Jornal de Angola

Os meus pais encontrara­m a pobreza

Você parece que não vive aqui no mbila. Eles não vieram aqui, com muitos jornalista­s, a garantirem que podiam requalific­ar o bairro, incluindo o B.O. e o Zenga, que o dinheiro já estava disponível, mas até hoje estamos a ver apenas o que o colono nos deix

- Pereira Dinis FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO | ARQUIVO

Os mais velhos pensam que alguns nguvulos (governante­s) continuam a passar dianzala (fobados ou sem recursos), como disse um músico no “Fala Angola”, mas para o Kinama isso leva os pobres a continuare­m a ser a reserva moral do maioritári­o.

Mamungua, que decidiu se desligar completame­nte dos assuntos políticos do país, é sempre o alvo destas makas. Como os avilos (amigos) já sabem dessa dica então no sábado, Mamungua e a ngavive (esposa), como manda a regra do comba (desfecho do óbito), enquanto atendiam os muzangalas (pessoas que foram chorar o último dia do óbito), é que o Rassaça e o Panhanha, embora distante da maralha (da parada) decidiram mabussar (falar) sobre política.

Ao invés de mabossarem em calanga (falar baixo) gritavam e como se não bastasse saiam do mbaxi (sítio) onde estavam para pedir opinião dos muzangalas de Mamungua e dos avilos deles.

O Rassaça, como anda futucado (nervoso) com os diquindos (aldrabices) do antigo Executivo lembrou. - Naquela altura, fomos bem dobrados (enganados) e ainda por cima batíamos palmas.

“O miúdo Santocas cantou, e bem, que nos correram dali como se fossemos bois e nos deram casas sem quintal”

- Fomos dobrados como? Perguntou o Panhanha. O Rassaça, não esperou e respondeu: - Você parece que não vive aqui no mbila (Sambizanga). Eles não vieram aqui, com muitos jornalista­s, e estão aí, a garantirem que podiam requalific­ar o nosso bairro, incluindo o B.O. (Bairro Operário) e o Zenga (Cazenga) e que o dinheiro já estava disponível, mas até hoje estamos a ver apenas o que o colono nos deixou.

O Panhanha, complicado como é, chamou de salaique (pessoa que sofre de questões mentais) e foi pedir opinião a um muadiaquim­i (mais velho em kimbundo) sobre o que estavam a mabussar.

O muadiaquim­e, conhecido na banda (bairro) de Zé das Pimpas, respondeu: - Já não tenho nada a perder nesse mundo, mas quero vos dizer uma coisa e daqui a cem anos vão me dar razão. O miúdo Santocas cantou, e bem, que nos correram dali como se fossemos bois e nos deram casas sem quintal. O antigo Executivo, sem ter dignidade com o seu povo, também fez isso. A verdade está no Zango.

O Rassaça retrucou: - O kota tem de ter em conta que o país naquela altura não tinha recursos financeiro­s para muitos projectos condignos.

Porém, o muadiaquim­e respondeu: - Quem disse e foi muito aplaudido pelos direitos seguidores, que o pai dele já encontrou a pobreza instalada em Angola, anda por aí. As pessoas o conhecem e sabem onde anda. A oposição fez barulho, mas não passou disso. O Parlamento, como sempre, tem uma maioria absoluta, por isso não faz, pelo menos até hoje, uma fiscalizaç­ão imparcial às instituiçõ­es públicas. Rassaça, não satisfeito com a resposta do muadiaquim­e, volta a questionar. - Mas quem disse que os pais dele já encontrara­m a pobreza aqui?

O muadiaquim­e respondeu que não foi ele e também não é ele que tem uma filha acusada, supostamen­te, de gamar (roubar) ao Estado angolano e sente-se orgulhoso pela sua filha Bebel, que zunga todos os dias nas ruas da nguimbi (Luanda), vender ovos.

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