Os meus pais encontraram a pobreza
Você parece que não vive aqui no mbila. Eles não vieram aqui, com muitos jornalistas, a garantirem que podiam requalificar o bairro, incluindo o B.O. e o Zenga, que o dinheiro já estava disponível, mas até hoje estamos a ver apenas o que o colono nos deix
Os mais velhos pensam que alguns nguvulos (governantes) continuam a passar dianzala (fobados ou sem recursos), como disse um músico no “Fala Angola”, mas para o Kinama isso leva os pobres a continuarem a ser a reserva moral do maioritário.
Mamungua, que decidiu se desligar completamente dos assuntos políticos do país, é sempre o alvo destas makas. Como os avilos (amigos) já sabem dessa dica então no sábado, Mamungua e a ngavive (esposa), como manda a regra do comba (desfecho do óbito), enquanto atendiam os muzangalas (pessoas que foram chorar o último dia do óbito), é que o Rassaça e o Panhanha, embora distante da maralha (da parada) decidiram mabussar (falar) sobre política.
Ao invés de mabossarem em calanga (falar baixo) gritavam e como se não bastasse saiam do mbaxi (sítio) onde estavam para pedir opinião dos muzangalas de Mamungua e dos avilos deles.
O Rassaça, como anda futucado (nervoso) com os diquindos (aldrabices) do antigo Executivo lembrou. - Naquela altura, fomos bem dobrados (enganados) e ainda por cima batíamos palmas.
“O miúdo Santocas cantou, e bem, que nos correram dali como se fossemos bois e nos deram casas sem quintal”
- Fomos dobrados como? Perguntou o Panhanha. O Rassaça, não esperou e respondeu: - Você parece que não vive aqui no mbila (Sambizanga). Eles não vieram aqui, com muitos jornalistas, e estão aí, a garantirem que podiam requalificar o nosso bairro, incluindo o B.O. (Bairro Operário) e o Zenga (Cazenga) e que o dinheiro já estava disponível, mas até hoje estamos a ver apenas o que o colono nos deixou.
O Panhanha, complicado como é, chamou de salaique (pessoa que sofre de questões mentais) e foi pedir opinião a um muadiaquimi (mais velho em kimbundo) sobre o que estavam a mabussar.
O muadiaquime, conhecido na banda (bairro) de Zé das Pimpas, respondeu: - Já não tenho nada a perder nesse mundo, mas quero vos dizer uma coisa e daqui a cem anos vão me dar razão. O miúdo Santocas cantou, e bem, que nos correram dali como se fossemos bois e nos deram casas sem quintal. O antigo Executivo, sem ter dignidade com o seu povo, também fez isso. A verdade está no Zango.
O Rassaça retrucou: - O kota tem de ter em conta que o país naquela altura não tinha recursos financeiros para muitos projectos condignos.
Porém, o muadiaquime respondeu: - Quem disse e foi muito aplaudido pelos direitos seguidores, que o pai dele já encontrou a pobreza instalada em Angola, anda por aí. As pessoas o conhecem e sabem onde anda. A oposição fez barulho, mas não passou disso. O Parlamento, como sempre, tem uma maioria absoluta, por isso não faz, pelo menos até hoje, uma fiscalização imparcial às instituições públicas. Rassaça, não satisfeito com a resposta do muadiaquime, volta a questionar. - Mas quem disse que os pais dele já encontraram a pobreza aqui?
O muadiaquime respondeu que não foi ele e também não é ele que tem uma filha acusada, supostamente, de gamar (roubar) ao Estado angolano e sente-se orgulhoso pela sua filha Bebel, que zunga todos os dias nas ruas da nguimbi (Luanda), vender ovos.