Um povo generoso e uma data que veio para ficar
A celebração do Dia dos Namorados, uma marca de São Valentim, bispo católico muito considerado por alimentar na juventude a crença no amor e ter morrido por essa mesma causa, abriu cortinas para uma realidade. Os angolanos são sensíveis e capazes de espalhar amor, paixão e solidariedade. A festa do dia 14 de Fevereiro deste ano encontrou ambiente favorável, sustentado pela onda de solidariedade vigente no país no período antecedente. Primeiro pela corrente de união positiva criada em apoio a dor vivida pelos povos do sul de Angola, assolados por uma onde de seca sem precedentes, e depois pela partilha entre os que têm demais e os que têm de menos, na quadra natalícia e na passagem do ano. Em quase todos os lares de pessoas carentes houve festas, porque muitos se comoveram e associaram-se no propósito de não deixar aquelas pessoas passarem a data sozinhos. Mas em família. Momento que se espera não fique somente pelas datas festivas, porque está provados que o angolano é, na verdade e sem qualquer dúvida, um povo generoso.
De uma coisa é possível ter a certeza. A festa e onda de carinho por ocasião do dia dedicado à São Valentim veio para ficar, pois, não obstante a crise reinante no país, os esforços direccionados na aquisição de bens e criação de ambientes românticos alcançaram o êxito desejado. A movimentação frenética no dia pela cidade e a troca de carinhos entre pares eram muito evidentes. Para um país onde a instabilidade politico militar fixou morada durante anos a fio, o evento provou a facilidade do angolano para deixar para trás marcas negras e seguir em frente com amor, paz e harmonia. O romantismo esteve em alta e as cerimónias assumiram formas diversificadas, em sintonia com as sensibilidades da cada um.
Num ápice, a cidade vestiu-se de vermelho, com as floristas a inundarem o mercado. Era assim nas lojas e nos largos improvisados, onde se comercializavam desde flores a bebidas e comidas, assimilando a célebre mania de que no aproveitar está o ganho.
Apesar da denominação, a festa não estava reservada somente aos pombinhos. Mas para todos, adultos, jovens ou crianças, todos desceram à liça, pois, brinquedos, rebuçados e gelados também fizeram morada.
Comummente marcadas por trocas de brindes e outros presentes, oferecimento de flores, jantares românticos, viagens e festas de arromba, este ano a celebração foi marcante inusitadamente pela predominância nas reservas em hotéis e outros estabelecimentos análogos. Tão grande foi a procura ao ponto de nas vésperas do dia não haver mais disponibilidade para os apetites dos interessados. O motivo de tão grande apetência nesses estabelecimentos mantém-se oculto no segredo dos deuses, e convém que lá se mantenham, que não é da nossa conta.
As floristas e outras casas de venda de brindes foram promovendo os seus produtos, desde finais do ano passado, por via de todos os meios e canais disponíveis, com maior pendor para as redes sociais. Os preços definiram o pacote a adquirir. Quanto mais abastado o cliente, mais diversificado o bouquê de flores.
Casas especializadas procederam a entregas ao domicilio e até fizeram pacotes para cada momento e sentimento: Para pedir perdão, depois de aprontar, para reavivar uma relação conflituosa, unir a família e, inclusive, pasmem-se, para levar o par para a cama, quando isso há muito tempo não acontecia.
Os pacotes incluíam cestas café da manhã, bom dia amor, cestas de chocolate e rosas, kit de rosas com chocolate, cestas de queijo e vinhos e cestas de rosas, entre outros.
Os preços variavam em função do bolso do cliente e iam de 12 mil a 250 mil kwanzas.
Também saíram a ganhar as lojas de vendas de roupas íntimas, muito solicitadas nesse período, e as casas de realização de festas, que promoveram ambientes românticos a condizer com a efeméride, luz de velas, piscinas com flores e muito mais que alimentaram a criatividade do vendedor e o sonho e prazer do comparador do serviço.
Porém, nem tudo foram rosas, havendo relatos de casos de casais cujos pares desapareceram misteriosamente por altura da efeméride e reapareceram tempos depois, com desculpas, muitas vezes, descabidas. Óbitos e saídas em missão de serviço no interior e exterior do país e telefones furtados e avariados predominaram entre as principais desculpas apresentadas pelos faltosos.
Mas uma verdade continua evidente e inquestionável. Somos sentimentais e a data veio para ficar. Como será festejada daqui para diante, só Deus dirá, pois o futuro a Ele pertence.