Centenas são contra extradição de Assange
Várias centenas de pessoas concentraram-se, ontem, em Londres, para se manifestarem contra a extradição do fundador do Wikileaks, Julian Assange, dois dias antes da decisão judicial britânica quanto pedido dos Estados Unidos, que querem julgá-lo por espionagem.
Agitando faixas e cartazes com frases como “Não extraditem Assange”, ou “O jornalismo não é crime”, a multidão reuniu-se à volta da Embaixada da Austrália, país de origem de Julian Assange, antes de marchar pelas ruas de Londres.
“Boris Johnson, tem vergonha”, cantaram os manifestantes ao passarem por Downing Street, a residência oficial do Primeiro-Ministro britânico. Entre os apoiantes de Assange presentes na manifestação, contavam-se o ex-PrimeiroMinistro grego Yanis Varouflakis, o fundador da banda Pink Floyd Roger Waters e a estilista Vivienne Westwood.
“Eu não entendo mesmo porque é que o Julian está detido”, disse o pai de Assange, John Shipton, considerando que se tratou de “uma detenção arbitrária”.
Aos 48 anos, Julian Assange está detido na prisão de alta segurança de Belmarsh, no Sul de Londres, desde a detenção, em Abril de 2019, na Embaixada do Equador, onde se tinha refugiado durante sete anos.
Processado por espionagem nos Estados Unidos, o que exige a extradição, Assange corre o risco de ser condenado a uma pena de até 175 anos de prisão.
As autoridades norteamericanas acusam-no de ter colocado em risco as suas fontes quando publicou, em 2010, cerca de 250 mil telegramas diplomáticos e 500 mil documentos confidenciais relacionados com actividades do Exército norte-americano no Iraque e no Afeganistão.
A editora do Wikileaks em Londres, Kristinn Hrafnsson, apelou a que “se lute por Assange”, denunciando “a força das trevas” que recai sobre aqueles que querem “transparência e verdade”.
O fundador do portal Wikileaks recebeu, recentemente, o apoio da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que lançou uma petição que, até ontem à tarde, contabilizava quase 40 mil assinaturas.
Amanhã começa a audiência, em Londres, para decidir se o Reino Unido irá extraditar para os Estados Unidos o fundador do WikiLeaks.
Nos últimos dias, os advogados de Assange tentaram um pedido de asilo em França - alegando que é “o país dos direitos humanos” e o lugar onde o activista passou três anos – enquanto por todo o mundo se multiplicavam as reacções contra a sua extradição para os Estados Unidos.
A equipa de defesa de Assange, liderada pelo espanhol Baltasar Garzon, nega que as acusações remetam para questões de espionagem e procuram colocar a matéria ao nível da liberdade de imprensa e de direito de informar, ao mesmo tempo que alertam para as frágeis condições de saúde do fundador do Wikileaks.
Um advogado disse mesmo que o Presidente dos EUA, Donald Trump, lhe teria proposto um perdão, caso ilibasse a Rússia de interferência nas eleições presidenciais de 2016, na questão da divulgação de e-mails de democratas.
Mas a Casa Branca já negou essa versão e os Estados Unidos continuam a pedir a extradição.
O tema será objecto de avaliação pela juíza Vanessa Baraitser, que vai ouvir os argumentos da defesa, a partir de amanhã, em Londres.
A Amnistia Internacional pediu aos EUA para suspenderem as acusações de espionagem e ao Reino Unido não extradite Julian Assange, dizendo que se corre o risco de cometer uma grave violação dos direitos humanos.