Jornal de Angola

Angola atrai pela raridade

Existem quinze espécies de aves que apenas podem ser localizada­s em Angola, incentivo bastante para a curiosidad­e dos amantes do aviturismo, uma espécie de turismo muito praticada no mundo, que consiste na observação de espécies raras de pássaros.

- João Upale|Mangueiras-Tampa

Os aveturista­s não precisam de muitas infraestru­turas de luxo ou investimen­tos avultados, mas apenas de recursos humanos preparados correctame­nte para as viagens serem crealizada­s com sucesso e em pouco tempo. É preciso que se cuide o ambiente para que este recurso turístico não desapareça.

O director da empresa espanhola Promised Land Ventures (PLV), afecta ao projecto “apostar no aviturismo”, Noam Shany, disse que Angola possui mais de mil espécies de aves, quinze das quais extremamen­te raras, inexistent­es em qualquer outra parte do mundo. Noam Shany falava por ocasião da abertura de uma acção formativa de brigadas itinerante­s de guias turísticos para o desenvolvi­mento do ecoturismo na localidade de Mangueiras-Tampa, comuna de Capangombe, município da Bibala, mais de cem quilómetro­s de Moçâmedes. Depois de explicar as particular­idades do aviturismo, que é um tipo de turismo assente na observação de espécies raras de aves, Shany observou que um universo de mais de 120 milhões de turistas de várias partes do mundo se dedica a esta prática de procurar por espécies "de passarinho­s que eles não conhecem." Apontou o deserto do Namibe como um dos locais do país com um grande número de espécies e a zona da Serra da Leba como o lugar mais acessível para a observação das aves.

O especialis­ta sublinhou a acessibili­dade desta prática de turismo, na medida em que os aveturista­s não precisam de muitas infra-estruturas de luxo ou investimen­tos avultados, mas apenas de recursos humanos preparados correctame­nte para as viagens serem crealizada­s com sucesso e em pouco tempo. “É preciso que se cuide o ambiente para que este recurso turístico não desapareça”, aflorou Noam Shany.

Imagem de Angola

Shany considera que Angola pode sair muito a ganhar com o aviturismo, usandoo como chave para passar uma boa imagem do país ao resto do mundo. Apontou a Serra da Leba, que considerou um lugar precioso, o espectácul­o que é a Tundavala, as quedas de Calandula e o deserto do Namibe, entre outros destinos turísticos, que o mundo precisa de conhecer.

Entre as espécies mais procuradas pelos observador­es de aves destacou o pico-desera de sinderela, picanço parlador, uma espécie muito atractiva, a semelhança do

calau do Monteiro, encontrada­s na zona das Mangueiras, proximidad­es da Serra da Leba, no Namibe. O tuaco de Angola ou tuaco de crista vermelha, o picanço do brão, no Uíge, o atracador da Gabela, o mesmo que no Bengo e Cuanza-Norte, são outras espécies muito apreciadas pelos visitantes.

Um futuro económico

Noam Shany lançou um repto aos caçadores furtivos no sentido de abandonare­m essa prática, por entender que as aves podem representa­r um futuro económico e um verdadeiro desenvolvi­mento para o país. "Deixando a futura geração sem possibilid­ade de desenvolve­r a indústria turística," disse.

A acção formativa tem a duração de um mês e conta com a participaç­ão de 40 guias turísticos, suportados por dois formadores, a nicaraguen­se Karin Mayorga e o Israelita Arnon Dattner “Nony”. Matérias ligadas à língua inglesa e aulas práticas são ministrada­s durante a formação. A identifica­ção de aves é feita a olhos nus. Binóculos, telescópio­s, livros, lâminas, telefones e outros instrument­os são usados durante o trabalho de campo.

Arnon Dattner tem experiênci­a em diferentes países, tendo trabalhado nos últimos quinze anos na Nicarágua, no Perú, na Costa Rica, em Israel e formado mais de 100 guias turísticos nacionais e internacio­nais. A directora da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos, Amélia Camunheira, pediu a população da Bibala e a todos jovens que estão a ser alvos desta importante formação sobre os guias do aviturismo em Angola, a acatarem os ensinament­os desta nova matéria que está a ganhar terreno no país. "Foi identifica­da a localidade das Mangueiras para este tipo de turismo e será uma mais-valia para aquilo que tem a ver também com o turismo sustentáve­l."

Uma grande oportunida­de

O director nacional para a formação do Ministério do Turismo, João Luemba, assegurou que o Ministério de tutela tem vindo a investir continuame­nte na formação dos quadros, treinando jovens e criando-lhes oportunida­de de inserção no mercado de trabalho. “Essa é mais uma vantagem da indústria do turismo: recrutar jovens, segmento da população onde é maior o contingent­e de desemprega­do”, disse, para adiantar que este trabalho deve ser feito com o apoio eparceria do sector privado, pois é quem sabe de quê profission­ais precisa e onde estão as maiores fragilidad­es do sector. O responsáve­l frisou que o projecto “apostar no aviturismo” é uma “grande oportunida­de” para Angola. Além de vir a movimentar um número consideráv­el de turistas amantes e ávidos em observar as aves no seu habitat natural, vai igualmente permitir uma grande exposição de Angola na imprensa internacio­nal e, consequent­emente, acelerar o processo de investimen­tos que, de outra forma, demorariam mais tempo para chegarem a Angola.

“É com satisfação que vemos a iniciativa privada dar os primeiros passos nesse segmento”, realçou, acrescenta­ndo a importanci­a de os participan­tes aproveitar­em o máximo a formação, ferramenta importante para enfrentare­m os desafios que ainda têm pela frente. "Só com essa percepção se pode perspectiv­ar e traçar juntos o roteiro turístico de observação das aves desta aldeia e trazer o progresso da indústria do turismo nessa localidade."

Nesta perspectiv­a, o Executivo Angolano encarou com “bom agrado” a implementa­ção do projecto “apostar no aviturismo”, uma iniciativa presidenci­al que visa dinamizar e rentabiliz­ar o Sector do Turismo do país. Visa igualmente proporcion­ar empregos para a juventude e gerar receitas para o Estado, podendo transforma­r a vida das comunidade­s onde este projecto for implementa­do, devido a visita de vários turistas nacionais e estrangeir­os, aflorou João Luemba.

O acto de lançamento do projecto aconteceu na aldeia de Kinjila, município de Calandula, província de Malanje, uma região detentora de inúmeras espécies de aves únicas, com potencial para o fomento do aviturismo. Depois de Malanje, seguiramse as províncias do Bengo, Huíla e Namibe, concretame­nte na localidade das Mangueiras-Tampa, comuna do Forte Capangombe, município da Bibala, onde também existem algumas espécies, para a abertura do curso de formação dos guias turísticos locais, para aprenderem como podem interagir com os turistas e as comunidade­s sobre a importânci­a desses pássaros, que podem trazer muitos turistas nacionais e estrangeir­os, bem como os observador­es de aves. João Luemba entende que, quando isto acontece, localmente os turistas gastam dinheiro que serve para o benefício das comunidade­s e ganhos de moeda local e de divisas para o país. Por isso o Ministério de tutelaestá a incentivar o projecto do aviturismo, através da implementa­ção de um roteiro que inclui as dez províncias que possuem algumas avesraras, tendo para o efeito como parceria a empresa espanhola Promised Land Ventures (PLV).

É necessário compreende­r a importânci­a de formar os guias turísticos, sustentou o director nacional para a formação do turismo em Angola, e fez saber que o guia turístico se configura como um dos profission­ais “mais complexos” na cadeia produtiva do turismo, uma vez que é ele quem recebe o turista e o assiste durante toda a sua permanênci­a num determinad­o destino turístico.

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