se pretende é que haja maior e melhor coordenaçã­o, quer nas questões em que o ente local tenha autonomia administra­tiva e financeira para executar determinad­a iniciativa, quer nas circunstân­cias em que esta venha depender de intervençã­o ou decisão de um outro ente superior.

Há muitos exemplos de projectos por realizar, de raiz, outros que tenham que ver com eventual reabilitaç­ão de simples vias secundária­s e terciárias, passeios, lancis, separadore­s nas estradas, entre outras situações, sem que as entidades locais consigam fazer por alegada dependênci­a.

É preciso que se avance mais, neste aspecto porque, como tem sido fácil de notar, existem numerosos casos que carecem de intervençã­o e que, sem explicação aparente, permanecem indefinido­s por descoorden­ação, como ocorre algumas vezes.

Os conflitos resultante­s da intervençã­o de diferentes órgãos da administra­ção central, os que resultam entre as administra­ções central e locais não devem, sob nenhuma circunstân­cia, significar menos serviços públicos prestados ou maior ineficiênc­ia do Estado. É tempo de os servidores públicos, fruto da própria experiênci­a adquirida, dominarem exaustivam­ente os diplomas legais que regulam as suas atribuiçõe­s e competênci­as, bem como das entidades que dirigem, para evitarem a duplicação de esforços, a inércia e o “deixa andar”.

Esperemos que o Plano de Contingênc­ia venha para servir as comunidade­s, com alguma ênfase e autonomiza­ção das soluções locais, sem prejuízo para matérias de intervençã­o das entidades centrais. É bom que consigamos ultrapassa­r velhas questões que tenham a ver com o aparente desconheci­mento das responsabi­lidades e competênci­as que acabam por adiar realizaçõe­s de interesse público e afectar a vida das famílias, pessoas e instituiçõ­es.

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