Jornal de Angola

Os sonhadores

- Fragata de Morais

Há quem afirme que os sonhadores são os salvadores do mundo, talvez porque ao escutarmos as mais belas músicas, ao lermos os mais belos livros e poemas, ao nos revermos nas mais maravilhos­as pinturas, ao tentarmos entender as mais engenhosas profecias e a sabedoria universal, cheguemos à conclusão que tudo isso é possível porque houve e há gente que sonha.

E acho que isso é um facto, as realidades, os avanços conseguido­s nas sociedades, são e serão fruto do sonho de alguém que soube acreditar em si mesmo e partiu para a labuta, para a concretiza­ção do seu desejo, da sua visão, da ânsia do querer. Todas as grandes descoberta­s foram chamadas de loucuras, ou tidas sem futuro prático, mesmo as mais recentes como o automóvel o que, fazendo um parêntese, me faz recordar uma pequena fábula, quando começaram a aparecer as primeiras máquinas automotora­s, em que o burro, feliz, anunciava ao cavalo o seu fim, o homem não mais iria depender dele para a locomoção.

“Se eu me tornarei indispensá­vel como cavalo, não sei o que será de ti como burro.”

“Ora, meu amigo, tu poderás ser dispensado, mas burros sempre os haverá!”, respondeu.

Foram esses sonhadores que nos deram a nossa essência. Sem esses visionário­s, ainda se acreditari­a que a terra é plana, que não havia um Universo e sabe-se lá o que mais. Jesus Cristo não seria hoje o que É. Buda nunca teria penetrado o mundo que concebeu. Cristóvão Colombo nunca teria chegado ao novo continente, não obstante os seus desígnios serem comerciais e de direcção oposta, porque a força impulsiona­dora, para além das correntes marítimas, foi o sonho pela aventura, pela crença de que do outro lado daqueles mares certamente algo o esperaria.

Todavia, os sonhos são os espinhos da roseira e não foi sem propósito que o Cristo foi coroado com uma coroa deles. A maior parte dos grandes sonhadores pagou caro pela sua visão de um outro mundo, pela sua crença e fé numa outra ideia, pela proposta de uma alternativ­a. Grandes sonhadores, como Moisés, como Ghandi, embora seguidos, foram maltratado­s pelos que os seguiam, pois a natureza humana é invejosa e, assim, as suas gerações os sacrificar­am, de uma maneira ou de outra.

Se formos à Bíblia, entre muitos profetas, encontrare­mos Isaías, o anunciador de uma mensagem que nem sempre satisfez as coligações políticas dos chefes de Jerusalém, porque também anunciava que “o lobo habitará com o cordeiro, o leopardo deitar-se-á junto do cabrito, o vitelo e o leão pastarão juntos... o bebé brincará na toca das cobras, e a criança meterá a mão no buraco da víbora”. E o que lhe aconteceu, segundo relatos deixados? Terá sido serrado em dois.

Confúcio, cujos ensinament­os ainda hoje são referência na China, foi de igual modo um visionário que desejou um mundo melhor, confinado numa filosofia a que ele chamou a “Grande Harmonia”. Em vida foi humilhado, vexado, para mais tarde, os imperadore­s citarem as suas máximas, para o seu retrato estar em lugar de honra, para lhe serem construído­s templos e oferecidos sacrifício­s, para ser chamado de sol e lua, tal a sua glória. Assim como as asas das aves são as que sustentam o seu voo, assim é o sonho para os sonhadores, para os que sabem que não há limites que o confinem.

Esta crónica é dedicada e visa aqueles todos que sonham, que não desistem face à dura realidade, que sabem que sonhar é olhar para a frente e crer em si próprio. Estas palavras são para todos aqueles que sabem que é no ovo que está o futuro pássaro que, no meu caso, seria a bela ndua fugidia dos meus anos de menino, nas matas do Zavula.

Assim como as asas das aves são as que sustentam o seu voo, assim é o sonho para os sonhadores, para os que sabem que não há limites que o confinem. Esta crónica é dedicada e visa aqueles todos que sonham, que não desistem face à dura realidade, que sabem que sonhar é olhar para a frente e crer em si próprio. Estas palavras são para todos aqueles que sabem que é no ovo que está o futuro pássaro que, no meu caso, seria a bela ndua fugidia dos meus anos de menino, nas matas do Zavula

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